
S�o Paulo – Poucos setores da economia atravessaram a recente crise brasileira com tanta desenvoltura quanto o de ensino privado. No caminho inverso da grande maioria das empresas, as escolas particulares, tanto as de ensino b�sico como as de n�vel universit�rio, fizeram investimentos, intensificaram processos de consolida��o e al�aram a ind�stria acad�mica ao topo do ranking dos mercados mais promissores e rent�veis do pa�s.



De fato, o setor conquistou dimens�es in�ditas nos �ltimos anos. Segundo o mais recente Censo da Educa��o Superior, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais An�sio Teixeira (Inep), as institui��es de ensino superior privadas somaram, em 2016, 34 mil cursos ofertados e 8 milh�es de estudantes matriculados – o equivalente a toda a popula��o da Su��a. Parece muito, mas ainda est� longe do ideal. Um dos fatores que despertaram o interesse dos investidores na educa��o � exatamente o baixo percentual de brasileiros que chegaram ao ensino superior: 14%.
Entre os pa�ses da Organiza��o para a Coopera��o e o Desenvolvimento Econ�mico (OCDE), que compila dados de 40 na��es, incluindo o Brasil, a m�dia � de 35%. Ou seja, a ind�stria do ensino particular tem potencial para dobrar de tamanho se o n�mero de adultos nas universidades brasileiras se nivelar ao de outros pa�ses.
Por tr�s do intenso movimento de expans�o no ensino privado est�o nomes j� conhecidos. O bilion�rio Jorge Paulo Lemann criou um fundo de R$ 1 bilh�o, o Gera Venture Capital, para investir em educa��o. Logo de cara, ele injetou R$ 100 milh�es para fundar a Escola Eleva, no Bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, inaugurada no in�cio deste ano e que promete se tornar refer�ncia do segmento de ensino b�sico no pa�s.
Al�m do aporte de Lemann, grandes investimentos t�m sido feitos capitaneados pelo executivo Rodrigo Galindo, presidente da Kroton, e pelo empres�rio Chaim Zaher, s�cio do Grupo SEB e maior franqueado da rede canadense Maple Bear na Am�rica Latina, al�m das gestoras Tarpon Investimentos e Bahema. “O mercado enxerga que ocorrer� uma explos�o no ensino b�sico, como aconteceu no superior nos �ltimos anos”, afirma Zaher.
Os bons resultados come�aram a atrair capital estrangeiro. � o caso do americano Alan Greenberg, cofundador da Avenues, rede global de educa��o b�sica, fundada em Nova York em 2012, e que ter� uma unidade em S�o Paulo a partir do segundo semestre de 2018. Ele est� desembolsando R$ 150 milh�es para criar uma estrutura com condi��es de ter 2,1 mil alunos. A mensalidade ser� de R$ 7 mil mensais, em m�dia. “Nossa meta � ser uma escola com mais de 20 endere�os, mas sempre com a mesma identidade. N�o ser�o diferentes escolas”, disse Greenberg. “O Brasil � o grande mercado a ser explorado para a educa��o.”
No caso do ensino superior, parte do sucesso se explica pelas recentes altera��es na legisla��o. Com o objetivo de ampliar a oferta de cursos, o Minist�rio da Educa��o (MEC) publicou, em junho, portaria que acelera e flexibiliza a implanta��o de cursos superiores na modalidade a dist�ncia. A portaria possibilita, segundo o MEC, o credenciamento das institui��es de ensino superior (IES) para cursos de educa��o a dist�ncia (EaD) mesmo sem o credenciamento para cursos presenciais. “A flexibiliza��o abre um horizonte de novas possibilidades para a educa��o no pa�s, que poder� alcan�ar locais que antes eram economicamente invi�veis para as institui��es de ensino”, diz Wilson de Matos Silva, reitor do grupo paranaense Unicesumar.
FUS�O VETADA A reprova��o pelo Conselho Administrativo de Defesa Econ�mica (Cade), em junho, da opera��o de compra da Est�cio pela Kroton Educacional, avaliada em R$ 5,5 bilh�es e que criaria um gigante do setor de ensino no pa�s, � outra not�cia que agitou o f�rtil campo do ensino brasileiro. O casamento entre as duas empresas traria concentra��o econ�mica ao mercado, de mais de 30%, diante de um limite estabelecido pelo Cade de 20%. “O veto � fus�o caiu como um alento para o setor, j� que agora a concorr�ncia est� mais protegida”, diz o economista Carlos Monteiro, diretor da Carta Consultoria, especializada em ensino.
No Brasil, a educa��o � e continuar� sendo um investimento certeiro – e de baixo risco. Mesmo com as mudan�as nas regras, boa parte das matr�culas s�o feitas pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), pelo qual o governo paga a faculdade e o aluno tem 18 meses ap�s formar para come�ar a devolver o dinheiro.
Al�m disso, segundo especialistas, em tempos de crise as fam�lias procuram dar melhores condi��es de ensino aos filhos, enquanto os alunos em idade universit�ria lutam para concluir uma boa forma��o. Nos per�odos de pujan�a econ�mica, fazem o mesmo para garantir um bom lugar ao sol no mercado de trabalho. A mesma educa��o que ajuda a construir um pa�s melhor tamb�m pode, do ponto de vista empresarial, dar lucro.
Cr�dito privado impulsiona setor
O crescimento do mercado de ensino privado cria oportunidades tamb�m para bancos e financeiras. Com um rigor maior do Minist�rio da Educa��o e da Caixa para a libera��o do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), institui��es privadas de cr�dito se tornaram alternativas aos estudantes que n�o podem pagar as mensalidades da faculdade.
No campo privado, o cr�dito universit�rio � oferecido principalmente por quatro institui��es: Bradesco, Ideal Invest (gestora do programa Pravaler Cr�dito Universit�rio, que tem o Ita� como s�cio minorit�rio), Fundaplub, institui��o que gere linhas de financiamento oferecidas pelas pr�prias universidades, e o Santander, que n�o oferece financiamento para a gradua��o, mas empresta para o pagamento de cursos de p�s-gradua��o e MBAs.
Na m�dia, o financiamento estudantil privado � mais caro do que o Fies (que tem taxa de 3,4% ao ano), mas costuma ser menos burocr�tico. No Bradesco, o �ndice m�nimo � de 28,68% anuais, ou 2,39% por m�s. A Fundaplub n�o cobra juros, apenas uma taxa de administra��o de 0,35% ao m�s, ou 4,2% ao ano.
Sob a �tica das universidades, a ideia n�o � apenas ganhar dinheiro com juros dos empr�stimos. As linhas privadas de cr�dito s�o importantes na estrat�gia de manter os alunos nos cursos. Por isso, a Est�cio e a Anima subsidiam juros no Pravaler. J� a Ser Educacional decidiu cobrar os mesmos juros oferecidos pelo Fies no Pravaler: 3,4% ao ano. Os tr�s grupos educacionais comandam diversas institui��es de ensino. No caso da Anima, est�o a UNi-BH (MG) e a S�o Judas (SP).
Apesar de os programas de cr�dito terem sido criados para estudantes, eles seguem as mesmas regras praticadas pelo mercado. Quem atrasa as parcelas dos financiamentos paga multa de 2% sobre o valor e juros de mora de 1% ao m�s ap�s 30 dias contados a partir do atraso. Se o aluno ficar inadimplente, seu nome pode inclu�do nos �rg�os de prote��o de cr�dito, como Serasa e SPC.
