Buri, 19 - A bordo de uma colheitadeira de R$ 1,4 milh�o, no conforto do ar condicionado, o operador de m�quina Lourival Obnesorg, de 47 anos, aciona o piloto autom�tico e observa os pain�is que medem o �ndice de perdas e de umidade da soja que vai enchendo o reservat�rio de carga. Nos �ltimos dez anos, desde que deixou de ro�ar pasto e arrancar feij�o � m�o, ele passou de motorista de caminh�o e tratorista para uma das profiss�es mais valorizadas do campo: "piloto de colheitadeira", como dizem por l�.
Lourival � um dos nove funcion�rios de campo da fazenda Jequitib� do Alto, em Buri, no sudoeste paulista, e tem um ganho bruto mensal de R$ 2,8 mil, equivalente ao de um professor da rede municipal com curso superior. Mesmo tendo s� o 2� grau, Obnesorg tornou-se perito em m�quinas com alta tecnologia embarcada, como colheitadeiras, pulverizadores e plantadeiras, acompanhado a evolu��o do trabalho no campo. "Comecei com o trator, estudando tudo sobre a m�quina, depois fiz curso de opera��o de plantadeira em Ponta Grossa (PR) e, h� cinco anos, peguei a primeira colheitadeira."
O operador conhece todos os detalhes do equipamento e, mesmo com o piloto autom�tico em opera��o, interfere para melhorar o desempenho. "A m�quina pode fazer muita coisa sozinha, mas n�o gosto de ficar s� olhando." Na safra, Obnesorg trabalha at� dez horas por dia, mas n�o precisa ir longe para estar em casa. Ele mora numa casa confort�vel, na propriedade, com a esposa Jana�na e as filhas Ingrid, de 13 anos, e Talita, de 5 - a moradia, �gua e energia s�o fornecidas pela fazenda, como benef�cios.
O produtor Frederico D'�vila, dono da fazenda, conta que, al�m dos homens de campo, tem outros cinco funcion�rios que mant�m o secador, os silos, o sistema de irriga��o com 13 piv�s centrais e a �rea administrativa. "S�o 15 funcion�rios comigo, pois exer�o a fun��o do administrador, fazendo a programa��o da safra, definindo as �reas de plantio, cultivares e cuidando da comercializa��o."
Ele conta que a maior parte dos trabalhadores est� na fazenda desde que era administrada pelo seu pai, o engenheiro Aluizio Monteiro D'�vila. "N�o � uma m�o de obra f�cil de achar, por isso investimos na qualifica��o dos que se interessam, t�m cuidado com as m�quinas e s�o leais a empresa."
� o caso do operador Aguinaldo Batista, de 44 anos, que come�ou a trabalhar com o pai de Frederico e j� foi bra�al, ro�ando pasto e construindo cercas. Al�m de trator e colheitadeira, ele fez curso para operar o pulverizador, equipamento de alta sensibilidade e muita tecnologia. "� tudo controlado por computador e GPS, mas a gente precisa estar preparado para intervir na hora certa, corrigindo alguma opera��o ou passando algum posicionamento por r�dio para o companheiro em outra m�quina", descreve.
Aguinaldo tem dois irm�os que tamb�m abriram m�o de carreiras na cidade para permanecer no campo, na Jequitib� do Alto. Marcelo tamb�m opera m�quinas e Edinelson trabalha no setor administrativo. Com os nove funcion�rios de campo, D'�vila cultiva 1,5 mil hectares por ano, produzindo 9,6 mil toneladas de gr�os - cerca de 30% de soja. "Se terceirizasse o secador e o transporte, poderia ter ainda menos m�o de obra, mas prefiro ter todo o processo sob nosso controle."
Migra��o
O frentista Eliel Soares, de 33 anos, j� teve os dois p�s no campo, em Cap�o Bonito, cidade da mesma regi�o, mas n�o conseguiu acompanhar a evolu��o do setor. "Foram seis anos trabalhando na propriedade rural do meu sogro, num sistema em que eu era meio empregado e meio comodat�rio. N�o tinha registro em carteira, folga ou f�rias. Fazia de tudo, desde tirar leite at� arar a terra com trator, mas n�o aguentei." Ele conta que a propriedade, pequena para a regi�o, n�o comportava m�quinas com muita tecnologia.
Sem vislumbrar chances de melhorar a renda, ele se preparou para disputar um emprego na cidade, fazendo um curso t�cnico de auxiliar administrativo e o primeiro ano de curso superior em administra��o. Acabou conseguindo emprego de frentista, num posto de combust�veis. "Tive que disputar uma vaga com muitos trabalhadores rurais que deixaram o campo, mas acabei acertando."
Soares conta que, entre sal�rio e benef�cios, como cesta b�sica e cart�o de alimenta��o, tira cerca de R$ 2 mil mensais e se considera bem remunerado. O ganho, segundo ele, � o suficiente para manter a fam�lia - ele, a mulher e uma filha de dez anos. "Meus pais ainda moram no campo, mas meu irm�o tamb�m j� veio para a cidade." As informa��es s�o do jornal
O Estado de S. Paulo.
(Jos� Maria Tomazela, enviado especial)