
S�o Paulo – O executivo Rodrigo Sauaia, presidente da Associa��o Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), tem travado uma batalha em Bras�lia e nas sedes dos governos estaduais para tentar difundir o sistema de gera��o distribu�da, modelo que consiste na produ��o pr�pria de eletricidade em resid�ncias, empresas e ind�strias.
Atualmente, a energia solar representa menos de 1% da matriz el�trica brasileira, mas chegar� a 10% em 2030, e a 32%, em 2040, segundo proje��es da consultoria Bloomberg New Energy. Em entrevista ao Di�rios Associados, Sauaia afirma que o maior obst�culo para o setor � a elevada carga tribut�ria. Confira os principais trechos da entrevista.
Em que est�gio se encontra o setor de energia solar fotovoltaica no Brasil?
A energia fotovoltaica � uma tecnologia recente na matriz el�trica brasileira, mas com grandes oportunidades e que tem crescido nos �ltimos anos pelo forte interesse demonstrado pela popula��o e tamb�m em raz�o do ganho de competitividade que essa tecnologia traz. A fonte est� se tornando cada vez mais barata e acess�vel. Hoje, o Brasil tem menos de 1% da sua matriz el�trica atendida por energia solar fotovoltaica. Ent�o, � uma tecnologia que ainda est� em fase de inser��o na nossa matriz.
Qual � o potencial dessa fonte?
Segundo estudo da Empresa de Pesquisa Energ�tica, a fonte solar fotovoltaica poder� passar a representar aproximadamente 10% da matriz el�trica brasileira j� em 2030. Isso mostra que, ao longo dos pr�ximos anos, esse segmento deve crescer fortemente e a fonte solar fotovoltaica estar� cada vez mais presente no dia a dia das pessoas.
Na compara��o com pa�ses desenvolvidos, o Brasil est� bem posicionado nesse mercado?
Quando a gente compara a posi��o do Brasil com a de outros pa�ses, ainda temos muito a fazer. O pa�s est� mais ou menos 15 anos atrasado em compara��o com as na��es l�deres em energia solar fotovoltaica. � interessante notar que o Brasil, por outro lado, tem um dos maiores potenciais de energia solar fotovoltaica do mundo, porque tem �ndices de irradia��o solar superiores � m�dia mundial, al�m da �rea territorial vasta, e continental, e que pode ser bem aproveitada para gerar energia renov�vel, limpa e de baixo impacto ambiental por meio do sol.
"Mesmo com um dos maiores potenciais do mundo, o Brasil est� 15 anos atrasado em rela��o aos l�deres globais em energia solar fotovoltaica”
Qual � a posi��o do Brasil nesse ranking?
O Brasil, hoje, est� entre o 25º e 30º lugar no ranking mundial de pot�ncia acumulada em energia solar fotovoltaica. Esse ranking � liderado por pa�ses como China, seguida de Estados Unidos, Jap�o, Alemanha e It�lia. A �ndia tamb�m est� bem colocada. Quando a gente olha para quantidade, a pot�ncia, a� o Brasil aparece no top ten. Mas ainda estamos atrasados. Precisamos de a��es efetivas por parte do governo federal, governos estatuais e munic�pios, para acelerar o desenvolvimento dessa tecnologia, j� que o Brasil tem condi��es de ser uma lideran�a mundial em energia solar fotovoltaica, como j� � em outras fontes renov�veis como h�drica, e�lica e biomassa.
Quais s�o os maiores entraves, para o setor?
Um de nossos grandes desafios est� na carga tribut�ria, a tributa��o desigual, desequilibrada e injusta sobre a energia solar fotovoltaica. Os tributos que incidem sobre os equipamentos e insumos produtivos s�o muito elevados. Isso faz com que a energia solar fotovoltaica chegue � popula��o a um pre�o mais elevado do que poderia chegar. Ent�o, � muito importante que o governo realize uma corre��o na carga tribut�ria. Outro ponto � o financiamento para as fam�lias e empresas que querem investir na gera��o de energia solar fotovoltaica nos telhados de resid�ncias, com�rcios e ind�strias, e tamb�m linhas de financiamento para que o poder p�blico possa inserir essa tecnologia nas suas edifica��es, como escolas, hospitais, postos de sa�de, entre outros. Existem poucas linhas dispon�veis em condi��es competitivas e isso � fundamental.
