S�o Paulo – A desvaloriza��o do real e o aumento dos pre�os dos combust�veis t�m sido at� agora os dois principais empecilhos aos planos de crescimento das companhias a�reas brasileiras. No caso da Avianca Brasil, mesmo que sob press�o desses dois fatores, a previs�o da empresa � aumentar em 25% o n�mero de passageiros transportados neste ano, frente ao desempenho de 2017.
Mantido o n�vel do c�mbio a partir de agora, e diante das elei��es, Frederico Pedreira, presidente da opera��o brasileira da Avianca, avisa que o aumento no valor das passagens ser� inevit�vel e poder� ocorrer ainda neste ano, a despeito de seus reflexos na demanda.
Nesta entrevista aos Di�rios Associados, o executivo, formado em engenharia aeroespacial pela Universidade de Lisboa e a francesa Supaero, conta como o mercado brasileiro de avia��o vem se comportando num ano dif�cil e como a companhia deve se movimentar em rela��o � tend�ncia crescente no setor: as alian�as estrat�gicas com grupos internacionais, como a que vem sendo costurada agora com a Avianca do Brasil.
O executivo tem mais de 10 anos de experi�ncia na avia��o comercial, com passagem pelas �reas financeira, de estrat�gia e de projetos da Avianca Holdings (Col�mbia) e da TACA Holdings (El Salvador).
Este ano tem se mostrado melhor para a avia��o. A pr�pria Avianca aumentou sua participa��o de mercado. At� o fim do ano a companhia conseguir� avan�ar mais?
Neste ano, por um lado, estamos vendo um crescimento da demanda, mas por outro o custo do combust�vel e o impacto do d�lar na opera��o tem complicado muito nos �ltimos quatro meses. Para se ter uma ideia, desde abril o combust�vel encareceu quase 40%.
Ser� preciso repassar o aumento de custos para as passagens?
Sem d�vida, se as condi��es continuarem assim o aumento ser� inevit�vel. No acumulado no ano, a tarifa a�rea aumentou menos que a infla��o. Nos �ltimos dois a tr�s meses, os pre�os subiram um pouco, mas infinitamente menos do que os custos das companhias a�reas. Em um primeiro momento, as empresas tentam absorver essa alta de custos, mas n�o h� f�rmula m�gica. Se a situa��o continuar assim as passagens v�o ter de subir. O combust�vel no Brasil � um dos mais caros do mundo e representa cerca de 35% dos custos de uma empresa a�rea.
Quando o aumento dever� ser aplicado?
Sou um eterno otimista. Uma vez passadas as elei��es, seja qual for o resultado, o real, ante o d�lar, vai voltar a n�veis um pouco mais favor�veis. Outubro vai ser muito importante para definir como ser� essa nova realidade p�s-eleitoral.
Qual � a proje��o que a companhia est� fazendo em rela��o ao d�lar?
Estamos trabalhando com dois cen�rios para o pr�ximo ano, um com o d�lar a R$ 3,70 e outro a R$ 4,10.
Com uma varia��o t�o grande projetada para 2019, existe chance de haver impacto na oferta de voos?
Eu n�o diria que poderia haver uma redu��o de voos, mas sim repensar o rumo do crescimento, porque a confian�a no avan�o do setor acaba diminuindo.
At� que ponto influencia qual partido pol�tico assumir� a Presid�ncia do pa�s em 2019?
O que faz diferen�a para n�s � terminar essa fase de incertezas. Mais do que o candidato eleito, torcemos mesmo para o fim do per�odo de indefini��o.
Quais efeitos a entrada de companhias a�reas internacionais de baixo custo no mercado brasileiro pode provocar? Haver� guerra de pre�o?
Sinceramente, � algo que n�o me preocupa. H� sempre uma sensa��o de que a passagem a�rea � cara no Brasil. Comparando tarifas m�dias no Brasil na Europa, a diferen�a n�o � muito grande. O valor m�dio de uma passagem no Brasil � de R$ 300, o que d� 60 euros. Preocupa muito mais saber como ser� o crescimento econ�mico no pr�ximo ano e como estar� o d�lar.
Mas existe diferen�a grande entre o poder aquisitivo do brasileiro e do europeu...
Por isso, h� uma oportunidade imensa de o setor crescer no Brasil. Basta ver como esse custo m�dio de passagem tem evolu�do no Brasil nos �ltimos 15 anos, quando a tarifa m�dia era de cerca de R$ 600 e hoje caiu praticamente pela metade.
As empresas de baixo custo conseguir�o oferecer pre�os competitivos?
Nossos pre�os j� s�o altamente competitivos e nesse momento nenhuma companhia a�rea com uma opera��o rent�vel conseguir� alterar as tarifas m�dias aplicadas no Brasil, at� porque o pa�s j� � um mercado muito competitivo.
As fontes adicionais de receita, como a taxa para despachar bagagem e para reservar assento, j� t�m participa��o significativa para a companhia?
