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Estado de Minas

Entenda por que a infla��o persiste no Brasil

Escalada de pre�os de produtos e servi�os deveria dar tr�gua com a recess�o, mas v�rios fatores barram queda


postado em 07/11/2016 06:00 / atualizado em 07/11/2016 09:57

Alberto Bastos viu sua compra de supermercado passar de R$ 530 para R$ 650 em um ano: aperto e redução do lazer (foto: Luís Nova/Espe.CB/D.A Pres)
Alberto Bastos viu sua compra de supermercado passar de R$ 530 para R$ 650 em um ano: aperto e redu��o do lazer (foto: Lu�s Nova/Espe.CB/D.A Pres)

Bras�lia – Ir ao cinema ou levar a fam�lia para comer uma pizza no fim de semana se tornou um luxo para o motorista Alberto Bastos, de 51 anos. Casado e pai de uma filha, ele abriu m�o do lazer para colocar comida em casa. As compras mensais no supermercado e na feira que custavam, em m�dia, R$ 530 durante o ano passado dispararam para R$ 650 em 2016. Uma alta de 22,6%. Com isso, Bastos precisou colocar as despesas na ponta do l�pis e teve de cortar o que n�o era extremamente essencial. “Tudo est� mais caro. O �nico jeito de economizar � deixar de sair com tanta frequ�ncia”, lamenta.


Assim como Bastos, milh�es de brasileiros t�m sofrido com a escalada nos pre�os de produtos e servi�os em meio a mais longa recess�o da hist�ria do pa�s. Para piorar a situa��o, os reajustes salariais s�o cada vez mais magros e a renda dos trabalhadores tem encolhido. E o que parece uma contradi��o, j� que a teoria econ�mica ensina que em per�odos de queda do Produto Interno Bruto (PIB) a carestia tende a dar tr�gua, virou uma realidade no Brasil. Mesmo com a redu��o do �ndice de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA) ao longo do ano, o ritmo est� aqu�m do necess�rio para dar um al�vio no bolso da popula��o e para acelerar o processo de corte da taxa b�sica de juros(Selic).

A situa��o fica mais dram�tica com o aumento dos riscos para a queda da infla��o. Na �ltima ata da reuni�o do Comit� de Pol�tica Monet�ria (Copom), realizada em 18 e 19 de outubro, o Banco Central (BC) apontou uma s�rie de fatores condicionantes para pre�os administrados que, em tese, poderiam favorecer o combate � carestia. O primeiro foi a mudan�a na pol�tica de pre�os de combust�veis. Em seguida, o BC citou evid�ncias que mostram a possibilidade de redu��o de tarifas de energia el�trica mais fortes que o esperado em algumas regi�es. E a perspectiva de adiamento de reajustes de pre�os do transporte urbano em algumas cidades.

O �nico risco apontado pela autoridade monet�ria foi o de reajustes acima do esperado nos custos da energia el�trica ao longo de 2017, em decorr�ncia, entre outros fatores, de mudan�a na bandeira tarif�ria. De l� para c�, a situa��o s� piorou. A Ag�ncia Nacional de Energia El�trica (Aneel) alterou o regime de verde para amarelo em novembro diante da seca no Nordeste, o que encarecer� o custo da eletricidade j� este ano. Al�m disso, a mudan�a na pol�tica de subs�dios da Petrobras �s distribu�das de g�s pode elevar o pre�o do botij�o.

Sidney Martins observou a redução da clientela, mas não teve como deixar de reajustar os preços dos produtos (foto: Luís Nova/Espe.CB/D.A Pres)
Sidney Martins observou a redu��o da clientela, mas n�o teve como deixar de reajustar os pre�os dos produtos (foto: Lu�s Nova/Espe.CB/D.A Pres)

PESOS NACIONAIS
No caso do transporte p�blico, o governo do estado do Rio de Janeiro anunciou que o valor da tarifa ser� reajustado de R$ 6,50 para R$ 7,50 a partir de 1º de janeiro de 2017. Outra medida ser� limitar o benef�cio concedido ao usu�rio a R$ 150 por m�s. Se o passageiro gastar acima desse valor, ele ou o empregador ter� de arcar com a diferen�a. A mudan�a pode ser feita por decreto, mas a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) precisa autorizar o governo a edit�-lo. Para o governo, a economia de ser� de R$ 256 milh�es ao ano.

