S�o Paulo, 23 - Para o presidente da McKinsey na Am�rica Latina, Nicola Calicchio, ficou mais dif�cil para o Brasil atrair investimentos ap�s a reforma tribut�ria nos Estados Unidos, que cortar� impostos para empresas. A tend�ncia � que outros pa�ses sigam o exemplo, afirma. Segundo ele, o Brasil n�o pode pensar em onerar o setor produtivo para resolver a crise fiscal. "Num momento em que os EUA ficam mais atrativos, falamos em aumentar imposto. Al�! Vamos fazer o Brasil ser menos competitivo ainda?", diz. A seguir os principais trechos da entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo".
Quais os efeitos da reforma tribut�ria nos EUA para o Brasil?
Haver� impacto enorme nos outros pa�ses. � extraordin�rio para os EUA. Estimamos que ser� em torno de US$ 500 bilh�es de ren�ncia fiscal, muito menos do que tem se falado. E h� os benef�cios. Primeiro, quantas empresas deixar�o de se mudar para a Irlanda? Segundo, que � onde pega o Brasil, o retorno. A multinacional vem para a Am�rica Latina esperando retorno maior porque h� risco maior. Ela v� uma aquisi��o no Brasil com retorno de 13% ap�s impostos e compara com os EUA, onde seria 10%. Mas, quando o imposto l� cai, a taxa vai para os mesmos 13%. A atratividade relativa de se investir nos EUA fica maior. Quando h� um pa�s rico entrando num c�rculo virtuoso, as empresas t�m interesse de investir mais l�. E n�s no Brasil, num momento em que precisamos atrair capital, falamos em aumentar imposto. Al�! Vamos fazer o Brasil ser menos competitivo ainda? Na nossa vis�o, todos os pa�ses se sentir�o pressionados a criar condi��es mais favor�veis � atra��o de investimento.
O Brasil perder� mais que outros na Am�rica Latina?
Todo mundo estar� em situa��o dif�cil, mas o Brasil precisa mais, porque a taxa de poupan�a � menor. A gente tem uma dificuldade enorme de cortar benef�cios e a solu��o ent�o �: vamos aumentar impostos. Poxa, dire��o errada. O Brasil precisa diminuir imposto e n�o aumentar. O capital � livre. Ele vai para onde h� melhores condi��es. E as condi��es nos EUA v�o melhorar para empresas americanas e para as que n�o s�o americanas.
Tivemos uma experi�ncia desastrada com desonera��es e vivemos grave crise fiscal. Como falar em corte de impostos?
A solu��o passa por aumento da produtividade no Estado brasileiro com gest�o e abertura da economia. Por meio da gest�o, � poss�vel aumentar dramaticamente a arrecada��o sem elevar al�quotas de imposto. A forma como o Estado cobra hoje � absolutamente ineficiente. Trata todos da mesma forma, mas eles n�o s�o. Tem de usar tecnologia para criar base de dados e fazer an�lises que identifiquem os desvios.
O sistema hoje favorece a inadimpl�ncia de empresas?
Favorece. A carteira de d�vida ativa � enorme, a chance de voc� ser cobrado � baixa, pode-se postergar pagamento por muito tempo. E depois ainda vem o Refis (programas de parcelamento de d�bito) em condi��es muito favor�veis. O Estado de Goi�s, onde fizemos um trabalho para o governo, mostrou que voc� consegue dobrar a recupera��o da d�vida em atraso. O primeiro efeito � justi�a, porque voc� n�o tira o incentivo das empresas s�rias. O segundo � que, na hora que voc� aumenta a arrecada��o, pode gastar mais ou reduzir o imposto. H� efeito sobre o estoque antigo, mas a taxa de inadimpl�ncia tamb�m diminui.
Considerando o movimento dos EUA, o Brasil pode adotar medidas reativas de curto prazo?
Sou c�tico em rela��o a balas de prata, salvadores da p�tria. Chegamos nesse ponto no Brasil porque nos �ltimos 50 anos crescemos em fun��o de �boom demogr�fico�, e n�o de produtividade. Queremos deixar o Brasil mais atrativo, e isso � fazer um Pa�s com menos impostos. Como chegar l�, podemos discutir. Mas n�o podemos debater se temos de baixar carga tribut�ria. Para competir no mundo, � inexor�vel. N�o d� para evitar.
Temos a reforma nos EUA, taxas de juros em eleva��o l� fora. E ainda por cima teremos elei��es aqui. Como v� o cen�rio?
N�o entendo nada de pol�tica. O que sei que temos de fazer � tornar o Brasil mais atrativo comparativamente. Precisamos abrir o Pa�s. Veja a matriz de exporta��o brasileira em 2000: era predominantemente de valor adicionado, avi�es. Agora � soja. Nada contra, mas queremos ser apenas a fazenda do mundo? H� ainda outro tipo de abertura: o mundo tem um monte de imigrantes e eles s�o elementos fundamentais para o crescimento. Qual nossa pol�tica de atra��o? Quantos professores das nossas universidades s�o estrangeiros? Vemos sa�da de talentos.
H� o problema de dinheiro.
H� um monte de outras coisas para se fazer. A concess�o de vistos para profissionais qualificados deveria ser facilitada. Antigamente as na��es brigavam por terra. A guerra agora � por c�rebro. Porque o Vale do Sil�cio cresce? Porque 50% dos empreendedores s�o estrangeiros. Temos de ter uma pol�tica para atrair 50 mil s�rios, indianos, chineses altamente qualificados. Mas, n�o, a gente quer fechar, porque o Brasil � nosso, o petr�leo � nosso, � tudo nosso. Nossa mentalidade � provinciana, e n�o de um mundo globalizado, que voc� tem de atrair o melhor do mundo. Outra coisa � a educa��o para o emprego. Com a automa��o, um monte de profiss�es come�am a ser questionadas. � algo que est� acontecendo no mundo inteiro. Vemos no Brasil pouco debate, sendo um Pa�s j� altamente deficit�rio.
Como acelerar a abertura?
Passa por acordos comerciais bilaterais. Vemos a dificuldade de avan�o das rodadas multilaterais. � fundamental ter acordos bilaterais com blocos econ�micos grandes. Nada contra fazer com a Venezuela, mas nossa pol�tica externa n�o pode ser apenas isso. Ignorar os pa�ses asi�ticos, os EUA. O que a China historicamente faz? Importa, aprende e vende.
O que dizer para empres�rios que temem a abertura, porque acham que v�o quebrar?
Podemos ir por v�rios caminhos, desde que a natureza � assim mesmo, temos adapta��o, a lei do mais forte. O ser humano dominou o mundo n�o por ser mais alto ou forte, mas por ser o mais adapt�vel. Ent�o, bem-vindo ao mundo. Como dizia Guimar�es Rosa, sapo n�o pula por boniteza, mas por precis�o. � necess�rio ter uma for�a para fazer com que as empresas se mexam. As informa��es s�o do jornal
O Estado de S. Paulo.
(Renata Agostini)