S�o Paulo - Pesquisa realizada pela Associa��o Brasileira de Franchising (ABF) mostra que 91,8% das empresas franqueadoras do Pa�s investiram em atividades inovadoras entre os anos de 2014 e 2016. Foram ouvidas 198 empresas, que representaram 24,3% de todos os neg�cios do segmento instalados no Pa�s no ano passado.
O estudo apontou que 43,1% das franquias consideram que a inova��o aumentou a rentabilidade da empresa e 50,7% ampliou a participa��o da marca no mercado.
O investimento em inova��o no segmento de franquias � mais frequente para a aquisi��o de softwares, de tecnologias e de conhecimento externo, representando, respectivamente, 90,3%, 88,5% e 81,2% nas empresas.
"Sistemas e softwares s�o muito importantes por causa do controle do setor financeira. Eles ajudam a fazer previs�o de custos e de vendas etc. E isso � para todo tipo de empresa, n�o s� para as mais tecnol�gicas", afirma o professor de engenharia da computa��o do Instituto Mau� de Tecnologia, Jo�o Carlos Lopes Fernandes.
"N�o � um trabalho de inova��o disruptiva, mas sim uma inova��o incremental, que busca a melhoria cont�nua. Este � um ambiente que ainda est� sendo estruturado e que procura o aux�lio com outros parceiros", completa Altino Cristofoletti Junior, presidente da ABF.
A pesquisa ainda mapeou dados importantes que ajudam a documentar a constru��o da cultura da inova��o no setor de franquias. De acordo com a associa��o, 50,5% das empresas possuem um respons�vel pela gest�o da inova��o e 42,5% delas t�m um centro de P&D.
A respeito da origem das ideias que possivelmente geram resultados inovadores, 60,8% das companhias afirmaram ter recebido ideias de seus colaboradores internos.
A Associa��o Brasileira de Franquias teve como parceira na pesquisa, divulgada na �ltima quinta-feira, a Confedera��o Nacional de Servi�os (CNS), e a metodologia para a coleta de dados foi desenvolvida pela Funda��o Dom Cabral.
Tradi��o
H� 68 anos no mercado, a Cal�ados Bibi estruturou em 2016 uma �rea de inova��o f�sica na sede da empresa e ainda lan�ou a plataforma Ninho da Inova��o.
"Utilizamos toda a nossa base de colaboradores, fornecedores e equipe de vendas para trabalhar a inova��o diariamente. Recebemos cerca de 300 ideias por ano", conta Camila Kohlrausch, diretora de marketing e produto da marca.
Dois produtos de destaque da Bibi foram originados no Ninho da Inova��o. Um deles � o t�nis Patch Mania, desenvolvido com bases no conceito de personaliza��o e que j� est� em sua terceira cole��o.
Outro lan�amento recente da marca, o Display Bibi, tamb�m surgiu de uma ideia sugerida no departamento. "Sabemos que as crian�a s�o nativos digitais e ent�o quer�amos levar uma tela de LED para o cal�ado. Desenvolvemos o produto em dois anos, pois precisamos adaptar essa tecnologia ao cal�ado", conta.
Novos ares
No caso da Ice Creamy Sorvetes, que tem 70 lojas espalhadas pelo Pa�s, a busca por inova��o neste in�cio de ano est� atrelada ao reposicionamento da marca.
Fundada h� tr�s anos, a franquia tenta se aproximar de um p�blico premium. Para isso, est� investindo em uma loja modelo que ser� inaugurada em S�o Paulo ainda este semestre.
Al�m do novo layout, mais sofisticado, a unidade vai ter postos de autoatendimento. A ideia � agilizar o processos e diminuir custos. O fundador da marca, �mmerson Serandin, diz ainda que pesquisas pr�vias mostram aumento no t�quete m�dio das vendas, quando o pr�prio cliente monta seu pedido.
Onde tudo come�a
Mas � a quil�metros das lojas f�sicas, na f�brica e no centro de distribui��o do produto, em Catanduva, interior de S�o Paulo, que est�o as maiores apostas tecnol�gicas da empresa.
Em processo de instala��o, o ERP, que em portugu�s significa Sistema de Gest�o Empresarial, vai otimizar os processos da Ice Creamy. A ferramenta controla todas as informa��es internas e, assim, consegue gerenciar dados e recursos.
