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Estado de Minas MERCADO DE OPORTUNIDADES

Em tempos de crise, o terceiro setor se apresenta como uma sa�da para o novo emprego

No pa�s assolado por uma crise sem precedentes e nenhuma perspectiva de melhora real t�o cedo, esse universo se apresenta como uma excelente oportunidade de trabalho


postado em 26/06/2017 12:51 / atualizado em 26/06/2017 15:16

(foto: Freeimages)
(foto: Freeimages)

Raro s�o os profissionais que pensam no terceiro setor como op��o de carreira, com empregabilidade e remunera��o. A maioria o imagina apenas como trabalho volunt�rio. Talvez porque sua origem, no s�culo 16, com a funda��o da Santa Casa de Miseric�rdia de Santos em 1543, a primeira refer�ncia hist�rica de uma entidade do setor no Brasil, sustente esse car�ter. As pessoas s� pensam em organiza��es sem fins lucrativos, filantropia, m�o de obra volunt�ria e presta��o de servi�o p�blico. Tudo isso � verdade, mas o setor vai muito al�m. Mas n�o pense que, por ser terceiro setor, as exig�ncias s�o menores do que no segmento privado. Al�m das compet�ncias e habilidades, ele requer muito mais.

Com o objetivo de criar um f�rum de discuss�o sobre as diversas esferas e tem�ticas do terceiro setor, a Prime Talent, empresa de busca e sele��o de profissionais de m�dia e alta gest�o em toda a Am�rica Latina, conduziu entre julho de 2016 e mar�o deste ano entrevistas com 50 profissionais, entre gerentes, diretores e presidentes de distintos setores da economia brasileira, que atuam tanto no setor privado quanto no terceiro setor como volunt�rios ou como profissionais remunerados.

Foram escolhidas duas organiza��es sociais como estudo de caso: a ChildFund Brasil, organiza��o social que adota boas pr�ticas de governan�a e atua no Brasil desde 1966, e a Ramacrisna, organiza��o da sociedade civil, sem fins lucrativos, sem v�nculos religiosos ou partid�rios, fundada em 1959 pelo jornalista paraibano Arlindo Corr�a da Silva, que h� 57 anos desenvolve projetos culturais, educacionais, profissionalizantes, aprendizagem, gera��o de trabalho e renda, esporte e lazer, voltados para a comunidade em situa��o de vulnerabilidade social de Betim e 10 cidades do entorno.
David Braga, CEO da Prime Talent(foto: Arquivo pessoal)
David Braga, CEO da Prime Talent (foto: Arquivo pessoal)

David Braga, CEO da Prime Talent, explica que o terceiro setor � a pr�xima tend�ncia de mercado (ali�s, j� �) pela Agenda 2030, documento que prop�e 17 objetivos do desenvolvimento sustent�vel e 169 metas correspondentes, fruto do consenso obtido pelos delegados dos estados-membros da ONU. “As organiza��es sociais se profissionalizam para sobreviver. Caso contr�rio, n�o conseguir�o patroc�nio se tiverem uma imagem manchada ou um executivo com seu nome atrelado a uma organiza��o sem credibilidade.” Ele enfatiza que o terceiro setor tem duas vertentes: a primeira, � o que fazer em prol de uma sociedade melhor; e, a segunda, � que a empresa que n�o estiver envolvida com a responsabilidade social est� fadada ao fracasso porque ela “gera engajamento, posicionamento e fortalecimento da marca. � diferencial no mercado tanto para o investidor quanto para a m�o de obra”. David lembra que a gera��o mil�nio ou Y sabe dessa import�ncia. “Ela se envolve, est� atenta � sustentabilidade e a maior preocupa��o �, principalmente, com o meio ambiente.”

Para quem n�o imaginava, David Braga refor�a que dentro do terceiro setor h� camadas de profissionais contratados e remunerados, inclusive executivos. Al�m do voluntariado. “A empregabilidade come�ou com a capta��o de quem doasse tempo, dinheiro, enfim, doasse ao pr�ximo. Agora, h� organiza��es sociais profissionalizadas e mais estrat�gicas, com profissionais oriundos do setor privado. E isso vai se tornar cada vez mais frequente. H� esse movimento. E o terceiro setor atua em todas as �reas que o Estado n�o consegue atender: erradica��o da pobreza, boa sa�de e bem-estar, educa��o de qualidade, ind�stria e inova��o”, afirma.

COMPET�NCIAS 

 Conforme David Braga, as exig�ncias do profissional capacitado para o terceiro setor s�o as mesmas do privado. “As compet�ncias s�o quase as mesmas, j� que no terceiro setor exige-se mais compaix�o, gostar de pessoas, vis�o humanit�ria, maturidade emocional para saber lidar com as mazelas, engajamento para angariar. Ter o brilho no olhar para liderar com alta capacidade de mobiliza��o e ter conhecimento em marketing, RH, digital e finan�as, �tica, ser mediador de conflitos, propor solu��es. As compet�ncias se aproximam, mas a for�a est� na ess�ncia humana.”


