S�o Paulo, 28 - Os anos recentes n�o foram s� de ganho de produtividade e aumento do uso da tecnologia no campo. Ele tamb�m ficou mais feminino. Uma em cada tr�s propriedades rurais do Pa�s tem mulheres ocupando fun��es de comando - h� cinco anos, eram 10%. Quando n�o s�o as principais respons�veis pelas propriedades, elas atuam como administradoras, dividem as atividades com um familiar ou est�o sendo preparadas para assumir essas fun��es.
Os dados s�o de uma pesquisa da Associa��o Brasileira de Marketing Rural e Agroneg�cio (ABMRA) e antecedem o Censo Agropecu�rio, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), que deve ficar pronto este ano. O levantamento foi feito ao longo de 2017, com 2.090 agricultores e 717 pecuaristas de 15 Estados.
Criada em uma fazenda de gado de S�o Sep�, no Rio Grande do Sul, Fernanda Costabeber, de 26 anos, nunca pensou em ser apenas a �filha do dono�. Ela e a irm� mais velha foram acostumadas desde pequenas a participar das atividades da propriedade de 1,6 mil hectares.
�O meu pai n�o � de uma fam�lia de pecuaristas tradicionais, come�ou tudo do zero e sempre disse que nos criaria para tomar conta do neg�cio no futuro, ensinando todas as fun��es que um filho homem teria de aprender�, conta. �Muitas meninas acabam ouvindo que n�o dariam conta de tocar uma fazenda. Acho que ter aprendido desde cedo que seria capaz de administrar o neg�cio foi uma das coisas mais importantes.�
Fernanda se formou em veterin�ria h� cinco anos. �J� conhecia a vida no campo na pr�tica e queria uma vis�o mais profissional, para tentar aprimorar o nosso neg�cio.� Ela chegou a trabalhar por um ano na ind�stria de alimentos, mas decidiu voltar. H� dois anos, substituiu o pai na fun��o de gerente administrativo da fazenda.
Ap�s assumir a ger�ncia, o n�mero de cabe�as de gado subiu de 4 mil para 6,3 mil. �Conseguimos dividir fun��es e cada um oferece o que tem de melhor para a fazenda.� O pai de Fernanda negocia a compra e venda de animais, enquanto o marido dela, agr�nomo, cuida da produ��o de ra��o. �As barreiras n�o desapareceram por completo para as mulheres, mas ficaram menores.�
Com o aumento do uso da tecnologia no campo, a for�a f�sica deixou de ser uma barreira para muitas atividades, lembra Ricardo Nicodemos, coordenador da pesquisa da ABMRA. Elas tamb�m est�o se preparando mais para assumir as fun��es. Uma em cada quatro mulheres tem forma��o superior. Entre os homens, um em cada cinco.
�Essa nova din�mica do agroneg�cio faz com que as mulheres ganhem destaque. Embora os homens sejam a maioria dos entrevistados, para 81% dos agricultores e pecuaristas, a participa��o delas � vital ou muito importante�, diz Nicodemos.
Lavoura nada arcaica. A presen�a feminina � frente das propriedades rurais n�o � in�dita. Mas a pesquisa da ABMRA mostra que elas ganham espa�o nas pequenas, m�dias e grandes propriedades. �Existem �timos exemplos de mulheres de gera��es passadas que tocaram propriedades muito bem. Mas acho que, de forma geral, quando s� havia filhas mulheres na fam�lia, a expectativa reca�a mais sobre os maridos mesmo�, conta a veterin�ria Andrea Ver�ssimo, de 44 anos. Ela divide com o marido a administra��o de uma propriedade em Arambar�, tamb�m no interior do Rio Grande do Sul. Na fazenda, heran�a dos pais do marido, o casal integra lavoura e pecu�ria.
Formada na d�cada de 1990, Andrea foi complementar os estudos com um mestrado na Nova Zel�ndia em 2001. �Trabalhei dois anos na propriedade do meu pai e fui buscar mais conhecimento. Era uma �poca em que os cursos de especializa��o na �rea eram raros.� Hoje, al�m da fazenda, ela cuida de uma consultoria de rela��es p�blicas voltada para o agroneg�cio.
�Essa � mesmo uma caracter�stica muito feminina, de querer se aprimorar sempre�, avalia a paulista Teresa Vendramini, primeira mulher a ocupar um cargo de diretora executiva na Sociedade Rural Brasileira (SRB). Ela est� no cargo desde mar�o do ano passado.
�A mulher antes acabava indo parar no campo quando ficava vi�va ou quando perdia os pais. Foi assim comigo e ainda acontece bastante. Mas a import�ncia crescente do agroneg�cio tamb�m veio acompanhada de uma revolu��o cultural. Os jovens querem ficar no campo, muitas mulheres n�o s�o mais criadas para ficar em segundo plano e esses novos agentes est�o transformando a agropecu�ria. � um caminho sem volta.� As informa��es s�o do jornal
O Estado de S. Paulo.
(Douglas Gavras)