S�o Paulo – O vazio deixado pela pol�tica e o desinteresse da sociedade motivaram um grupo de empres�rios e representantes da sociedade civil a discutir nos �ltimos anos formas de estimular o brasileiro a participar da tomada de decis�es do pa�s. Na segunda-feira, ocorre em S�o Paulo um encontro que vai debater alternativas para dar protagonismo � popula��o em um per�odo t�o importante como o das elei��es de outubro.
O evento “Voc� Muda o Brasil” ser� dividido em tr�s pain�is, dos quais v�o participar os empres�rios e executivos Luiza Helena Trajano (presidente do conselho de administra��o do Magazine Luiza), Betania Tanure (s�cia-fundadora da Betania Tanure Associados), Pedro Passos (cofundador da Natura), Paulo Kakinoff (presidente da Gol Linhas A�reas), Pedro Wongtschowski (presidente do conselho de administra��o da Ultrapar), Rubens Menin (presidente do conselho de administra��o da MRV) e Walter Schalka (presidente da Suzano Papel e Celulose).
Tamb�m fazem parte da programa��o de debates Fabio Barbosa (presidente do Centro de Lideran�a P�blica e do Instituto Empreender Endeavor), Jair Ribeiro (presidente do Parceiros da Educa��o), Mario Sergio Cortella (professor, escritor e fil�sofo), Mayana Zatz (geneticista), Silvio Meira (professor, fundador e presidente do conselho de administra��o do Porto Digital), Priscilla Cruz da Fonseca (presidente do Todos Pela Educa��o) – representantes da sociedade civil, da academia e ONGs ligadas � educa��o.
O encerramento do encontro ser� feito pela ministra C�rmen L�cia, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). As discuss�es, que acontecer�o durante toda a manh�, ter�o tr�s eixos: “A urg�ncia do futuro”, “Educa��o e �tica para a transforma��o do pa�s” e “Sociedade civil protagonista do desenvolvimento”.
Per�Odo dif�cil
Presidente do conselho de administra��o da MRV, Rubens Menin diz que a participa��o empresarial e da sociedade civil em um per�odo t�o dif�cil do pa�s era necess�ria como forma de compensar o comportamento “omisso adotado at� agora”. “O grupo faz um mea culpa, particularmente o empresariado, por essa omiss�o, essa falta de participa��o nas discuss�es de temas importantes para o Brasil.”
Apesar de saber das desconfian�as que podem surgir em rela��o ao empresariado, Menin prega a uni�o da sociedade. “O Brasil tem de ser bom para todo mundo, n�o d� para funcionar na base do n�s e eles. Da� a import�ncia de termos isso como um prop�sito. Uma na��o n�o se torna desenvolvida na base da desuni�o, das disputas internas. Essa uni�o deve vir de interesses convergentes”, acredita o empres�rio.
Para Menin, cabe � iniciativa privada se voltar aos interesses gerais. Agora, com as elei��es, ele acredita que seja um momento necess�rio para canalizar as atuais demandas. “A sociedade est� machucada. Por isso precisamos que a renova��o pol�tica seja para melhor, com o prop�sito de uni�o, de interesse coletivo. Nosso grupo acredita que a melhor forma disso acontecer � mexer com a sociedade para que ela fa�a a melhor escolha.”
Voto consciente
Paulo Kakinoff, da Gol, um dos debatedores, diz que o movimento nasceu com a proposta de uni�o de diferentes setores. “Temos a convic��o de que todos os segmentos da sociedade podem e devem se unir na constru��o do pa�s que a maioria esmagadora da popula��o deseja. Uma das formas de a iniciativa privada atuar nesse processo � estimular a mobiliza��o popular em defesa, por exemplo, do voto consciente. Essa � uma das nossas principais causas”, explica.
Na an�lise do executivo da Gol, a tend�ncia � que os brasileiros queiram cada vez mais fazer parte da tomada de grandes decis�es que afetam o pa�s e que movimentos como esse ganhem mais ades�es conforme o esp�rito de luta coletiva aumentar.
“Essa participa��o vai crescer � medida que as pessoas forem percebendo que a inquieta��o delas � tamb�m a de muitos outros brasileiros. N�o � que a participa��o seja pequena. Ela talvez n�o esteja aglutinada. Tamb�m constatamos que temas caros � sociedade, como cidadania, educa��o e civismo, por vezes n�o s�o discutidos de forma mais aprofundada. Promover este f�rum de ideias e debates � um dos objetivos do evento”, explica Kakinoff.
Walter Schalka, outro debatedor, acredita que o caminho para mudan�as no atual quadro � por meio da participa��o. O protagonismo da sociedade, opina o executivo da Suzano, � a melhor forma de avan�ar para ter “um pa�s melhor, mais justo e mais �tico”. “Mas n�o podemos mais nos resignar com situa��es que est�o em desacordo com o que desejamos para o pa�s. Precisamos nos unir para que o que desejamos seja colocado em pr�tica.”
O surgimento de ambientes de discuss�o como o “Voc� Muda o Brasil”, iniciado h� cerca de dois anos, tem sido visto como um contraponto ao descontentamento de uma parcela crescente da popula��o com a atual situa��o do pa�s. Esse dissabor � visto n�o apenas nas redes sociais, nas conversas em fam�lia ou na mesa de bar.
Desconfian�a
As principais institui��es brasileiras t�m visto sua credibilidade encolher nos �ltimos anos e cada vez menos conseguem despertar a confian�a da popula��o. � o que mostram pesquisas como o �ndice de Confian�a na Justi�a de 2017, feita pela Escola de Direito de S�o Paulo, da Funda��o Getulio Vargas (FGV-SP), que revelou uma queda na confian�a da popula��o em praticamente todas as institui��es analisadas, na compara��o com o relat�rio de 2016. As que sofreram as quedas mais acentuadas foram o Poder Executivo (45%) e o Congresso Nacional (30%).
J� enquete do Datafolha, divulgada em junho passado, aponta que de cada dez entrevistados, sete (68%) declararam n�o confiar nos partidos pol�ticos, 67% n�o confiam no Congresso (o mais alto �ndice da s�rie hist�rica) e 64% t�m o mesmo sentimento em rela��o � Presid�ncia da Rep�blica. Entre 10 institui��es, as tr�s relacionadas ao universo da representa��o pol�tica lideram empatadas como as menos confi�veis do pa�s. As taxas de confian�a registradas para as mesmas institui��es foram, respectivamente, 31% (2% confia muito e 28% um pouco), 31% (3% confia muito e 28% um pouco) e 34% (5% confia muito e 29% um pouco). Por outro lado, as For�as Armadas foram avaliadas como a institui��o mais confi�vel (78%).
Alavanca de transforma��o
Betania Tanure, uma das organizadoras do grupo “Voc� Muda o Brasil”, conta que a iniciativa surgiu da preocupa��o com o momento do pa�s. Os participantes identificaram uma oportunidade de fazer reflex�es sobre poss�veis sa�das. Uma delas, explica, � o protagonismo da sociedade por meio do voto consciente. “N�o se trata de uma rea��o p�s-impeachment ou ao que surgiu com a Lava-Jato, mas um amadurecimento do empresariado, reunido em um grupo totalmente apartid�rio, onde n�o se faz a defesa de empresas ou de setores. A alavanca � o Brasil”, conta. O compromisso do movimento vai at� as pr�ximas elei��es, mas n�o � descartada a possibilidade de os encontros continuarem a acontecer. “O que queremos agora � contribuir com mais elementos para que o cidad�o comum avance no seu papel e fa�a parte das mudan�as que o pa�s tanto precisa”, completa Betania.