David Braga explica que o grupo que faz de fato a gest�o acontecer s�o as pessoas contratadas, mais do que o voluntariado. “O setor precisa abrir o olho porque talento precisa ser pago. Por isso, essa proporcionalidade tende a inverter, j� que o terceiro setor vira efici�ncia conseguida com o know-how de profissionais com dedica��o full time. Inclusive, j� h� organiza��es com b�nus e performance. E para o profissional � interessante: ele vai integrar um setor que oferta mais qualidade de vida porque � menos estressante e menos agressivo, nem por isso menos importante, e � competitivo.” No entanto, ele reconhece que ainda n�o existe um f�rum de discuss�o para ajudar o pr�ximo. “H� um estigma sobre o terceiro setor de que � amador, desorganizado, sem processo, desprofissionalizado, sem sistema, sem tecnologia, mas � um grande engano. � um setor que tende a se consolidar, s� cresce e traz resultado para o profissional que gera uma sociedade diferenciada. Na verdade, quando mais profissionalizada, mais assertiva ser� e mais pessoas ser�o atendidas.”

 

N�o seja m�ope 

Gerson Pacheco, diretor de país da ChildFund Brasil(foto: Arquivo pessoal)
Gerson Pacheco, diretor de pa�s da ChildFund Brasil (foto: Arquivo pessoal)

“H� uma miopia do Brasil em tratar do terceiro setor, que j� movimenta R$ 25 bilh�es por ano, � um segmento robusto, mas n�o � tratado com carinho.” A declara��o � de Gerson Pacheco, diretor de pa�s da ChildFund Brasil, organiza��o social que adota boas pr�ticas de governan�a e atua nacionalmente desde 1966, por meio de uma s�lida experi�ncia na elabora��o e no monitoramento de programas e projetos sociais mobilizando pessoas para contribuir na transforma��o de vidas. Dessa maneira, crian�as, adolescentes, jovens, fam�lias e comunidades em situa��o de risco social s�o apoiadas para que possam exercer, com plenitude, o direito � cidadania. A organiza��o beneficia mais de 123 mil pessoas (sendo mais 33 mil crian�as, adolescentes e jovens atendidos diretamente). Para uma opera��o gigantesca e complexa como essa, o ChildFund Brasil conta com a parceria de 44 organiza��es sociais respons�veis, que atuam em mais de 53 munic�pios, com grandes demandas a serem superadas.

Soma-se � vis�o equivocada, o fato de a “academia n�o formar profissionais capacitados e com habilidades para o setor. A forma��o est� voltada para a assist�ncia social, sem foco em tecnologia e gest�o de finan�as. A preocupa��o ainda � a forma��o assistencial para cumprir pol�ticas p�blicas”, enfatiza Gerson Pacheco. Ele alerta que “o mundo navega no terceiro setor porque j� n�o h� mais espa�o, o v�rtice mudou, o que interessa hoje � a empresa cidad�, compromissada com a sociedade. N�o tem como uma empresa deixar de ouvir os stakeholders na sociedade onde est� inserida”.

ATOR PRINCIPAL

 Na verdade, todos precisam acordar porque “h� uma s�rie de movimentos no terceiro setor e n�o tem volta. Principalmente, na �rea socioambiental, que � o futuro. A bola da vez”, avisa Gerson Pacheco. Ele destaca que, no momento, o mundo traz o terceiro setor para o palco, n�o como coadjuvante, mas como ator principal. E para que ocorra o crescimento sustent�vel, � preciso gente.


Gerson Pacheco fala que remunera��o no terceiro setor mora em tr�s caminhos. “Aquela dos mais jovens, que abarca a remunera��o com desenvolvimento. Outra ponta � a dos executivos acima de 55 anos, j� formados e com a vida resolvida, que n�o querem assistir sess�o da tarde nem se tornar executivo dom�stico. � o que n�o precisa de remunera��o de produ��o, mas adicional e quer deixar seu legado para a sociedade. Agora, tem os profissionais na fase de produ��o, que v�o receber um sal�rio, mas n�o de ponta, m�dio. Mas com ganho para o curr�culo, � diferencial ter passado pelo terceiro setor ao longo da carreira. � um setor que todo mundo est� de olho. Sem falar que o medidor mais importante � chegar em casa e saber que est� ajudando a construir um mundo melhor. N�o tem pre�o. Esse � um dos maiores indicadores de vida.”

 

� hora do profissionalismo 

Valseni Braga, CEO da Rede Batista de Educação(foto: Arquivo pessoal)
Valseni Braga, CEO da Rede Batista de Educa��o (foto: Arquivo pessoal)
Antes de mais nada, fazer parte do terceiro setor � ser otimista e acreditar na transforma��o. Valseni Braga, CEO da Rede Batista de Educa��o, afirma que “ele est� em franco desenvolvimento com a evolu��o da �tica na humanidade e com o Brasil tomando consci�ncia, ainda mais por ter sido sempre ajudado por outros pa�ses, principalmente na d�cada de 1960, e como � nos dias de hoje. Ocorre que chegou o momento de o Brasil tomar conta dos exclu�dos da justi�a social. Mesmo como defensor do capitalismo, sei que seu ponto fraco � o processo de distribui��o. Cria riquezas r�pido, mas n�o compartilha. Por isso, � preciso cuidar de quem fica para tr�s e contribuir com o primeiro e o segundo setor”.

