
S�o Paulo – Com os dias contados ou n�o, o fato � que o uso do cart�o como estamos acostumados, no formato de pl�stico, seja para opera��es de cr�dito ou de d�bito, est� passando por mudan�as. O Apple Pay � a novidade mais recente no mercado brasileiro de meios de pagamento. Lan�ado no Brasil h� cerca de um m�s, em parceria com o Ita�, o aplicativo permite o pagamento por meio do uso do celular, sem a necessidade de sacar o cart�o da carteira e pass�-lo pela maquininha, como se costuma ver.
Com os aplicativos do tipo “pay”, a comunica��o entre o smartphone e as m�quinas de cart�o (as POS, sigla para point of sale) � feita por meio da tecnologia NFC (Near Field Communication), que permite a troca de informa��es entre dispositivos apenas com a aproxima��o f�sica entre o pl�stico e a maquininha. No caso da Samsung, h� a op��o de uma outra tecnologia, o MST (sigla de Magnetic Secure Transmission), que funciona por meio da gera��o de campo magn�tico.
Vestindo o cart�o
H� outras duas frentes tecnol�gicas dispon�veis entre os meios de pagamento. Uma delas s�o os acess�rios como pulseiras, an�is, colares e adesivos que trazem as informa��es do cliente do banco e substituem o cart�o. S�o os chamados “wearables”, categoria na qual se enquadram tamb�m os rel�gios inteligentes, como o Apple Watch e o Samsung Gear.
Assim como no caso dos smartphones, a comunica��o entre esses equipamentos e as m�quinas de cart�o � feita por meio do NFC. O Santander � o banco que mais tem apostado nesse tipo de tecnologia no pa�s. Antes, durante os Jogos Ol�mpicos do Rio de Janeiro, em 2016, a Visa fez uma campanha com os atletas brasileiros para que utilizassem o modelo de anel para pagamentos, mas naquele momento a novidade n�o se firmou.
Outra modalidade se enquadra no conceito de internet das coisas (IoT), que j� tem hoje equipamentos conect�veis � rede e permitem, por exemplo, que uma geladeira identifique que um produto est� chegando ao fim, envie o pedido a um supermercado e assim garanta o suprimento da casa. Como esse tipo de tecnologia � acess�vel a poucos por causa do pre�o, segue como uma promessa at� conseguir se popularizar.
Trilh�es
Segundo estudo divulgado em 2017 pela consultoria americana Gartner, cerca de 20 milh�es de m�quinas estar�o conectadas e v�o fazer transa��es entre si at� 2020. Outra consultoria, a brit�nica Jupiter Research, em outro estudo (Contactless Payments: NFC Handsets, Wearables & Payment Cards 2017-2021), tamb�m apresentado no ano passado, estimou que, at� 2019, se chegue a US$ 1,3 trilh�o em transa��es globais sem contato feitas por meio de cart�es de pagamento, seja por smartphones ou os “wearables”. Se esse n�mero se confirmar, o valor ter� mais do que duplicado em compara��o a 2017, quando o valor global chegou a US$ 590 bilh�es.
N�meros com essas propor��es t�m aumentado o apetite de quem faz parte do ambiente de meios de pagamento. Rubens Fogli, diretor do Ita� Unibanco, se revela surpreso com o volume de clientes que baixaram o app do Apple Pay. Em um m�s, segundo ele, j� s�o cerca de 300 mil usu�rios. “A ades�o foi mais r�pida do que o esperado. J� temos uma das maiores carteiras digitais do pa�s”, diz o executivo.
Uma das estrat�gias do banco para ganhar espa�o rapidamente com o Apple Pay foi investir em campanhas para ensinar o consumidor como usar a tecnologia. Al�m disso, foi montada uma opera��o dedicada ao produto para tirar d�vidas. Para Fogli, apesar de ouvir h� pelo menos duas d�cadas que o cart�o de cr�dito na forma de pl�stico iria acabar, agora essa mudan�a est� mais pr�xima de se confirmar.
“Estamos entrando em um momento com mais condi��es, inclusive culturais, para a ado��o de novas tecnologias e de meios substitutos do pl�stico. Agora veremos um ritmo mais acelerado de mudan�a”, avalia Fogli. Para o executivo, a quantidade de smartphones – mais de um aparelho por brasileiro – � a principal impulsionadora desse novo comportamento na hora de fazer pagamentos. Por enquanto o Ita� Unibanco tem parceria apenas com o Apple Pay, mas ainda neste ano dever� oferecer tamb�m os apps da Samsung Pay e Google Pay.
Contagem regressiva
Executivo s�nior da EY, Guilherme Vitolo acredita que o pl�stico, como existe hoje, deixar� de existir em um per�odo entre cinco e 10 anos e dar� lugar a outros meios de pagamento, tanto para opera��es de cr�dito quanto de d�bito. “Isso s� n�o aconteceu mais rapidamente no Brasil porque h� uma quest�o de tecnologia. Como h� muitos players, os credenciadores de cart�es n�o estabeleceram um padr�o �nico de tecnologia para pagamento, como se v� no Chile, por exemplo”, diz.
