S�o Paulo, 02 - Um corte de 700 postos de trabalho pode n�o afetar de forma significativa a taxa de desemprego numa megal�pole como S�o Paulo, mas foi um duro golpe para os moradores da pequena Bataypor�, em Mato Grosso do Sul, a 300 quil�metros da capital Campo Grande. Com apenas 11 mil habitantes, o munic�pio assistiu no ano passado ao fechamento de um frigor�fico, o maior gerador de empregos da regi�o. Foi uma bola de neve: a cidade estagnou e o com�rcio local se enfraqueceu.
A deteriora��o do mercado de trabalho, efeito mais perverso da crise econ�mica, vem castigando cidades interioranas, como Bataypor�, de forma mais intensa do que nos grandes centros. De junho de 2014 a junho deste ano, o desemprego no interior cresceu 78,4% - acima do ritmo das capitais, onde o n�vel de desocupa��o avan�ou 61,5%. J� nos munic�pios que integram as regi�es metropolitanas, a alta foi menos expressiva, de 19,4%.
O levantamento, feito pela Funda��o Instituto de Pesquisas Econ�micas (Fipe) com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lios Cont�nua, aponta que o interior j� conta com um contingente de quase 6 milh�es de desempregados, que representam pouco mais de 10% de seus habitantes. J� nas capitais, 7,44% da popula��o est� desocupada. Nas regi�es metropolitanas, a taxa � de 15,04%.
O avan�o mais veloz do desemprego no interior se deve, sobretudo, ao grande impacto do fechamento de postos de trabalho em cidades menores. "Em munic�pios com poucos milhares de habitantes, o fechamento de um estaleiro, frigor�fico ou f�brica impacta a cidade de maneira muito mais intensa do que nas capitais, enfraquecendo o movimento local do com�rcio e dos servi�os", diz Alison Oliveira, pesquisador da Fipe.
Com a desativa��o do frigor�fico da Minerva em Bataypor�, em julho do ano passado, toda a economia da cidade foi abalada. "Vi oito lojas e minimercados fecharem as portas, pois muita gente vai para cidades vizinhas, como Nova Andradina, em busca de emprego ou para comprar mais barato em grandes redes", conta Luiz Pereira, dono de uma farm�cia na cidadena economia local. Nas capitais, os postos de trabalho desses setores, que puxaram o desemprego no Pa�s, representam 13% do mercado de trabalho. No interior, esses setores representam quase 24% dos empregos.
Essa fatia maior � resultado da descentraliza��o industrial que ganhou for�a no Pa�s nos anos 80 e 90, quando grandes f�bricas, antes restritas �s regi�es metropolitanas, come�aram a migrar para munic�pios mais afastados. "Grande parte do crescimento do emprego nos �ltimos anos se deu no interior, ent�o acredito ser natural que agora, quando est� havendo uma revers�o desse ciclo, que o impacto mais forte seja nessas cidades", avalia Bruno Ottoni, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Funda��o Get�lio Vargas (Ibre-FGV).
Ele lembra que os processos de interioriza��o da renda, como o Bolsa Fam�lia, estiveram por tr�s da redu��o da desigualdade nessas regi�es. "Isso gerou crescimento e tamb�m emprego em geral", observa. "Agora � esperar a retomada da ind�stria. Ela, que puxou o desemprego, dever� puxar tamb�m a recupera��o." Retomada lenta. Mesmo com o esbo�o de uma rea��o em alguns indicadores socioecon�micos, o mercado de trabalho, que hoje soma mais de 12 milh�es de desempregados, ainda deve demorar a se recuperar. O cen�rio de pleno emprego, que marcou o in�cio da d�cada, n�o deve se repetir t�o cedo nos pr�ximos anos, segundo especialistas.
Nas proje��es do Ibre-FGV, a taxa de desocupa��o, hoje em 11,8% pela Pnad Cont�nua, deve chegar a 12,4% no primeiro trimestre do ano que vem, para s� ent�o come�ar a cair. "Mesmo assim, essa queda ser� num ritmo muito lento", diz Ottoni. As informa��es s�o do jornal
O Estado de S. Paulo.