S�o Paulo – Muita gente diz que sexta-feira � o melhor dia para trabalhar porque � quando come�a o fim de semana. Para um grupo de executivos da Cacau Show, as quartas-feiras s�o sempre as mais esperadas. � quando o grupo ocupa uma das salas com paredes de vidro da nova sede da empresa, �s margens da Rodovia Castelo Branco, em Itapevi, na Regi�o Metropolitana de S�o Paulo, para degustar chocolates trazidos de algum canto do mundo e novas receitas desenvolvidas no laborat�rio da companhia.
Assim, Alexandre Tadeu da Costa, de 47 anos, fundador da companhia, discute com a sua equipe novas estrat�gias para seguir com o crescimento da marca. E faz parte desse planejamento tirar o passaporte da gaveta e internacionalizar a marca Cacau Show. Alexandre ainda n�o definiu como ser� a expans�o da marca fora do Brasil – se por meio de franquias, lojas pr�prias ou pelo sistema de venda direta.
O empres�rio tamb�m n�o escolheu o primeiro pa�s onde vai desembarcar com seus neg�cios. Tudo vai depender dos estudos que est�o sendo desenvolvidos por uma consultoria. Mas n�o deixa de ser simb�lico que o presidente da Cacau Show tenha escolhido 2018 para levar seus produtos para outros mercados. Na P�scoa deste ano, Alexandre vai completar 30 anos de sua estreia no mundo do chocolate. Em uma quarta-feira, como n�o poderia deixar de ser, logo depois da reuni�o de degusta��o, Alexandre falou sobre a empresa.
Que balan�o o senhor faz desses 30 anos? � um momento de reflex�o sobre a sua trajet�ria?
� realmente um momento de grande reflex�o em um ano que j� come�ou com viagem para Nova York, outra para a Alemanha, uma para a B�lgica, al�m da nossa conven��o anual com os franqueado, que teve como tema justamente os 30 anos. � um neg�cio que ganhou uma relev�ncia muito grande nesse tempo. Para se ter uma ideia, eu estava participando de uma feira de m�quinas na Alemanha e um expositor estava com o iPad dele com uma s�rie de fotos da nossa nova f�brica sendo mostradas para outra pessoa. A gente levou para o brasileiro a acessibilidade a um produto de extrema qualidade. O chocolate fino mal era consumido naquele come�o e conseguimos levar a ele algo com uma boa rela��o de valor.
Como foi poss�vel crescer tanto?
Procuramos nesse tempo ter uma boa rela��o com fornecedores, colaboradores e a rede de franqueados. Sem contar o Estado, para quem pagamos quase meio bilh�o de reais por ano em impostos. Tamb�m temos o nosso Instituto Cacau Show, que cuida de quase 3 mil crian�as de periferia, assim como eu fui, para que tamb�m tenham uma oportunidade. O Brasil, apesar das mazelas, � um pa�s novo e que tem muitas oportunidades. S� posso ser muito grato.
Quais foram os momentos em que percebeu que havia oportunidade para ganhar espa�o?
Um desses momentos foi 20 anos atr�s, quando voltamos � venda domiciliar, que foi justamente como come�amos a empresa. Tivemos naquele momento um boom bem interessante nas vendas. Depois foi quando abrimos a primeira loja em Piracicaba (SP), e depois em Suzano (SP). Vimos ali que havia uma boa aceita��o para o nosso produto. Um terceiro momento estamos vivendo agora, com o novo escrit�rio e a quebra de paradigma.
Quais s�o os planos para o futuro pr�ximo?
A gente criou, h� dois anos, um departamento de novos canais. Ele come�ou com venda direta, hoje temos tamb�m vendas in-company, em grandes empresas, a venda domiciliar, a venda em gr�mios das empresas para datas especiais. Isso � muito importante dentro da nossa estrat�gia de comunica��o. Somos uma das 50 empresas que mais investem em m�dia no Brasil. Imagina as pessoas vendo aquelas imagens de chocolate na televis�o e n�o terem como consumir. Queremos aproveitar essa oportunidade.
O setor de chocolate encontra dificuldades para crescer no Brasil, seja por quest�es tribut�rias, de log�stica ou mesmo por conta do ambiente econ�mico e pol�tico?
Existem dois tipos de empres�rio. Um que vai dizer que tudo isso � um problema. Mas tem outro tipo que vai acordar cedo, encontrar um jeito de fazer as coisas de forma legal, de motivar as pessoas, de fazer e acontecer. No dia em que eu inaugurei o novo pr�dio, com investimento de R$ 130 milh�es, um grande empres�rio disse para o outro, e depois eles me contaram, que “enquanto a gente estava reclamando, ‘o Al� foi l� e fez acontecer’. O Brasil � um pa�s em constru��o, que ainda tem corrup��o, mas por outro lado tem gente sendo presa. Quer queira ou n�o, o Brasil andou no ano passado em v�rios de seus indicadores, como juros, Bovespa, c�mbio, infla��o. At� o PIB ficou ‘positivinho’. Ent�o, n�o adianta reclamar. Tem de acordar cedo e fazer.
