S�o Paulo, 22 - Em conversa telef�nica interceptada pela Pol�cia Federal em 2016, com autoriza��o judicial, investigadores da Opera��o Carne Fraca registraram a fiscal Maria do Rocio Nascimento, presa preventivamente desde sexta-feira, 17, em que ela cita o nome "Serraglio" - poss�vel refer�ncia ao ministro da Justi�a, Osmar Serraglio (PMDB-PR) - como "o velhinho que est� conosco".
A Opera��o Carne Fraca mira corrup��o na Superintend�ncia Federal de Agricultura no Estado do Paran� (SFA/PR) do Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento. No rol de empresas investigadas pela Pol�cia Federal est�o a JBS, dona da Seara e da Big Frango, a BRF, controladora da Sadia e da Perdig�o, e os frigor�ficos Larissa, Peccin e Souza Ramos. Os alvos s�o suspeitos por adultera��o ou altera��o de subst�ncia ou produtos aliment�cios, peculato, concuss�o, corrup��o passiva, prevarica��o, advocacia administrativa, falsifica��o, lavagem de dinheiro e organiza��o criminosa.
Em uma conversa com Flavio Evers Cassou, funcion�rio da Seara, controlada pela JBS, e ex-servidor do governo do Paran� cedido para o Minist�rio da Agricultura reclama sobre uma altera��o proposta no Congresso que trata sobre a fiscaliza��o de cargas animais, e diz que a proposta tinha um substitutivo do deputado federa Dirceu Speraficos (PP/RS).
"P�, mas o Speraficos? O Speraficos n�o � o velhinho que est� conosco?", pergunta Maria do Rocio. "N�o, esse � o Serraglio", completa ela. "Esse Dirceu Speraficos � um f�"
No di�logo, a investigada relata preocupa��o em ser exonerada e pede "aquilo" para Cassou.
A conversa interceptada � de 1� de fevereiro de 2016. Os dois alvos foram presos preventivamente pela Carne Fraca.
Grampo
A Carne Fraca monitorou os telefones dos investigados durante quase um ano, com autoriza��o do juiz federal Marcos Josegrei da Silva. Nas escutas, a PF registrou cita��es ao atual ministro e at� mesmo conversa com o fiscal agropecu�rio Daniel Gon�alves Filho, superintendente do Minist�rio da Agricultura no Paran� entre 2007 e 2016, apontado como um dos l�deres do esquema. Serraglio assumiu o Minist�rio da Justi�a no in�cio do m�s. O peemedebista n�o � alvo da investiga��o.
A Carne Fraca aponta Daniel Gon�alves e Maria do Rocio como os "l�deres da organiza��o criminosa".
No caso do di�logo em que o pr�prio Osmar Serraglio fala, segundo a PF, ele se refere a Daniel Gon�alves como "o grande chefe".
A PF encaminhou � Justi�a, com sugest�o para envio � Procuradoria-Geral da Rep�blica, relat�rio que cita Serraglio. Como deputado federal pelo PMDB do Paran�, o atual ministro da Justi�a det�m prerrogativa de foro perante o Supremo Tribunal Federal.
O delegado Maur�cio Moscardi Grillo, que comanda Opera��o Carne Fraca, disse que a medida foi tomada para "preservar a investiga��o".
"Dentro da investiga��o ficava bem claro que uma parte do dinheiro da propina era, sim, revertido para partido pol�tico. Caracteristicamente, j� foi falado ao longo da investiga��o dois partidos que ficavam claro: o PP e o PMDB", afirmou Moscardi, durante a entrevista coletiva de sexta, 17, ap�s a deflagra��o da Carne Fraca.
Nesta ter�a-feira, 21, a senadora K�tia Abreu (PMDB-TO) afirmou em discurso na tribuna que, no per�odo em que comandou o Minist�rio da Agricultura (2015-2016), foi pressionada por dois deputados do PMDB para n�o demitir Daniel Gon�alves Filho, o superintendente regional do minist�rio no Paran�, preso pela Carne Fraca como um dos l�deres do esquema. Um dos deputados teria sido Serraglio.
