Em um ambiente ainda adverso ao cr�dito, o setor de cons�rcios d� sinais de maior dinamismo. Ap�s expans�o de 21% dos neg�cios em 2017, houve crescimento de 10% no primeiro semestre deste ano, na compara��o anual, segundo a Associa��o Brasileira das Administradoras de Cons�rcios (Abac). De acordo com o setor, isso reflete mudan�as para adequar os produtos � crise, com aumento de prazos, por exemplo, al�m da entrada de novos tipos de cons�rcios.
Criado na d�cada de 1960 no Brasil como uma alternativa financeira para compra de carros, o cons�rcio se sofisticou nos �ltimos anos e expandiu suas op��es. Hoje, consumidores e empresas podem participar de grupos para compra de carros, motos, im�veis, ve�culos pesados, servi�os e eletroeletr�nicos. Na pr�tica, � poss�vel adquirir de celulares a avi�es; de cirurgias pl�sticas a sistemas para gera��o de energia solar.
O prazo m�dio de dura��o dos cons�rcios de motos e autom�veis era de 60 meses. Depois da crise, passou a ser de at� 72 meses para motos e at� 84 meses para autom�veis. Segundo o presidente da Abac, Roberto Rossi, essa extens�o representa uma rea��o ao encolhimento da renda das fam�lias nos �ltimos anos e �s dificuldades das empresas. Na sua avalia��o, o brasileiro ficou mais seletivo na compra de bens dur�veis e servi�os.
"O efeito da crise foi que as pessoas passaram a pensar mais, a buscar fazer investimentos mais seguros. � a l�gica do planejamento para aquisi��o de um bem", diz o diretor comercial da BB Cons�rcios, Paulo Ivan Rabelo. Neste ano, at� agosto, a BB Cons�rcio vendeu cerca de R$ 7 bilh�es em cotas, com alta de 21% ante 2017.
O segmento de ve�culos automotores � o principal, representando perto de 65% do total dos neg�cios, aponta a Abac. Mas modalidades mais novas, como a de cons�rcio de servi�os, t�m ganhado espa�o. No primeiro semestre deste ano, os neg�cios no segmento somaram R$ 158 milh�es, alta de 61% em rela��o ao mesmo per�odo de 2017.
"Estamos falando de cotas para tratamento dent�rio, cursos educacionais, reformas, coisas para as quais n�o h� muitas linhas de financiamento", diz Rabelo. S� o BB fechou mais de R$ 100 milh�es em cons�rcios para servi�os neste ano.
O setor tem hoje 153 administradoras no Pa�s, segundo o Banco Central. H� dez anos, o n�mero chegou a ser mais que o dobro. De l� para c�, o mercado passou por um processo de consolida��o. A entrada de grandes bancos contribuiu para isso, assim como o aperto na fiscaliza��o das administradoras.
Diferen�a
Os pr�prios participantes lembram que o cons�rcio, apesar de ser usado para aquisi��o de bens, n�o substitui o cr�dito convencional. Isso porque h� uma diferen�a b�sica: quem faz um financiamento recebe o bem imediatamente e quem faz um cons�rcio precisa esperar ser sorteado ou, no limite, dar um "lance" superior ao dos demais participantes para "furar a fila".
Para o empres�rio Rudolfo Kretsch, o cons�rcio foi uma alternativa ao cr�dito convencional na hora de renovar a frota de ve�culos do seu neg�cio - a Sapiens Instituto de Tecnologia, uma distribuidora de material de avalia��o psicol�gica e livros t�cnicos, de Londrina (PR). "Participo de cons�rcios para pagar devagar. Quando sai uma cota, eu renovo o ve�culo", diz Kretsch, que tem 12 ve�culos para entregas.
A economista Isabela Tavares, da Tend�ncias Consultoria Integrada, diz que o mercado de cons�rcio para empresas ainda � pequeno, porque elas t�m mais acesso a outras op��es de cr�dito. No caso dos consumidores, ele funciona como uma esp�cie de complemento ao cr�dito banc�rio tradicional.
Inven��o brasileira
Produto financeiro tipicamente brasileiro, o cons�rcio foi criado por dois funcion�rios do Banco do Brasil em 1961, para atender �s necessidades de fam�lias rec�m-chegadas � capital federal, marcada por longas dist�ncias e transporte p�blico incipiente.
"Bras�lia apenas come�ava e o carro era um artigo de luxo na nova capital", conta o aposentado Luiz Ant�nio Horta, ex-funcion�rio do Banco do Brasil e filho de um dos criadores do cons�rcio, Luiz Henrique Horta.
Ele conta que o pai e um amigo, Jo�o Francisco Costa Meirelles, tamb�m funcion�rio do BB, montaram um grupo de pessoas que contribu�am todos os meses, com um valor, para comprar um carro, com sorteios entre os membros do grupo.
Apenas um modelo de carro era entregue pelo cons�rcio: o Fusca, da Volkswagen. O modelo deu certo. Os criadores do cons�rcio chegaram a administrar 700 grupos, cada um com dezenas de participantes. Em pouco tempo, a ideia come�ou a ser replicada e virou um produto financeiro. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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