S�o Paulo, 25 - Com manifesta��es iniciadas na �ltima segunda-feira, 21, em diversos pontos do Pa�s, greve dos caminhoneiros � resultado de discuss�es sobre as condi��es de trabalho ruins em diferentes grupos do WhatsApp, de acordo com caminhoneiros. Conforme contam alguns membros da categoria, os grupos de conversas eram utilizados para organiza��o e divis�o dos transportes, al�m de troca de informa��es sobre a situa��o das estradas.
"A corda chegou no nosso pesco�o e, em conversas de WhatsApp, nos organizamos e decidimos entrar em greve.", afirma Alexandre Apar�cio, caminhoneiro h� 16 anos, que participa dos protestos na BR 101, no trecho de Itaja� (SC), e participa de tr�s grupos de WhatsApp, com 734, 488 e 712 membros em cada.
Segundo ele, o movimento surgiu de forma descentralizada com os pr�prios motoristas aut�nomos. "Os sindicatos embarcaram na nossa. Eles vieram procurar a gente. Come�amos a greve e eles nos apoiaram depois."
Tamb�m em protesto no Estado da Bahia, o caminhoneiro Enaldo Vieira est� na BR 116, no munic�pio de Teofil�ndia. Ele explica que esses diferentes grupos de WhatsApp se comunicam entre si e, assim, uma �nica mensagem amplia-se para at� 7 mil, 10 mil membros.
Vieira est� em 10 diferentes grupos de caminhoneiros. O motorista acrescenta que poucas vezes os sindicatos estiveram ao lado da categoria. "Pagamos a anuidade sindical por obriga��o, mas eles nunca nos deram assist�ncia", conta.
Jaisom Dreher, presente em uma das manifesta��es da rodovia Fern�o Dias, no munic�pio de Betim (MG), refor�a a ideia de que n�o houve uma composi��o oficial para os protestos, mas que a causa contagiou a todos. "N�o teve uma organiza��o central. Fomos nos falando por WhatsApp e aconteceu."
A aus�ncia dos sindicatos nas discuss�es dos caminhoneiros tamb�m � ressaltada por Manuel Costa Filho, que est� nas manifesta��es da BR 324, em Sim�es Filho (BA). "N�o tem nenhum sindicato envolvido nessas conversas, n�s n�o temos representante." Sobre como iniciou as manifesta��es, o motorista conta que "de repente surgiu um boato de greve de caminhoneiros em Vit�ria da Conquista, na Bahia. Na verdade, era um protesto de perueiros da cidade, na BR-101, mas foi o que serviu de estopim para que a nossa categoria come�asse a se mobilizar".
Condi��es de trabalho
Os caminhoneiros contam que o movimento se iniciou de uma insatisfa��o comum com rela��o �s condi��es de trabalho, que j� estava insustent�vel. Segundo eles, 90% do valor do frete � gasto apenas com despesas da viagem, como combust�vel, ped�gio, hospedagem, comida e manuten��o mec�nica dos caminh�es.
Dos R$ 4 mil de um frete para transportar mercadorias de S�o Paulo a Salvador, Alexandre Apar�cio gasta de R$ 3 mil com custos do trajeto. "A gente banca todas as despesas do caminh�o, est� tudo incluso na nossa parte do frete." O motorista costuma transportar alimentos n�o perec�veis, brinquedos e mob�lias.
"Se a gente n�o parasse agora, na greve, �amos parar por n�o termos condi��es de rodar. � uma situa��o muito cr�tica", afirma Manuel Costa Filho ao relatar que vem notando h� mais de um ano a desmotiva��o da classe.
"Nos postos de gasolina, s� escutamos o pessoal querendo largar caminh�o, querendo mudar de profiss�o, dizendo que o valor de frete vai quase todo na viagem.", cont�nua Costa Filho. O caminhoneiro diz que para uma viagem da capital paulista at� Porto Velho (RO) coloca no bolso R$ 1.200.
O descontentamento n�o � diferente para Jaisom Dreher, que carrega eletrodom�sticos por todo o Pa�s. Ele recebe livres R$ 1,5 mil de um frete R$ 8 mil at� Fortaleza (CE). "Est� invi�vel trabalhar hoje. Se continuar do jeito que t� vou desistir de ser caminhoneiro. Vou trabalhar como empregado."
"Nosso trabalho virou um leil�o, ganha quem topar trabalhar mais barato.", declara Enaldo Vieira ao explicar que a quantidade grande de motoristas dispostos a trabalhar deixa o valor do frete pago para eles cada vez mais barato. O caminhoneiro transporta cargas r�pidas, equipamentos hidr�ulicos e el�tricos pelo Nordeste h� 10 anos.
(Victoria Abel e Gabriel Wainer - Especiais para a AE)