(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

'O Brasil tem muita reserva de mercado'; leia entrevista com o presidente da Sicredi

As cooperativas de cr�dito podem fazer diferen�a em rela��o a avareza do mercado banc�rio tradicional. Quem consegue equilibrar atendimento, pre�os e rela��es com clientes s�o elas


postado em 30/04/2018 12:00 / atualizado em 30/04/2018 10:32

(foto: Marcos Suguio/Divulgação )
(foto: Marcos Suguio/Divulga��o )

S�o Paulo – Com taxas de crescimento acima do que v�m apresentando os bancos tradicionais, as cooperativas de cr�dito v�o aos poucos ganhando mais espa�o no sistema financeiro brasileiro e poder�o ser uma das ferramentas do Banco Central para pressionar as grandes institui��es a reduzirem as taxas de juros em v�rias modalidades, especialmente cheque especial e cart�o de cr�dito. Na �ltima quinta-feira, por exemplo, o Banco Central (BC) anunciou que as cooperativas poder�o receber dep�sitos de munic�pios. Para isso, ter�o de aprovar esses contratos previamente com os associados e atender a requerimentos prudenciais. Em 2017, as cooperativas conseguiram crescer 15% em cr�dito banc�rio, chegando a um volume total de R$ 92,5 bilh�es, 9,2 milh�es de associados (como s�o chamados os clientes) e 5,8 mil pontos de atendimento. Apesar das taxas vigorosas de crescimento, t�m apenas 4,6% dos dep�sitos do Sistema Financeiro Nacional, com R$ 129 bilh�es. Parte desse desempenho � atribu�do � institui��o pelo Conselho Monet�rio Nacional (CMN), em 2013, do Fundo Garantidor do Cooperativismo de Cr�dito (FGCoop), que nivelou as condi��es de competitividade com os bancos comerciais, j� que passou a proteger correntistas e investidores.

O Sicredi, sistema que re�ne 116 cooperativas de cr�dito e tem o Rabobank (banco cooperativo da Holanda) como associado, com 23,97% de participa��o, � a segunda maior opera��o nesse mercado. Est� em 21 estados e acaba de desembarcar em Bras�lia. Em 2017, chegou a R$ 51,3 bilh�es de total de dep�sitos e R$ 45,3 bilh�es de opera��es de cr�dito, com uma taxa de crescimento na casa dos 20%. Manfred Alfonso Dasenbrock, presidente da holding Sicredi Participa��es, trabalha com uma previs�o de crescimento da opera��o entre 18% e 22%, apesar das inseguran�as provocadas pelo cen�rio eleitoral ainda muito incerto. Para o executivo, a economia tem conseguido se descolar dos esc�ndalos pol�ticos e seguido sua pr�pria trilha. O que preocupa mais � a rea��o dos grandes bancos em rela��o a essa expans�o. “O Brasil tinha muita reserva de mercado e ainda tem”, alerta. A seguir, trechos da entrevista.

 

Quem � Manfred Alfonso Dasenbrock
Formado em administra��o de empresas, com p�s-gradua��o em marketing e MBA em gest�o empresarial,  Manfred Alfonso Dasenbrock � presidente Holding Sicredi Participa��es e da Central PR/SP/RJ. Acumula ainda o cargo de conselheiro de administra��o do Fundo Garantidor das Cooperativas de Cr�dito e do Conselho Mundial das Cooperativas de Cr�dito do World Cr�dito Unior (Woccu).

As cooperativas de cr�dito ainda t�m condi��es de manter taxa de crescimento como a vista nos �ltimos anos?
O potencial no Brasil ainda � muito grande. Apesar de ser uma atividade centen�ria, estamos falando de um movimento novo no pa�s. Faz cerca de dez anos apenas que os bancos cooperativos, o Sicredi e o Bancoob, foram criados. A partir da� as cooperativas passaram a ter uma identidade pr�pria. O Brasil tinha muita reserva de mercado e ainda tem, mas algumas mudan�as na regulamenta��o da atividade t�m ajudado no crescimento. Uma delas foi normatizada na quinta-feira e possibilita que as cooperativas operem com prefeituras. Os avan�os v�m acontecendo. Foi assim com a capta��o de recursos da poupan�a, depois com a permiss�o para a livre admiss�o, por meio das cooperativas abertas. Gradativamente as barreiras foram superadas e se construiu a confian�a, junto com o Banco Central, na rela��o nossa por meio de confedera��es.

