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Estado de Minas ENTREVISTA/JO�O CARLOS MARCHESAN

"Protecionismo vai deixar marcas no com�rcio internacional"

Para o industrial, pa�s n�o pode promover de forma ing�nua abertura comercial unilateral


postado em 03/07/2018 06:00 / atualizado em 03/07/2018 08:28

(foto: Divulgação)
(foto: Divulga��o)

S�o Paulo – O industrial Jo�o Carlos Marchesan, dono da fabricante de m�quinas agr�colas Marchesan, est� no front da principal associa��o do setor de equipamentos do Brasil, a octogen�ria Abimaq.

A entidade, com 7,5 mil empresas associadas, representa 12% das exporta��es brasileiras. Rec�m-eleito pelo conselho para o mandato de 2018 a 2022, Marchesan tem tentado melhorar o ambiente de neg�cios para o setor industrial, reduzindo as amarras que, historicamente, castigam uma atividade que viu sua participa��o no PIB brasileiro cair de 21,6%, em 1985, para os atuais 11,4%.

 

Em entrevista ao Estado de Minas/Correio Braziliense, Marchesan alerta para os riscos de uma abertura comercial mal planejada, em meio a um ambiente de crescimento do protecionismo. “N�o podemos promover uma abertura comercial unilateral de forma ing�nua”, afirma. “N�o adianta, sem antes cuidarmos para que as condi��es de competi��o sejam iguais.”

 

Passada a turbul�ncia pol�tica, o Brasil deve retomar as negocia��es de livre-com�rcio com a Uni�o Europeia e de acordos bilaterais com v�rios pa�ses. Isso ser� bom para o pa�s?
A maior abertura do Brasil ao com�rcio internacional, com redu��o linear de al�quotas do imposto de importa��o, n�o se caracteriza como uma solu��o razo�vel para a inser��o do Brasil no livre-com�rcio. H� d�cadas temos estudado a quest�o. A conclus�o � que a sa�da n�o est� na simples redu��o de al�quotas, mas sim na cria��o de um ambiente de competi��o ison�mica. A Abimaq representa 12% do total das exporta��es de manufaturados do Brasil e � a favor da abertura comercial do pa�s. No entanto, n�o podemos promover uma abertura comercial unilateral de forma ing�nua. N�o adianta, sem antes cuidarmos para que as condi��es de competi��o sejam iguais. Antes, defendemos que o Brasil priorize uma agenda de competitividade, come�ando pelas reformas da Previd�ncia, tribut�ria e que desonerem os investimentos e as exporta��es.

Como a disparada do d�lar est� afetando o setor?
Talvez disparada n�o seja o termo mais adequado. Basta lembrar que o atual patamar de R$ 3,70 � praticamente equivalente, em termos reais, ao do in�cio do Plano Real, ou seja, quando corrigimos o valor pela diferen�a entre a infla��o brasileira e americana no per�odo. Ao se depreciar o real, faz com que os produtos brasileiros ganhem competitividade na exporta��o pelo fato de ficarem mais baratos em d�lares, enquanto os importados ficam mais caros em nosso mercado interno. � verdade que, no curto prazo, o aumento dos insumos importados nos pedidos em execu��o pode reduzir margens. Mas � um fen�meno transit�rio.

"Entregar, de gra�a, nosso mercado interno no momento em que os principais players internacionais est�o fazendo exatamente o contr�rio n�o � exatamente uma solu��o inteligente"



A Abimaq esperava que a moeda americana chegaria aos atuais patamares?
Ainda que projet�ssemos uma deprecia��o do real em fun��o do aumento de turbul�ncias externas e internas, t�nhamos uma previs�o mais modesta, com uma taxa de c�mbio ao redor de R$ 3,50 e R$ 3,60 para o segundo semestre. O d�lar atual � competitivo e industrializante. Essa cota��o faz com a ind�stria volte a ampliar as suas exporta��es.

Muito se fala sobre a improdutividade do trabalhador brasileiro, mas a Abimaq tem outra explica��o para essa equa��o, e que est� relacionada � baixa taxa de investimento. Isso ainda explica a produtividade baixa no pa�s?
A produtividade do trabalho no Brasil � baixa, cerca de um quarto dos pa�ses desenvolvidos, e tem crescido muito lentamente. Isso � resultado de muitas causas e seria excesso de simplifica��o atribu�-lo a um �nico fator como o estoque de capital produtivo, que � a rela��o entre o trabalhador e o investimento em m�quinas ao redor dele, por pessoa ocupada. Qualidade da m�o de obra, da qual educa��o � apenas uma parte, efici�ncia na gest�o dos recursos produtivos, log�stica de qualidade, ambiente de neg�cios favor�vel ao investimento produtivo, seguran�a jur�dica e um sistema tribut�rio que n�o penalize a produ��o s�o apenas alguns dos demais fatores que afetam a produtividade.


