
A batata frita pode desaparecer do prato dos brasileiros nos pr�ximos dias. A falta do produto resulta da crise de abastecimento de hortifr�tis, causada pela greve dos caminhoneiros iniciada na segunda, que impede a chegada at� os entrepostos de comercializa��o. O Estado de Minas esteve na Central de Abastecimento de Minas Gerais (Ceasa Minas) para ouvir os produtores. Eles acreditam que a situa��o de desabastecimento levar�, pelo menos, 10 dias para ser normalizada. Na manh� de ontem, comerciantes afirmaram que o movimento foi de 20% do fluxo normal.
“O mercado de hortifr�tis est� zerado. Ningu�m est� conseguindo chegar do interior at� aqui na Ceasa. Mesmo se a greve tivesse acabado, levaria 10 dias para normalizar. Se liberar hoje (ontem), na segunda ainda n�o d� para abastecer”, afirma o produtor Gilberto Louren�o, de 35 anos, que comercializava a saca de 50 quilos de batata-inglesa a R$ 250. Diariamente, ele e o s�cio Luiz Renato de Carvalho desembarcam a carga de 600 sacas, mas por causa da greve reduziu a entrega. Se os corredores da Ceasa est�o vazios, os reflexos podem ser vistos nas prateleiras dos supermercados e mercados, que est�o sem produtos ou, quando t�m, s�o vendidos a pre�os acima da m�dia.
Na quinta-feira, o governo federal anunciou acordo com nove entidades representativas dos caminhoneiros, no entanto, na sexta muitos dos grevistas continuaram parados, chegando a fazer 66 pontos de bloqueios em Minas. Entre as medidas para conter a greve, o governo federal anunciou zerar a Contribui��o de Interven��o do Dom�nio Econ�mico (Cide) sobre o diesel.
A batata-inglesa foi o produto com maior varia��o de pre�o, com altas de at� 700% na saca de 50 quilos. Antes da greve, a saca era negociada em m�dia a R$ 70. No quinto dia da greve, na manh� de ontem, os pre�os giravam em torno de R$ 250. No entanto, alguns produtores chegaram a oferecer a saca a R$ 500, conforme relatou o propriet�rio de sacol�o do Centro de Belo Horizonte Leandro Tadeu da Silva, de 35 anos.
Devido � alta dos pre�os, ele comprou muito menos produto para seu com�rcio: das habituais cinco sacas, levou apenas uma. “N�o achamos mercadoria para comprar. O pre�o est� surreal. Quando repassamos para o cliente, ele acha que estamos roubando. Prefiro deixar minhas bancas vazias”, diz Leandro. No entreposto da Ceasa, costumam chegar de 20 a 30 caminh�es carregados de batatas, mas, ontem, chegou apenas um carregamento, dos produtores Gilberto Louren�o e Luiz Renato de Carvalho. A maior parte do produto negociado foi a sobra dos carregamentos que chegaram na quinta.
Caminhonetes
A varia��o do pre�o atingiu outros produtos, como o tomate e o lim�o. Painel eletr�nico com o fluxo de produtos informava que, na sexta-feira, dia 18, a Ceasa recebeu 28,5 mil caixas de tomate. Uma semana depois, chegaram apenas 3,5 mil, uma diferen�a de 25 mil caixas. A oferta pequena fez com que o pre�o da caixa do hortifr�tis aumentasse de R$ 35 para R$ 70.
“Se n�o tiver mais entrada, o tomate pode chegar a R$ 100 a caixa amanh� (hoje)”, afirma o produtor de S�o Jo�o de Manhua�u, Lucas Marques �lves Dutra, de 29, que conseguiu trazer 60 caixas em duas caminhonetes. Parte da colheita da semana estava prestes a se perder. O caminh�o com o carregamento estava parado havia quase 24 horas na BR-262 em Realeza, com 400 caixas. “Com caminh�o parado na pista, em dois dias perco toda mercadoria”, explicou. Para conseguir trazer o m�nimo de tomates, ele improvisou com caminhonetes que n�o estavam sendo impedidas de seguir nos bloqueios.
No entanto, sem conseguir abastecer os ve�culos, Lucas temia n�o conseguir retornar para fazer outros carregamentos. “Nosso preju�zo vai muito al�m do lucro que as pessoas pensam que temos com esse aumento dos pre�os. A gente n�o consegue trazer os produtos, que se estragam na estrada. Todo mundo perde”, afirmou Lucas. A comerciante Cleusa Melo da Silva, de 55, comercializava a saca de 20 quilos de lim�o a R$ 80, quase o triplo do pre�o praticado antes do in�cio da greve (R$ 30 a saca). Como o produto vem de Lagoa Santa, com os bloqueios das estradas, n�o foi poss�vel manter a oferta regular. Os comerciantes avaliavam que, se o abastecimento n�o se normalizasse, o pre�o poderia chegar a R$ 130.

A assessoria de comunica��o da Ceasa disse que a institui��o n�o est� se pronunciando sobre os efeitos da greve no abastecimento de produtos.

G�ndolas vazias em supermercados
A manifesta��o dos caminhoneiros tem feito muitos consumidores correrem aos supermercados para abastecer a geladeira e as prateleiras de casa. Em alguns estabelecimentos, com o grande n�mero de clientes e a falta de mercadorias para reposi��o, g�ndolas ficaram vazias no final da tarde de ontem.
Teve gente que preferiu se precaver e comprar mais do que est� acostumado. Caso da aposentada Raimunda Delfina dos Reis, de 77 anos. “Somos apenas duas pessoas em casa, mas como n�o sabemos se v�o liberar os caminh�es, � preciso garantir. Os impostos est�o t�o altos, temos direito de ter uma vida melhor, porque est� muito dif�cil desse jeito”, reclamou.
Gerente de um supermercado na Regi�o Central de BH, Robert Pacheco da Cruz diz que ainda n�o faltam produtos porque existe uma central de redistribui��o que tem estoque para abastecer as lojas da rede, mas as mercadorias que v�m de terceiros, que precisam de transportadora, est�o nos trechos, todos parados aguardando libera��o de pista”, complementa.

Al�m dos supermercados, os a�ougues tamb�m t�m sido afetados pelo desabastecimento. Segundo Wanderson Edson Pereira da Silva, gerente do a�ougue Xavier Carnes, no Bairro Santa Efig�nia, alguns produtos est�o em falta, como a carne de porco. “O que est� com estoque zerado � a carne de porco e a lingui�a”, afirma. Segundo ele, outros tipos de carne devem durar por poucos dias”, complementa o gerente.
Somos apenas duas pessoas em casa, mas como n�o sabemos se v�o liberar os caminh�es, � preciso garantir”
Raimunda Delfina,
Aposentada
An�lise da not�cia
Quem paga o pato?
Marta Vieira
Qualquer solu��o para p�r fim � greve dos caminhoneiros ficou mais dif�cil e levar� tempo que n�o se esperava, depois do an�ncio in�cuo do governo de um acordo para suspender o movimento e da evidente participa��o, agora clara, das empresas na greve, com base em relatos da pr�pria categoria. Se o governo n�o foi capaz o suficiente de convencer os caminhoneiros a voltar ao trabalho, percebe-se que precisar� de for�a al�m do poder de pol�cia para lidar com a estrat�gia ilegal das transportadoras de, por meio do locaute, for�ar eleva��o de pre�os ou tarifas de bens e servi�os, al�m de retirada de impostos. A popula��o tem raz�o de sentir, no quinto dia da paralisa��o dos caminh�es, que j� est� pagando esse pato e vai continuar a arcar com o desgaste e o preju�zo provocados pela greve.