O consumidor de chocolate sente muito a crise ou ele n�o se importa e mant�m o h�bito?
O chocolate tem uma boa resili�ncia � crise. � um momento seu, � um presente afetivo. Claro que tem menos pessoas no shopping, n�o estamos totalmente imunes. Mas n�o � como a linha branca, por exemplo.
O que voc� enxerga como desafio depois de se tornar a maior rede do setor?
N�s tocamos a vida de muita gente, seja no nosso acesso aos consumidores, com 75 milh�es de t�quetes por ano, ou junto aos nossos colaboradores. Teve um menino que entrou aqui h� 21 anos lavando o ch�o e hoje � diretor com p�s-gradua��o. Se pago meio bilh�o de reais de imposto, quero pagar um bilh�o, dois, tr�s e continuar a crescer. Temos um bom reconhecimento fora do Brasil enquanto ind�stria, mas n�o enquanto marca.
A marca � desconhecida fora do Brasil, certo?
Vamos construir nossa marca fora do Brasil a partir deste ano. A maioria n�o tem ideia do que tem de conceito por tr�s da nossa marca. N�o vendemos chocolate, mas um momento especial para cada um. Essas informa��es t�m de ser muito bem trabalhadas entre os nossos funcion�rios, na nossa rede de franquias e junto aos nossos consumidores.
A internacionaliza��o da marca est� nos seus planos?
Faz dois anos que estudamos essa possibilidade. Contratamos uma equipe para ver qual pode ser a melhor forma de fazer essa expans�o, seja com vendas pela internet, domiciliares ou com loja. O plano � colocar para rodar a internacionaliza��o ainda no segundo semestre deste ano. Mas ainda temos muitas perguntas estrat�gicas a serem respondidas antes de tomar uma decis�o sem chance de errar. N�o vamos fazer a internacionaliza��o s� para contar.
O mercado est� mais favor�vel � abertura de capital. Seria um caminho para a Cacau Show?
N�o diria que n�o abriria capital de jeito nenhum, mas precisa de ter sentido estrat�gico. Tenho dois vice-presidentes, 14 diretores, e conseguimos ter um processo interno de decis�o muito r�pido. Quem recorre ao mercado de capitais normalmente � para pedir dinheiro ou trazer governan�a ao neg�cio. Tenho um conselho de administra��o h� quatro anos e uma estrutura de capital robusta. No dia em que fizer sentido, estaremos preparados para isso. A empresa � auditada h� cinco anos e tem governan�a desde sempre. Mas se escolhermos esse caminho teremos de incorporar mais complexidades. Apesar de ter um dono, n�o � uma empresa de ‘doninho’, do tipo ‘faz a� que estou mandando’. Nossas decis�es s�o colegiadas. Quem sabe uma hora a gente est� l�.
Algum plano de aquisi��o para este ano?
Temos meta de crescer mais 20% neste ano. Ser�o mais de 200 e tantos milh�es de reais em vendas. Isso est� tomando bastante nosso tempo.

De engordar os olhos
Os n�meros superlativos da empresa
Faturamento em 2017: R$ 3,3 bilh�es
Previs�o de crescimento em 2018: 20%
Total de lojas: cerca de 2 mil
Produ��o: 22 mil toneladas de chocolate por ano
Investimento na nova f�brica: R$ 130 milh�es

Em 1988, ent�o com 18 anos, Alexandre Costa deu in�cio ao neg�cio com a venda de bombons e trufas vendidos em padarias e supermercados da Casa Verde, na zona oeste de S�o Paulo, onde vivia. A produ��o caseira, feita com a ajuda da cozinheira Cleusa Trentin, era transportada no banco de tr�s de um fusca ano 1978. Assim surgiu a Cacau Show como empresa.
Um ano antes, Alexandre j� tinha feito sua primeira experi�ncia no mundo do cacau ao resolver retomar os neg�cios dos pais, donos de uma pequena loja de bairro, que j� tinham vendido chocolate caseiro em P�scoas anteriores. Alexandre foi a uma escola e pegou uma grande encomenda de ovos.
Quando chegou na f�brica, soube que n�o teria como comprar os produtos no tamanho combinado, 50 gramas. Correu atr�s de quem o ajudasse e conheceu dona Cleusa, que costumava fazer chocolate caseiro.
Juntos fizeram 2 mil ovinhos em tr�s dias. Com o lucro da primeira empreitada, se organizou para come�ar a vida de microempres�rio. Tr�s d�cadas depois, o neg�cio que teve como embri�o a produ��o de 2 mil ovos transformou-se na maior rede de franquias de chocolate do pa�s, com pouco mais de 2 mil lojas. Por ano, s�o produzidas, em m�dia, 22 mil toneladas do alimento. Em 2017, o faturamento chegou a R$ 3,3 bilh�es.