Rio, 01 - Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra, diz que o PIB do terceiro trimestre confirma que o Brasil vive uma "recess�o de balan�o". Para ele, o Pa�s n�o est� numa crise s� de confian�a, mas tamb�m de fundamentos. "E o fundamento n�o � s� o fiscal, mas tamb�m a quest�o do endividamento das empresas e fam�lias", diz.
Como o senhor viu o PIB do terceiro trimestre, com queda de 0,8% ante o segundo trimestre?
N�o deve mudar substancialmente a maneira como as pessoas estavam olhando a economia. Nossa previs�o era de -0,9%. Veio ligeiramente melhor, com uma surpresa no dado de consumo das fam�lias, que foi um pouco menos negativo do que imagin�vamos.
� um sinal positivo?
N�o altera o quadro. O consumo continua caindo h� sete trimestres. A forma��o bruta de capital fixo (FBCF, a taxa de investimentos), que depois de dez trimestres de queda teve uma pequena alta de 0,5% no segundo trimestre deste ano, voltou a ter queda muito expressiva de 3,1% no terceiro trimestre (na compara��o dessazonalizada com o trimestre anterior). � um contexto ainda claro de queda do investimento como propor��o do PIB.
O que estes n�meros sinalizam para o desempenho da economia daqui para a frente?
Nossa proje��o para o quarto trimestre � de -0,2%. Os n�meros refor�am nossa proje��o de queda do PIB em torno de 3,5% este ano. Os que acreditavam numa recupera��o mais r�pida, particularmente baseada no investimento, agora provavelmente v�o rever para baixo suas previs�es do PIB em 2017, se j� n�o o fizeram.
Qual a sua previs�o para 2017?
N�s, no Safra, estamos desde maio com uma proje��o de 0,5% para 2017, por causa do nosso diagn�stico ligado � dif�cil situa��o financeira das empresas. Hoje, nossa proje��o tem vi�s de baixa, proje��es de modelos indicam que pode ser at� pior. N�o estamos numa crise s� de confian�a, mas tamb�m de fundamentos. E o fundamento n�o � s� o fiscal, mas tamb�m a quest�o do endividamento das empresas e das fam�lias. Estamos vivendo o que os americanos chamam de "recess�o de balan�o", que tem como caracter�stica uma sa�da mais lenta, como mostram os n�meros de hoje (quarta-feira, 30). O otimismo sobre uma recupera��o mais r�pida tinha dois motivos: a melhora da confian�a, parte necess�ria, mas n�o suficiente, da retomada; e o fato de que o n�vel de estoques vinha se ajustando � demanda, o que poderia levar � sua recomposi��o.
A confian�a n�o bastou?
� evidente a import�ncia das reformas. Mas a confian�a n�o poderia gerar por si s� uma retomada sem o saneamento dos balan�os das empresas e das fam�lias, que est�o em processo de desalavancagem, de tentar reduzir o endividamento por conta da queda nos lucros e na renda. Isto significa poupar mais e gastar e investir menos.
E em rela��o aos estoques?
Da mesma forma, n�o faz sentido recompor estoques, porque uma das maneiras de desalavancar e proteger o fluxo de caixa � exatamente ter o menor estoque poss�vel. As informa��es s�o do jornal
O Estado de S. Paulo.