Com isso, a matriz identifica o que falta no estoque das lojas. Em seguida, programa a distribui��o conforme a demanda registrada. "Assim, conseguimos saber quais sabores e subprodutos mandar para as unidades. A opera��o � mais assertiva e evita que o cliente se decepcione ao se deslocar e n�o encontrar o que buscava."
O objetivo � chegar a quase zero de ruptura (quando falta produtos nos estoques). Atualmente, segundo o empres�rio, a porcentagem est� em 10%.
Para Serandin, isso mostra que a busca por inova��o e tecnologia n�o "� s� coisa de fintechs startups". Prova, ao contr�rio, que ela move a cadeia produtiva de qualquer segmento. Com o investimento feito, cujo valor n�o revela, ele espera chegar ao final de 2018 com aproximadamente 450 unidades da marca pelo Pa�s.
'O ponto de partidas sempre tem de ser o cliente'
Estudiosa da comunica��o entre marca e cliente, Eliane El Badouy atua h� mais de 30 anos no mercado publicit�rio. P�s-graduada em marketing pela ESPM, atualmente ela pesquisa comportamentos de consumo e faz parte do corpo docente da Inova Business School. Nesta entrevista, Eliane fala sobre inova��o no setor de franquias e deixa um alerta: � poss�vel cair em armadilhas motivado pela ansiedade de inovar.
Como neg�cios do franchising podem desenvolver a inova��o?
Tudo depende do tipo de franquia e para que tipo de cliente voc� est� fazendo essa entrega. O ponto de partida sempre tem de ser o seu cliente. Temos uma regra que � o job to be done (trabalho a ser feito). Essa express�o resume qual � a tarefa que os consumidores procuram pelo produto ou servi�o que eu vou entregar. Se eu n�o entender isso, por mais que eu fa�a alguma coisa, corre o risco de ser gracinha tecnol�gica.
Voc� consegue citar algum exemplo de sucesso?
Tomando como base a franquia, o Bob's fez uma coisa muito interessante em uma loja do Rio. Usou a tecnologia e se focou em inova��o de atendimento ao cliente, que podia fazer seu pedido customizado em totens retirando o pedido diretamente no balc�o. Eles fizeram uma pesquisa de mercado e essa ideia surgiu quando as pessoas come�aram a falar que o conceito de fast food padronizado j� n�o era mais interessante. Porque fazer algo massificado � ir na contram�o do que est� sendo pedido hoje, que � justamente a personaliza��o.
Como voc� v� a era do consumo digital?
No passado, as revolu��es industriais eram relacionadas �s transforma��es em fun��es de equipamentos. A primeira mecanizou os processos, a segunda utilizou o conceito de el�trica para produzir em massa, a terceira se deu a partir da eletr�nica e da inform�tica para uma produ��o automatizada e a� a gente vem para a quarta revolu��o, que � essa configura��o de ind�stria inteligente, com processos que transformam o uso de sistemas f�sicos em cibern�ticos. A pergunta �: qual o benef�cio que as pessoas est�o buscando?
Hoje, quem � rico � quem tem tempo. Ent�o tudo o que for oferecido para me fazer ganhar tempo � um neg�cio que vai ter chance de dar certo. Mas eu tenho de entender tamb�m que existem momentos e situa��es que v�o demandar um relacionamento interpessoal, que � preciso ter algu�m para resolver os meus problemas conversando comigo. H� momentos em que eu vou precisar de um outro recurso muito escasso, que � a aten��o.
O que � preciso levar em conta para n�o cair em armadilhas na hora de inovar?
Se voc� conhece o seu cliente, o seu ecossistema e sabe qual � o core do seu neg�cio, voc� sabe se aquilo que voc� pretende fazer � s� um adere�o ou � realmente a inclus�o de alguma coisa que vai agregar valor. Muitos pensam que precisam ter aplicativo. Fa�a as perguntas certas. Por que voc� precisa de um aplicativo? Faz parte do seu neg�cio? O seu cliente est� habituado a usar aplicativo? Vai ser �til para ele ou vai ser mais um elemento para traumatizar o processo?
(Let�cia Ginak e Bianca Soares, especial para O Estado)