Hoje, ainda representam muito pouco para a Avianca, comparado ao que ocorre em mercados mais maduros. Mas isso vai ser uma tend�ncia porque permite customizar melhor a oferta para o passageiro. Quem n�o quiser despachar uma bagagem pode comprar determinado tipo de tarifa, enquanto quem quer despachar vai comprar outro tipo. Vimos nesse �ltimo ano que, se o passageiro quer viajar sem bagagem, ele dificilmente pagar� depois para despach�-la no aeroporto.
Mas a tend�ncia � de que os pre�os aumentem a uma velocidade maior no caso dos servi�os j� oferecidos ou que surjam novos servi�os?
Falando pelo setor, n�o como Avianca, a tend�ncia � de que vejamos mais servi�os, com a customiza��o crescente, o que vai permitir que se ofere�a mais tarifas promocionais aos passageiros. Mas s� � poss�vel saber quanto as tarifas podem cair � medida que tivermos uma ideia de como a oferta no mercado brasileiro ir� de comportar.
A Avianca se posicionou contra a joint-venture entre os Correios e a Azul. Qual � a raz�o?
Neste momento, eu n�o posso falar muito sobre o assunto porque � um processo que ainda est� correndo. O fato � que n�s temos d�vidas sobre como o processo foi realizado, porque ningu�m mais foi consultado.
A d�vida � quanto � raz�o de os Correios n�o terem aberto esse processo a outras companhias a�reas?
Exatamente. Infelizmente � algo que n�o est� nas minhas m�os, mas eu espero que sim, que haja abertura para um di�logo.
Num momento em que o com�rcio global est� em xeque, devido � animosidade entre Estados Unidos e China, que tipo de ganho se pode esperar de alian�as globais entre as companhias a�reas? A Avianca Holdings, a Copa Airlines e a United Airlines est�o negociando. A Avianca Brasil poderia fazer parte dessa alian�a?
Esse � um movimento natural do mercado, visto em outras partes do mundo. Olhando para frente, quando penso nas Am�ricas, acredito que dentro de pouco tempo teremos tr�s grandes grupos mais alinhados, que representam as alian�as globais, ou seja, One World, Sky Team e United. Estamos vendo isso entre Estados Unidos e Europa, por exemplo, por meio de joint-ventures. E naturalmente as empresas se aproximam dos parceiros das alian�as das quais fazem parte. A parceria mais avan�ada nesse momento � entre a American Airlines e a Latam. Outra � entre a Gol e as empresas da Sky Team e a terceira � entre a Avianca e as empresas alinhadas com a Star Alliance.
No caso da Avianca Brasil, a empresa segue o que for decidido pela Avianca Holdings?
S�o dois processos totalmente diferentes. Uma � a Avianca Brasil, j� a outra trata do espectro da Am�rica Latina com os Estados Unidos. Acredito que em breve veremos uma parceria estabelecida para Estados Unidos e Am�rica Latina como um todo.
As negocia��es envolvendo a Avianca Brasil j� come�aram?
Sim, j� est�o ocorrendo, mas n�o acredito que seja algo para este ano, porque s�o discuss�es longas. Mas � algo que vamos anunciar na primeira metade do pr�ximo ano, com certeza.
Por que a fus�o entre Avianca Brasil e a Avianca Holdings ainda n�o ocorreu?
No longo prazo, a tend�ncia � nos alinharmos cada vez mais, seja por meio de parcerias comerciais, como j� temos hoje, ou joint-ventures. Atualmente, tanto a Avianca Brasil quanto a Avianca Holdings t�m v�rios projetos que est�o tomando muito tempo. N�o h� uma urg�ncia de fazer no curto prazo. No caso da Avianca Brasil, a expans�o internacional � algo que tem demandado muito tempo. � uma tend�ncia, ocorrer� no m�dio a longo prazo e n�o ocorreu at� hoje porque os est�gios das duas empresas s�o diferentes.
Como executivo de uma grande companhia, e cidad�o, qual � a expectativa para 2019?
Vimos, por exemplo, que muitos projetos de infraestrutura acabaram sendo adiados, o que afeta o setor. Gostaria do retorno ao crescimento econ�mico em n�veis mais saud�veis da pol�tica cambial no Brasil, fator que mais impacta a empresa. Depois disso, � claro que h� v�rios pontos importantes para a avia��o. Esperamos um governo que entenda a necessidade de tornar as pr�ticas da avia��o brasileira mais alinhadas com as internacionais. Al�m disso, enquanto tivermos um dos combust�veis de avia��o mais caros do mundo, em tributa��o de ICMS (Imposto sobre a Circula��o de Mercadorias e Presta��o de Servi�os), isso vai provocar peso muito importante para o setor. N�o faz sentido que um voo de S�o Paulo para Salvador seja mais caro do que um voo de S�o Paulo para Buenos Aires. Nesse trecho nacional, paga-se 25% de ICMS sobre o combust�vel. J� no voo para Buenos Aires, a tributa��o � zero.
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