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Brasileiros cruzam a fronteira para montar f�bricas de bitcoin no Paraguai

Como todo produto, a viabilidade da moeda virtual depende do custo-benef�cio de sua fabrica��o. Para os brasileiros que est�o hoje dedicados a essa atividade, o valor da conta de luz � o que mais pesa no bolso. Por isso, o Paraguai virou uma alternativa para alguns deles


postado em 31/12/2017 08:07 / atualizado em 31/12/2017 08:30

(foto: Reprodução/Flickr)
(foto: Reprodu��o/Flickr)
Foi por acaso que o cearense Rocelo Lopez, de 45 anos, ficou milion�rio. Dono de uma empresa de tecnologia, ele aceitou, em 2013, a oferta de um cliente que queria quitar suas d�vidas de uma forma nada convencional: pagaria tudo, mas com uma moeda at� ent�o desconhecida, a bitcoin. “Era pegar ou largar. Eu decidi pegar e guardar”, conta. De l� para c�, essa moeda teve uma valoriza��o de 21.000%. S� nos �ltimos 12 meses, foram 1.300%.

Nenhum outro investimento formal conseguiu essa proeza, o que provocou um frenesi em torno da novidade por parte de investidores e levantou um alerta sobre o risco de uma bolha, por parte das autoridades monet�rias. A bitcoin � uma moeda que n�o existe no mundo f�sico, como as notas que carregamos na carteira. As transa��es n�o passam por bancos centrais nem por qualquer entidade regulat�ria. � tudo virtual.

Rocelo Lopez gostou da novidade e, ao tentar entender os meandros desse instrumento financeiro, descobriu que o dinheiro pesado viria n�o da compra e venda das moedas virtuais, mas da “produ��o” delas. � o que ele faz hoje no Paraguai.

A emiss�o de bitcoins � um processo industrial, de uso intensivo de energia el�trica, ainda n�o regulamentado em nenhum pa�s. Lopez cruzou a Ponte da Amizade para reduzir custos, em busca de uma conta de luz mais barata, e acabou abrindo caminho para uma nova leva de jovens empres�rios brasileiros que atravessaram a fronteira para fabricar bitcoins.

Equa��es

Essa “produ��o” � feita por supercomputadores, equivalentes a seis videogames de �ltima gera��o cada um, que realizam c�lculos matem�ticos de alta complexidade em mil�simos de segundos. Juntas, as m�quinas est�o ligadas a uma esp�cie de rede paralela na web. Tudo isso foi desenvolvido em 2009 por um programador an�nimo de computa��o. Ele estabeleceu em seus c�digos computadorizados que, a cada dez minutos, o software da bitcoin lan�a uma equa��o matem�tica diferente na internet. O computador que desvendar primeiro a f�rmula � recompensado com um lote de preciosos 12,5 bitcoins.
Hoje, cerca de um milh�o de m�quinas funcionam ininterruptamente emitindo 3,6 mil novas unidades de bitcoins todos os dias e consumindo 30 terawatts por hora (Twh) de luz el�trica, mais do que um pa�s como a Irlanda ou a Dinamarca. Segundo dados da empresa brit�nica Power Compare, o volume de eletricidade que j� foi utilizado para colocar no mercado o estoque atual de bitcoins equivale ao consumo de 159 pa�ses por ano.

Como todo produto, a viabilidade da moeda virtual depende do custo-benef�cio de sua fabrica��o. Para os brasileiros que est�o hoje dedicados a essa atividade, o valor da conta de luz � o que mais pesa no bolso. Por isso, o Paraguai virou uma alternativa para alguns deles.

Antonio Lin, dono de uma f�brica com 350 m�quinas, conta que o custo operacional pode ser quase dez vezes mais baixo no Paraguai em compara��o com o Brasil. “Uma m�quina custa de US$ 2 mil a US$ 5 mil e, trabalhando, consegue se pagar em quatro meses, dependendo da cota��o do d�lar e do bitcoin. Mas a conta de luz, se for cara, coloca tudo a perder”, diz.