"O aumento das tarifas de energia el�trica foi de impressionantes 10%. Isso pesou no bolso do consumidor”
As boas perspectivas de desenvolvimento de carros el�tricos t�m ajudado a incentivar investimentos em energia solar?
A energia solar fotovoltaica tem muita sinergia com novas tecnologias e inova��es. Ent�o, sim, carros el�tricos e o armazenamento de energia em baterias cada vez mais eficientes e baratas s�o fatores que t�m boa sinergia e conversam muito bem com a fonte solar fotovoltaica.
Por que ainda existem poucos fabricantes de placas e equipamentos voltados � gera��o de energia fotovoltaica no Brasil?
O Brasil tem cerca de 30 fabricantes de equipamentos de energia solar fotovoltaica, o que n�o � pouco. Na produ��o de m�dulos fotovoltaicos, j� atuam sete fornecedores instalados no pa�s. O setor gera milhares de empregos e paga milh�es em impostos.
A recente valoriza��o do d�lar n�o prejudica a importa��o, j� que encarece os custos dessa opera��o?
A varia��o cambial afeta o pre�o dos equipamentos fotovoltaicos e tamb�m os fabricantes com unidades no Brasil que compram insumos no mercado internacional. No entanto, a energia solar fotovoltaica tem tamb�m reduzido o pre�o de seus equipamentos de forma bastante contundente. Na �ltima d�cada, reduzimos mais ou menos entre 70% e 80% o pre�o dos equipamentos fotovoltaicos. � claro que quest�o cambial afeta os neg�cios, mas a tecnologia continua avan�ando para reduzir os seus pre�os, seus custos, e tornar essa energia mais democr�tica e acess�vel para a popula��o.
"Um dos grandes desafios est� na carga tribut�ria desigual, desequilibrada e injusta”
Qual segmento tem puxado mais o setor, o empresarial ou o residencial?
O crescimento tem sido equilibrado entre todos os segmentos. O setor residencial responde por cerca de 38% do mercado, enquanto estabelecimentos comerciais representam 44%. As ind�strias ficam com 9% dos neg�cios, � frente da atividade rural, com 6%.
Quais s�o os n�meros mais recentes de investimento no setor e quais s�o as perspectivas para os pr�ximos anos?
Seguramente ainda � preciso um envolvimento mais presente do governo federal e tamb�m de estados e munic�pios por meio de programas e pol�ticas de incentivo. N�s estamos 15 anos atrasados, como eu j� havia mencionado. A fonte solar fotovoltaica ainda representa menos de 1% da matriz el�trica brasileira, ou seja, de fato, h� muito a ser feito, e o governo precisa ter papel mais presente no desenvolvimento dessa tecnologia.
Falta uma pol�tica de estado mais agressiva para incentivar a energia solar?
Os munic�pios tamb�m podem fazer a sua parte e um bom exemplo disso est� em Palmas, no Tocantins, a primeira capital brasileira a desenvolver um programa solar fotovoltaico, e que tem trazido resultados positivos para o uso dessa tecnologia gra�as aos incentivos oferecidos pelos entes p�blicos.
Superadas as incertezas eleitorais, os investimentos tendem a crescer?
A quest�o eleitoral � meramente conjuntural. � cedo para dizer como isso vai afetar as empresas. O que posso dizer � que o setor solar fotovoltaico tem crescido ao longo deste ano mesmo com o Brasil mergulhado no processo eleitoral. Isso � natural. O segmento � muito puxado pela pr�pria conjuntura que o Brasil vive, n�o na �rea pol�tica, mas na �rea econ�mica. O que isso significa? As tarifas de energia el�trica t�m subido de forma consistente e isso tem afetado a vida de milh�es de brasileiros. Apesar de a infla��o m�dia do pa�s estar em torno de 3%, o aumento das tarifas de energia el�trica foi de impressionantes 10%. Isso pesou no bolso do consumidor. Como resultado, as fam�lias buscaram alternativa, especialmente reduzir os gastos com energia el�trica. Em 2018, o reajuste das tarifas de energia el�trica dever� ficar entre 10% e 15%, percentuais nada desprez�veis, que v�o pesar mais uma vez no bolso do consumidor.
"Precisamos de a��es efetivas por parte do governo federal, estados e munic�pios, para acelerar o desenvolvimento dessa tecnologia, j� que o Brasil tem condi��es de ser uma lideran�a mundial em energia solar fotovoltaica, como j� � em outras fontes renov�veis como h�drica, e�lica e biomassa”