Outra press�o inflacion�ria que deve tirar o sono do BC � a eleva��o da al�quota de Imposto sobre Circula��o de Mercadorias e Servi�os (ICMS) para v�rios setores no Rio. Um projeto de lei ser� enviado para a Alerj prevendo que, em resid�ncias com consumo de energia superior a 300 quilowatts, o percentual do imposto passar� de 25% para 27%. Moradias com dois aparelhos de ar-condicionado, geladeira, micro-ondas e m�quina de lavar se enquadram nesse perfil. A cerveja ter� 18% de imposto e o fumo, 27%. A medida afetar� ainda gasolina, refrigerantes e telefone.

Outro risco ao processo de queda da infla��o � a possibilidade de o prefeito eleito de S�o Paulo, Jo�o D�ria (PSDB), n�o conseguir cumprir a promessa de congelar as tarifas de �nibus. D�ria espera receber R$ 500 milh�es do governo federal para manter os pre�os, mas o Planalto n�o est� disposto a arcar com mais essa despesa em meio � crise nas contas p�blicas. A proposta gerou mal-estar no governo do Estado de S�o Paulo, j� que executivos do metr� destacaram que precisam de reajuste em 2017. Al�m disso, ressaltaram que a medida sempre foi tomada em conjunto com o governo estadual.



Risco para o pr�ximo ano


A economista-chefe da Rosenberg Associados, Tha�s Marzola Zara, avalia que a mediana das expectativas de infla��o para 2016 cedeu bastante nas �ltimas semanas at� chegar a 6,88%. Entretanto, ela ressalta que a maioria das proje��es dos analistas n�o contava com a eleva��o da bandeira tarif�ria da energia el�trica de verde para amarela. Nas contas dela, essa medida adiciona 0,11 ponto percentual � infla��o de novembro e dever� impactar as estimativas do mercado. “Tudo isso s�o riscos � infla��o do ano que vem, e o Banco Central precisa monitorar com cuidado os pre�os sens�veis � atividade econ�mica. Teremos surpresas pelo caminho”, alerta.


O pior dos riscos, destaca Tha�s Marzola, � outros estados decidirem adotar pacotes semelhantes ao anunciado pelo governo do Rio de Janeiro e aumentar al�quotas de ICMS para enfrentar a queda na arrecada��o e o crescimento do d�ficit or�ament�rio. Tamb�m h� preocupa��o quanto aos munic�pios, que dependem cada vez mais de repasses dos estados e da Uni�o para fechar as contas e podem elevar impostos. Entre 2012 e 2015, o super�vit prim�rio das 146 cidades com mais de 200 mil habitantes caiu de R$ 18,9 bilh�es para R$ 2,9 bilh�es, conforme dados do Tesouro Nacional. Al�m disso, 11 capitais ultrapassaram o limite de gastos com pessoal previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), de 60% da receita corrente l�quida. Essa situa��o tende a piorar nos pr�ximos anos e a obrigar prefeitos a aumentar impostos, o que ter� impacto direto ou indireto sobre a infla��o.


Outra press�o ao IPCA, destaca o economista S�lvio Campos Neto, da Tend�ncias Consultoria, � o ritmo de queda da infla��o de servi�os. Ele afirma que esse grupo tem mostrado resili�ncia, mesmo com a forte retra��o da economia brasileira. Campos Neto ressalta que a in�rcia inflacion�ria no pa�s tamb�m � enorme, j� que os reajustes nos pre�os de produtos, servi�os e contratos levam em considera��o a infla��o passada. “Esperamos que o IPCA (�ndice de Pre�os ao Consumidor Amplo) suba 7% neste ano e 5% em 2017. Mas isso pode mudar se os riscos se transformarem em realidade”, diz.


Se os pre�os de servi�os se mantiverem, o processo de queda dos juros pode ser amea�ado, avalia o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central. Ele comenta que, al�m desse desequil�brio, a autoridade monet�ria deve acompanhar com lupa os efeitos secund�rios da alta de pre�os para evitar uma dissemina��o da carestia. “Seria bastante preocupante se tiv�ssemos um sinal de que os servi�os n�o est�o caindo. Mas ainda � cedo para isso e s�o necess�rias mais evid�ncias”, ressalva.

Dono de uma pastelaria, o comerciante Sidney Martins tem sentido no bolso o reajuste nos pre�os dos produtos que precisa comprar para fazer o pastel. A especialidade da casa mais um suco custava R$ 3,50 h� dois anos e em 2016 j� est� e R$ 5. “� autom�tico: eles aumentam l� e gente tem que aumentar aqui, sen�o o lucro vai por �gua abaixo”, conta. Apesar de a venda de alimentos n�o sofrer tanto com a crise quanto outros setores, Martins comenta que o faturamento caiu. “N�o � apenas o pre�o alto que prejudica. A maioria das pessoas que costumava comprar aqui est� desempregada”, lamenta.


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