Valseni Braga diz que o Brasil tem um grau de sensibiliza��o muito bom e que “chegou o momento de sair do est�gio de pessoas de boa vontade para o profissionalismo. Temos recursos dispon�veis para aplicar, inclusive do mundo corporativo, porque hoje a palavra de ordem � lideran�a sustent�vel para sobreviver. A empresa que cuida do terceiro setor ajuda o mundo a ser melhor. E, do outro lado, o terceiro setor evolui, j� que tem de lidar com o marco legal, o governo at� editou legisla��es que ajudam, e o crescente grau de profissionalismo”. O que � fundamental, porque o terceiro setor precisa pensar em resultado, em produtividade, boa performance, governan�a e compliance.

Mas os desafios s�o muitos. Valseni Braga destaca a forma��o. “O Col�gio Batista Mineiro, que em 2018 completa 100 anos, tem no DNA uma institui��o comprometida com valores, �tica e car�ter do aluno para a forma��o do ser humano, ou seja, aborda o todo, o corpo, o cognitivo, o lado socioemocional e o transcendental espiritual sem doutrina. Entendemos que h� problemas na sociedade brasileira de descontinuidade nisso. Somos um conjuntos de nove escolas e uma faculdade com foco, n�o no lucro com a educa��o (nossa mantenedora s�o as igrejas batistas), mas em ajudar o mundo a ser melhor para se viver. Assim, temos uma p�s-gradua��o em direito, contabilidade e fest�o do terceiro setor que visa fortalecer o setor com disciplinas interessantes para que ele se organize cada vez mais, tenha governan�a implantada para se credenciar a receber os recursos dispon�veis. O setor precisa de profissionais com compet�ncias em todas as �reas e a academia precisa gerar know-how”, afirma.

P�S-GRADUA��O

Para Valseni Braga, aquele que quer ter futuro, tem de pensar no terceiro setor. “Ele vai expandir muito no Brasil e h� muito o que fazer por causa da desigualdade. Na �rea educacional, o desafio � enorme. As pessoas est�o na escola, mas ela � ruim, logo continuam exclu�das. H� de surgir mais empreendedores sociais para cuidar da educa��o. Profissionais por tempo integral, remunerados e tamb�m volunt�rios.”

 

Vale destacar, segundo Valseni Braga, que a institui��o, em passo importante para o futuro, “revisa o curr�culo porque pensamos em inserir disciplinas que preparem os alunos tanto para conseguir emprego no terceiro setor como para serem volunt�rios. � o nosso compromisso de que os alunos fa�am uma interven��o positiva na sociedade, n�o s� pela riqueza e fama (ainda que isso n�o seja problema)”.

 

Palavra de especialista

 Vanderlei Soela - pedagogo, psic�logo e professor-associado da Funda��o Dom Cabral

(foto: Arquivo Pessoal)
(foto: Arquivo Pessoal)
 

Dose de paix�o 

 “O terceiro setor no Brasil est� configurado h� anos e, com o passar do tempo, a profissionaliza��o tem aberto a possibilidade do espa�o ser pass�vel e vi�vel para trabalhar. Muitas organiza��es se acostumaram com o trabalho de caridade apenas, que ser� sempre bem-vindo, mas h� institui��es de diversas naturezas, com muitas possibilidades e arranjos com oferta remunerada. A quest�o � que o profissional no mercado n�o se via ou se interessava pelo setor. No entanto, h� demanda tanto pela sociedade quanto parceiros que precisam de especialistas em finan�as, marketing, processos, projetos, pessoas entre outras. O terceiro setor � um lugar para remunerar. O bacana � que, se o setor captar bons profissionais e despertar uma perspectiva de cunho social e de interesse por uma causa, o desejo de lutar e se dedicar a um ideal, o resultado n�o ser� s� financeiro. As necessidades do terceiro setor s�o semelhantes �s do primeiro e segundo, muda a natureza e a finalidade que vislumbram a transforma��o para um mundo melhor. E as organiza��es que fizerem uma gest�o benfeita, transparente, mostrando o que faz, seguramente v�o se manter por muito tempo. Conhe�o institui��es com mais de 60 anos fazendo projetos, parcerias no Brasil e exterior, sendo procuradas pelo poder p�blico e privado. � importante destacar que uma coisa n�o exclui a outra. O trabalho remunerado n�o elimina o voluntariado. E quem adota o setor precisa ter uma dose de paix�o (ou pode desenvolv�-la) pelo outro, pelo planeta. N�o � uma pessoa fria e calculista. Ao buscar o trabalho tem de ser realista, buscar informa��es sobre a institui��o para se configurar na perspectiva e se comprometer com o que tem conex�o.” 

 

 


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