Como as cooperativas se posicionam em rela��o aos bancos tradicionais?
As cooperativas de cr�dito podem fazer a diferen�a em rela��o a avareza do mercado banc�rio tradicional. Quem consegue equilibrar atendimento, pre�os e rela��es com os clientes s�o elas, que no Brasil passam de 1 mil e que abrangem um contingente de cerca de 9 milh�es de pessoas associadas. O potencial � grande. As cooperativas est�o crescendo acima da m�dia de mercado e isso vem acontecendo h� pelo menos 10 anos em n�mero de clientes, de ativos, de capta��o e de cr�ditos. Em parte, isso vem acontecendo por causa da regulamenta��o no Brasil, que � muito boa. Somos cooperativas de cr�dito, mas temos um banco para fazer essa interliga��o com o sistema financeiro e com o Tesouro e outros agentes, mas sem o risco de desvirtuar para o sistema banc�rio tradicional. Estamos abarcados em uma marca �nica, com regras padronizadas e um sistema prudencial muito t�cnico, com a profissionaliza��o da gest�o e da parte administrativa. Chegamos recentemente a cidades grandes, como S�o Paulo e Curitiba, e na �ltima semana a Bras�lia. S� n�o crescemos a uma velocidade maior porque somos respons�veis por garantir pessoas preparadas para atender quando vamos abrir uma nova ag�ncia.

 

Qual papel as cooperativas podem ter na tentativa do governo de baixas os juros cobrados pelos bancos?
O papel � fundamental. N�o temos o mesmo tamanho dos agentes tradicionais, que det�m essa concentra��o de mercado. Hoje s�o mais de 1 mil comunidades atendidas pela rede do Sicredi, com cerca de 5 mil ag�ncias, a presen�a em 540 munic�pios. Em 201 munic�pios, a �nica op��o de ag�ncia � do Sicredi. Tem pra�as onde se v� o dom�nio das cooperativas em rela��o a esses bancos concentrados, com 40%, at� 50% de participa��o de mercado. Com isso, o que se v� nessas comunidades � um achatamento dos juros porque a cooperativa est� presente e equilibra esse processo por n�o ser avarenta como no caso dos bancos. Parte do que o associado investe ou paga de taxas volta para ele a medida que o resultado � gerado.

 

 "Nossa estrat�gia � ter uma atua��o regional com presen�a nacional. Estamos seguindo firmes e otimistas nessa dire��o”

 

 

As cooperativas podem ter um protagonismo maior?
Sim, e podem fazer mais, porque est�o crescendo. Elas t�m um papel social, de orientar e capacitar. No caso do Sicredi, formamos lideran�as, temos mais de 20 mil pessoas treinadas todos os anos. Al�m da agenda social, trabalhamos a educa��o financeira e a inclus�o financeira de pessoas que em muitos casos est�o expostas at� mesmo a um agiota. Por que, por exemplo, essa pessoa recorre a uma financeira? Sabemos que ela tem um juro l� em cima.
� poss�vel imaginar juros mais baixos?
N�s temos no Brasil um problema cultural em rela��o a taxa de juros. Por exemplo, se o cheque especial est� em 6%, mas n�s vamos praticar 3%, o cidad�o prefere n�o oferecer garantia e permanecer no cheque especial por causa da taxa mais baixa. Para n�s, o caminho � investir em educa��o financeira e no atendimento que permita orientar para o melhor uso do cr�dito, com linhas mais adequadas do que cheque especial. N�o queremos que o associado parcele o cart�o de cr�dito, mas se tiver necessidade de cr�dito que v� buscar um outro produto para escapar do endividamento.

Como est�o os planos de expans�o?
Temos conseguido atender quem j� est� no sistema seja qual for o tipo de demanda, como cr�dito rural e cr�dito especial. No caso do cheque especial e o cart�o de cr�dito, o percentual � bastante baixo de utiliza��o por parte dos associados. Nossa previs�o de crescimento � de 18% a 22% nos ativos. Dentro dele, o crescimento de cr�dito est� acima desse percentual. E a base de clientes n�o cresce nesse mesmo percentual, mas na faixa de 10%. A procura pelo cr�dito est� melhor nesse ano do que nos dois �ltimos anos.