Tamb�m pesou no atraso dessa evolu��o tecnol�gica no mercado brasileiro o fato de o pa�s ter um hist�rico grande de fraudes em opera��es com cart�o, que s� come�ou a arrefecer depois da ado��o do chip no lugar da tarja magn�tica. Vitolo acrescenta ainda a quest�o cultural por parte dos comerciantes: “Como a tecnologia � nova, ainda h� muita desconfian�a e desinforma��o.”
L�der da �rea de servi�os financeiros da Accenture para a Am�rica Latina, Marcello Mussi prefere n�o arriscar quanto a um prazo para que o pl�stico seja trocado definitivamente por outros meios de pagamento digitais. “J� vemos muitas evolu��es. � s� lembrar, por exemplo, que hoje pagamos por servi�os como o Uber e outros aplicativos de transporte sem ter de usar dinheiro ou o cart�o f�sico”, comenta.
Para Mussi, os jovens, nascidos no ambiente digital, dever�o ser os respons�veis por acelerar esse movimento de ades�o a meios de pagamento que dependam cada vez menos do pl�stico. “Eles procuram conveni�ncia nas novas formas de pagamento”, lembra o executivo.
Aposta em meios vers�teis
Rodrigo Cury, diretor de cart�es do Santander, tamb�m � cauteloso quanto ao prazo de validade do cart�o de pl�stico. Para ele, ainda existe lugar para diferentes formas de pagamento e cabe ao consumidor decidir qual � mais conveniente � sua necessidade. “Para n�s, tamb�m conta o momento em que o cliente vai usar seu dispositivo, por isso apostamos tamb�m nos ‘wearables’, como a pulseira. Ela foi lan�ada pelo Santander junto com o adesivo, que tamb�m faz a leitura da opera��o por NFC, e acreditamos que ele teria uma procura maior. Mas quase ficamos sem estoques de pulseira por conta do interesse que despertou”, conta. Os dois acess�rios s�o cobrados pela institui��o financeira.
Al�m dos “wearables”, o banco espanhol tem parceria para o Samsung Pay e oferece seu pr�prio aplicativo, o Santander Pass, para fazer o pagamento com smartphone por aproxima��o. Outro executivo que n�o acredita na trajet�ria descendente do pl�stico � Alessandro Rabelo, diretor de produtos da Visa. Para ele, o brasileiro ainda vive um momento em que ensaia a desconstru��o do cart�o, mas por ora ainda � a op��o da grande maioria. “Outras formas de pagamento v�m sendo adicionadas pelos clientes, que as utiliza como alternativa ao pl�stico. Mas acredito que o crescimento de outros meios de pagamento, como vemos nos Estados Unidos com a internet das coisas, ser� exponencial � medida que houver mais op��es”, afirma.
Segundo Rabelo, o brasileiro j� vem se acostumando com a tecnologia NFC, por aproxima��o, em outras opera��es – como o Bilhete �nico, usado para pagamento de passagens de �nibus e metr� da cidade de S�o Paulo. Isso, acredita, dever� servir para impulsionar novas formas de uso do cart�o de pagamento por meio digital.
Padaria foi laborat�rio da Samsung
Uma padaria ao lado do escrit�rio da Samsung, em S�o Paulo, foi usada para os primeiros testes feitos por Renato Citrini, gerente s�nior de produtos da �rea de dispositivos m�veis, antes de colocar o Samsung Pay � disposi��o dos brasileiros. O dono do com�rcio, revela Citrini, estranhou das primeiras vezes aquela forma diferente de pagar a conta. “Ele ficava surpreso de n�o precisar usar o cart�o de pl�stico para pagar a conta. Bastava aproximar o smartphone da maquininha que ele j� usava”, recorda.
Hoje, quase dois anos depois, a opera��o do Samsung Pay � grande no Brasil, segundo Citrini, que n�o revela n�meros. O executivo acredita que o crescimento desse tipo de dispositivo ser� r�pido, j� que para os comerciantes n�o � preciso fazer investimentos em novas m�quinas de pagamento – cerca de 90% j� contam com as tecnologias NFC e MST.
Um outro desafio para a marca, no entanto, � ampliar o servi�o do Samsung Pay para mais modelos de smartphone. Hoje s�o 20, mas o mais barato, o J5 PRO, custa R$ 1.099. Como o pre�o � alto, exclui uma parcela grande da popula��o do radar da empresa. Conforme a tecnologia ganhar mais escala, ser� poss�vel incluir o servi�o em modelos de outras faixas de pre�o. Quando lan�amos o Samsung Pay, por exemplo, o modelo mais barato adaptado para a tecnologia era vendido entre R$ 1.500 e R$ 1.800”, exemplifica Citrini.