'Chefe'
Segundo a decis�o que deflagrou a Carne Fraca, "em conversa com o deputado Osmar Serraglio, Daniel � informado acerca de problemas que um Frigor�fico de Ipor� estaria tendo com a fiscaliza��o do MAPA (o frigor�fico Larissa situa-se na mesma cidade)".
O frigor�fico Larissa pertence ao empres�rio Paulo Rog�rio Sposito, candidato a deputado federal pelo Estado de S�o Paulo em 2010 com o nome Paulinho Larissa.
"Logo ap�s encerrar a liga��o, Daniel ligou para Maria do Rocio, contando-lhe que o fiscal de Ipor� quer fechar o Frigor�fico Larissa daquela localidade", informa a decis�o.
"Ele pede a ela que averigue o que est� acontecendo e lhe ponha a par. Ela ent�o obedece � ordem e em seguida o informa de que n�o tem nada de errado l�, est� tudo normal, informa��o esta depois repassada a Osmar Serraglio."
A Carne Fraca afirma que "Daniel � muito pr�ximo do dono do frigor�fico Larissa, Paulo Rog�rio Sposito, encontrando-se com ele por diversas vezes, chegando at� mesmo a utilizar o telefone celular deste para efetuar liga��es".
"Porque se entrou uma pessoa com prerrogativa de foro, na �poca o ministro era deputado federal, h� necessidade de esclarecer", declarou Moscardi. "Como no caso sentimos que n�o havia um crime por parte do ent�o deputado foi solicitado, ent�o, encaminhamento daquele procedimento ao ju�zo informando que n�o havia um crime por parte do ministro."
Moscardi ressaltou que "por cautela, tendo n�o s� ele (Serraglio), mas outras pessoas com foro que eventualmente tivessem entrado na investiga��o, foi necess�rio fazer um informe ao ju�zo".
Segundo o delegado, esse procedimento foi importante "para que depois n�o fosse questionado por parte de advogados e de outras pessoas que pudesse ter havido alguma ilegalidade da investiga��o".
Na decis�o, o juiz Marcos Josegrei da Silva, da 14� Vara Federal destaca. "Por fim, conforme bem destacado na manifesta��o ministerial, dos di�logos n�o se extraem elementos suficientes no sentido de que o parlamentar (Deputado Federal) que � interlocutor em um dos di�logos, que det�m foro por prerrogativa de fun��o, esteja envolvido nos il�citos objeto de investiga��o no inqu�rito policial relacionado a este feito ou em qualquer outro que requeira neste momento o envio de pe�as ao Tribunal competente para eventual apura��o de il�cito penal."
Defesa de Serraglio
O ministro da Justi�a e Seguran�a P�blica, Osmar Serraglio, reitera que a indica��o do cargo de respons�vel pelo Minist�rio da Agricultura no Paran� passou pelo partido. O nome de Daniel Gon�alves Filho, em 2007, surgiu do ent�o deputado Moacir Micheletto e foi chancelado pela bancada do PMDB do Paran� e l� permaneceu nos governos Lula e Dilma.
A senadora K�tia Abreu, ent�o ministra da Agricultura na �poca, reconheceu nesta quarta-feira, 22, em seu discurso que s� manteria o superintendente regional no cargo se fosse apoiado por senadores do PMDB. No caso, para o Paran�, ela exigiu a concord�ncia do senador Roberto Requi�o, o que de fato ocorreu, como ela pr�pria confessou. Assim, Daniel foi ratificado.
Sobre a resist�ncia em nomear, deu-se por haver diverg�ncias pol�ticas entre ela e a maioria da bancada, que era a favor do processo de impeachment da ent�o presidente Dilma Rousseff.
Cabe lembrar que desde a nomea��o do superintendente, sempre que um assunto envolvendo Daniel Gon�alves Filho precisou ser tratado no governo, foi feito em nome da bancada, nunca de forma individualizada. Serraglio destaca ainda que h� mais de um ano Daniel Gon�alves Filho n�o ocupa o cargo na Superintend�ncia Regional do Mapa no Paran�.
Defesa da JBS
"A JBS n�o compactua com qualquer desvio de conduta de seus funcion�rios e tomar� todas as medidas cab�veis."