Mas o que tem um peso maior?
O que n�s dizemos � que quando esses fatores s�o colocados por ordem de sua import�ncia no c�mputo do resultado, de longe, a disponibilidade de recursos produtivos por pessoa ocupada � o fator que mais afeta a produtividade. N�o por acaso, o baixo investimento produtivo brasileiro em fun��o de juros extremamente elevados, principalmente para o investimento, mantidos ao longo de d�cadas, faz com que nosso estoque de capital produtivo seja da ordem de um quarto do dos pa�ses desenvolvidos.

"Os investimentos que pareciam sinalizar uma retomada est�o perdendo f�lego"



A indefini��o pol�tica tem prejudicado os investimentos da ind�stria?

Sem d�vida, a indefini��o pol�tica tende a reduzir as inten��es de investimento. Mas n�o � �nico fator: a frustra��o na retomada do crescimento com uma expectativa de crescimento do PIB da ordem de metade do previsto anteriormente, a continuidade de uma ociosidade elevada na ind�stria como um todo, a dificuldade na desalavancagem financeira e um ambiente externo complicado s�o todos fatores que certamente n�o ajudam os investimentos produtivos.

Em rela��o ao crescimento do protecionismo crescente das maiores economias do mundo, como isso prejudica do setor?
O crescente protecionismo, principalmente por parte dos Estados Unidos de Donald Trump, ainda que venha futuramente a refluir, vai deixar marcas no com�rcio internacional e nas cadeias globais de valor. As empresas transnacionais v�o reduzir investimentos externos, a divis�o internacional do trabalho sofrer� um grande rearranjo, o com�rcio internacional dever� perder protagonismo e os mercados internos dever�o aumentar sua import�ncia estrat�gica. Nestas circunst�ncias, n�o h� nenhum sentido na defesa de uma abertura unilateral que alguns setores do governo defendem. Entregar, de gra�a, nosso mercado interno no momento que os principais players internacionais est�o fazendo exatamente o contr�rio n�o � exatamente uma solu��o inteligente.

De todos os pr�-candidatos definidos at� agora, qual tem levantado a bandeira do fortalecimento do seu setor?
Os atuais candidatos a candidato est�o, como regra geral, evitando entrar no detalhamento de suas propostas econ�micas tanto por falta de planos estruturados quanto pelo fato de que, � medida que os candidatos come�arem a entrar nos detalhes, v�o crescer as resist�ncias de grupos que ser�o afetados pelas mudan�as. A Abimaq preparou um documento encaminhado aos presidenci�veis com as sugest�es do setor para a retomada do crescimento e est� convidando os atuais candidatos e respectivas assessorias econ�micas para um debate com seus associados exatamente para conhecer melhor as propostas de cada um.

A taxa Selic, em m�nima hist�rica, n�o tem sido capaz de estimular os investimentos?
A Selic relativamente baixa �, sem d�vida, um fator favor�vel ao investimento. � bom n�o esquecer, entretanto, que ningu�m empresta � taxa Selic. O financiamento mais barato para compra de m�quinas e equipamentos para pequenas e m�dias empresas continua sendo a Finame do BNDES. Na pr�tica, um financiamento Finame, considerando a TLP, o spread do BNDES e o “del credere” do banco repassador, custa, hoje, cerca de 14% a 15% ao ano, Comparando a uma infla��o prevista da ordem de 4% implica juro real superior a 10% ao ano, n�o � compat�vel com o retorno das empresas industriais, dentro de um ambiente ainda recessivo e sem um cen�rio de retomada sustentada.

Qual a sua previs�o para a economia brasileira neste ano e em 2019?
Os n�meros est�o sendo revistos para baixo. O crescimento do PIB deste ano dever� ficar ao redor de 1,5% e, em 2019, n�o dever� passar de 2,5%. O mais grave � que os investimentos que pareciam sinalizar uma retomada est�o perdendo f�lego.

De todos os segmentos da sua ind�stria, quais t�m sido os destaques positivos e os destaques negativos?
Os setores mais pr�ximos � ponta de consumo, como m�quinas para pl�stico e alimentos, por exemplo, t�m tido um comportamento um pouco acima da m�dia junto com m�quinas e implementos agr�colas, setor puxado por dois anos de boas safras e pre�os razo�veis. As �reas dedicadas a equipamentos pesados, com projetos espec�ficos realizados sob encomenda, s�o os setores que mais reduziram suas atividades e n�o mostram ainda sinais de melhora.

"A Selic relativamente baixa � um fator favor�vel ao investimento. � bom n�o esquecer, entretanto, que ningu�m empresta � taxa Selic'



Como as crises na Argentina e na Venezuela est�o afetando o setor no Brasil?
A Venezuela j� foi um cliente importante para os fabricantes brasileiros, mas, ao longo dos �ltimos anos, em fun��o de seus problemas internos, baixo crescimento econ�mico e falta de divisas, tem perdido mais e mais import�ncia. Atualmente, sua participa��o em nossas exporta��es n�o � significativa. J� a Argentina � nosso principal cliente na Am�rica Latina e uma crise mais pesada no pa�s vizinho poder� afetar negativamente nossas exporta��es.


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