Um quilowatt custa para os fabricantes de bitcoin US$ 0,04 no pa�s vizinho. No Brasil, o pre�o da energia mais barata � sete vezes maior, em torno de US$ 0,28. Essa diferen�a se d� porque o Paraguai ainda � superavit�rio em eletricidade.

Primeiro a se instalar em Ciudad del Este, Rocelo Lopez produz 8,3 bitcoins por dia, o que rende, segundo ele, um faturamento bruto de R$ 14,5 milh�es por m�s. Hoje ele tem seis mil m�quinas em um espa�o de 750 metros quadrados. Elas consomem, por m�s, 10 megawatts de energia, equivalente a 2 mil casas paraguaias - m�dia calculada com base nos dados da Ande, a estatal respons�vel pela distribui��o de eletricidade no pa�s. “Apesar de ser um neg�cio rent�vel, a bitcoin � uma moeda vol�til. Temos de economizar bastante para n�o correr o risco de perder dinheiro”, afirma. Antes do Natal, em 24 horas, a moeda sofreu uma desvaloriza��o de 25%, com uma onda inesperada de vendas.

Hoje, tr�s grandes opera��es de minera��o est�o em atividade na Ciudad del Este. Elas dividem um mesmo condom�nio industrial a cerca de 20 km do lado brasileiro da Ponte da Amizade. A localiza��o exata � guardada sob sigilo pelos empres�rios, que temem principalmente pela seguran�a, al�m de receios com rela��o a espionagem industrial.

Sigilo

Esconder uma f�brica de bitcoin, entretanto, � uma tarefa dif�cil. O barulho do sistema de ventila��o das fontes de energia e o estalo dos HDs podem ser ouvido a um quarteir�o de dist�ncia. As f�bricas tamb�m operam sob forte calor e o respiro dos galp�es improvisados no teto e nas paredes entregam que, ali, as superm�quinas est�o em atividade. Com empres�rios jovens, sem forma��o industrial e ainda sem o dom�nio das principais tecnologias de refrigera��o, a temperatura no interior de uma f�brica de bitcoin pode facilmente ultrapassar os 50°C.

“� um inferno l� dentro”, diz Thiago da Silva Rodrigues, que tem 100 m�quinas em opera��o em um espa�o locado dentro da empresa de Rocelo, mas est� preparando um galp�o para instalar cerca de mil computadores. “O calor � sufocante, � dif�cil trabalhar”, diz Fernando Zanatta, outro empres�rio do ramo. As m�quinas de bitcoin operam com uma fonte de alta rota��o, que gera calor. “Se colocar ar-condicionado, o oxig�nio condensa no teto da empresa e a �gua vai cair em forma de chuva aqui dentro. Vamos queimar todas as m�quinas”, diz Antonio Lin.

Para n�o contratar profissionais especializados e correr o risco de ter seus segredos desvendados, os brasileiros que foram “fabricar” bitcoins no Paraguai lan�aram m�o de solu��es caseiras e improvisadas para amenizar problemas como o da temperatura: criaram um t�nel de vento com uma parede de radiadores refrigerados e fizeram buracos no teto para a troca de ar, por exemplo. Nenhum deles tem forma��o para lidar com um processo fabril do porte que a atividade de emiss�o de moedas virtuais exige. S�o programadores, administradores de empresas e cientistas da informa��o que mudaram de rumo para apostar no bitcoin.

Em meio aos altos e baixos desse novo mercado, a empreitada no pa�s vizinho parece estar dando certo para esse grupo de brasileiros. Pelo menos por enquanto, eles t�m desfrutado de uma vida de milion�rios na Ciudad del Este. As informa��es s�o do jornal

O Estado de S. Paulo.

(Renato Jakitas, enviado especial)


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