A pol�tica econ�mica tem influenciado na tomada de decis�o?
Todos os esfor�os que vemos por parte do BC tanto nas pol�ticas quanto nas normativas est�o voltadas na dire��o de segurar a infla��o, que � a principal amea�a � capacidade de compra do assalariado, al�m da redu��o da taxa Selic, algo que � fundamental para estimular o investimento. Mas � claro que o mercado brasileiro tem uma cultura inflacion�ria dif�cil de cortar ela. Quando sobe a infla��o muita gente fica contente, porque aumenta a concentra��o, mas isso tamb�m gera um sentimento de aumento da pobreza. Como cooperativa, fazemos um papel importante nesse contexto.

 

 

 

 "Quando se cresce 20% ao ano, muita coisa tem de ser feita em um espa�o de tempo curto. Atrelado a isso est�o alguns custos que temos no Brasil, por exemplo, relacionados � seguran�a por conta do problema de viol�ncia”

 

 

 

O que falta para as cooperativas conseguirem aumentar sua participa��o no mercado?
Temos um arcabou�o regulat�rio muito bom. O que nos falta � tempo para amadurecer. Quando se cresce 20% ao ano, muita coisa tem de ser feita em um espa�o de tempo curto. Atrelado a isso est�o alguns custos que temos no Brasil, por exemplo, relacionados � seguran�a por conta do problema de viol�ncia. S�o ataques a caixas eletr�nicos e amea�as a transporte de valores que impactam na conta.

As cooperativas pretendem dar mais trabalho aos bancos tradicionais?
� um desafio dizer isso abertamente porque depois eles v�m nos atacar. Mas nas discuss�es estrat�gicas de qualquer sistema, � assim que a concorr�ncia funciona. Temos uma energia muito grande voltada para atender a necessidade dos s�cios e nossos esfor�os tem sido grande em treinamento de pessoal e forma��o de lideran�a para que eles defendam a cooperativa tanto quanto o acionista defende uma SA. Queremos que o nosso cliente goste da cooperativa. Se gostar, vai ser fiel a vida inteira. Que seja fiel, que goste da gente e de prefer�ncia que n�o goste dos outros. Isso tamb�m se faz com a oferta de servi�o e a proximidade com os associados. N�s n�o temos hist�rico de ag�ncias fechadas, todos os outros bancos t�m. Fecham da noite para o dia e simplesmente v�o embora. H� um envolvimento dos agentes das comunidades onde atuamos na defesa das ag�ncias de cooperativas porque eles sabem que sem elas haver� explora��o e que ter�o mais dificuldade sem poder contar com o atendimento feito por pessoas.

 

O ano de elei��es pode influenciar nos planos do Sicredi?
Temos andado � margem da quest�o pol�tica. Aqueles que fazem parte da economia se encheram um pouco dessa quest�o toda que diz que todo mundo rouba. Descolaram da pol�tica e do que tem sido revelado pela Opera��o Lava-Jato. A preocupa��o no nosso caso � outra, com um olhar interno para melhorar os servi�os e garantir a estrat�gia de expans�o. Nossa estrat�gia � ter uma atua��o regional com presen�a nacional. Estamos seguindo firmes e otimistas nessa dire��o. As elei��es com certeza v�o segregar, dispensar alguns e chamar outros para melhorar o princ�pio da �tica no Brasil. Mas o importante � que pol�tica econ�mica tem andado � margem da outra pol�tica. Esses pilares econ�micos, como controle da infla��o, pol�t ica monet�ria forte, com d�lar flutuante e outros temas correlatos parecem estar em uma boa dire��o. Independe de quem for o presidente, se n�o houver retrocesso n�s acreditamos em um futuro melhor. A forma��o do nosso parlamento acontece no primeiro turno. J� a escolha do presidente a gente sabe que � um jogo de uni�o de for�as. O cooperativismo tem um trabalho muito bem organizado, com uma frente parlamentar que entende o nosso neg�cio. Torcemos para que os bons possam se reeleger e os novos possam vir a contribuir. Somos apol�ticos, temos pessoas nas nossas cooperativas de todos os partidos. Estamos otimistas que a limpeza come�ou, que teremos um parlamento melhor e que a limpeza continuar�. E que venha um caminho mais �tico pela frente.


Por dentro do Sicredi
3,7 milh�es de associados
1.582 ag�ncias
116 cooperativas de cr�dito
22,8 mil funcion�rios
Presen�a em 21 Estados e Distrito Federal
R$ 80,3 bilh�es de ativos
R$ 13,1 bilh�es de patrim�nio l�quido
R$ 51,3 bilh�es de total de dep�sitos
R$ 45,3 bilh�es de opera��es de cr�dito
�nica institui��o financeira em 201 munic�pios

Fonte: Sicredi


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)