O novo presidente do Brasil, a ser eleito neste domingo, ter� perdido o mais recente ciclo de expans�o da economia mundial, e vai assumir as r�deas do oitavo maior PIB do planeta em meio a uma tend�ncia de desacelera��o em 2019.
Indicadores reunidos por diferentes organiza��es ao longo dos �ltimos meses apontam que as tens�es comerciais - em especial entre China e Estados Unidos -, o aperto das condi��es financeiras em mercados emergentes e os riscos pol�ticos em todo o globo - inclusive no Brasil - devem frear a performance global.
O sinal de alerta para o fim de um ciclo de alta foi soado h� um m�s pela Organiza��o para a Coopera��o e o Desenvolvimento Econ�mico (OCDE), que re�ne 36 pa�ses - Brasil exclu�do. Desde ent�o, os sinais de alerta para o come�o de uma nova desacelera��o se multiplicam.
Se at� o fim de 2017 e o in�cio do ano, a perspectiva era de expans�o generalizada do PIB, o cen�rio hoje apresenta disparidades nacionais importantes, o que levou a organiza��o a revisar os progn�sticos de crescimento para baixo: 3,7% em 2018 e em 2019.
O porcentual pode parecer elevado, mas esconde situa��es d�spares que podem trazer instabilidade para todos. O com�rcio internacional vem se contraindo, o n�vel de investimento � inferior ao estimado h� dois anos e a massa salarial registra crescimento marginal na maior parte dos pa�ses da OCDE, mesmo com o desemprego abaixo dos n�veis pr�-crise internacional.
O resultado � que 10 pa�ses, mais o conjunto da zona do euro - 19 na��es - tiveram uma revis�o do PIB para baixo, incluindo EUA, Alemanha, Fran�a, It�lia, Reino Unido, Brasil e Argentina. Apenas quatro na��es - Austr�lia, China, Jap�o e R�ssia - ficaram est�veis.
Nos �ltimos dias, a sondagem trimestral realizada pela ag�ncia Reuters com 500 economistas de todo o mundo indicou a expectativa de desacelera��o em 41 dos 44 mercados estudados. Na Europa, por exemplo, um dos fantasmas que pairam sobre o bloco de 28 pa�ses � o Brexit, o div�rcio entre Uni�o Europeia e Reino Unido.
A seis meses do in�cio da separa��o, os termos da ruptura ainda s�o desconhecidos. O resultado � que �ndices de bolsas de valores como o DAX, de Frankfurt, refer�ncia no continente, confirmam a chegada de uma nova fase de instabilidade tamb�m para empresas e investidores, com queda de 14% desde janeiro, segunda pior desde 2011.
Comparado a uma cesta de moedas de parceiros comerciais americanos, o d�lar vem se tornando outro fator de instabilidade ao registrar nas �ltimas semanas o mais alto valor em 25 anos. Ao longo da hist�ria, essa realidade vem acompanhada de importa��es mais caras para pa�ses como o Brasil e de aumento da taxa b�sica de juros do banco central americano - e, por extens�o, em grande parte do mundo.
Se de fato acontecer, o garrote na liquidez encerrar� um ciclo de quase 10 anos de expans�o, com efeitos ainda imprevis�veis - mas com potencial recessivo, como estima o pr�mio Nobel de Economia, Edmundo Phelps.
D�lar
A cota��o do d�lar, que produz uma taxa de c�mbio desfavor�vel para os pa�ses importadores, tamb�m pressiona para cima o pre�o do petr�leo, cujo barril saiu de menos de US$ 50 h� um ano para mais de US$ 65 nos �ltimos dias. Mas os principais sintomas da encruzilhada da economia mundial v�m das duas maiores pot�ncias: Estados Unidos e China. A economia americana deve crescer 2,9%, em 2018, e 2,7%, em 2019, confirmando uma fase de opul�ncia, mas com vi�s de baixa. J� a chinesa tende � desacelera��o, com crescimentos de 6,7% e 6,4% nos dois anos, ambos inferiores ao �ndice de 2017, 6,9%.
Essa situa��o leva analistas a acreditarem que a expans�o da economia mundial ser� desigual de pa�s para pa�s, e n�o mais generalizada. Dentre todos, talvez o principal dos fatores de incerteza � a poss�vel guerra comercial entre EUA e China. O confronto, se se aprofundar, poderia custar at� 0,7% do PIB por ano � economia chinesa, segundo estudo de Prashant Chandran, diretor de derivativos da consultoria Western Asset.
Para Jean-Paul Betbeze, presidente da Betbeze Conseil, de Paris, e ex-economista-chefe do banco Cr�dit Agricole, a economia mundial enfrenta riscos m�ltiplos, nas bolsas, no sistema financeiro, nas taxas de c�mbio e na pol�tica monet�ria, na desacelera��o da China e na instabilidade pol�tica.
M�ltis est�o reticentes
O novo governo brasileiro tamb�m enfrentar� um cen�rio internacional de contra��o de investimentos diretos. Em 2018, a queda mundial foi de 41%, e o mercado n�o espera uma recupera��o para 2019. N�meros da Organiza��o das Na��es Unidas (ONU) revelam que as multinacionais est�o sentadas hoje em ativos de US$ 6 trilh�es e hesitam em investir, em parte por conta das incertezas geradas pela guerra comercial.
Para empres�rios e especialistas, esse capital ser� atra�do por pa�ses que se mostrarem competitivos. "Reformas s�o necess�rias no Brasil", disse ao Estado Borge Brende, presidente do F�rum Econ�mico Mundial. "Um pouco j� foi feito. Mas essa tend�ncia precisa continuar."
O F�rum j� est� em contato tanto com a equipe de Jair Bolsonaro (PSL) quanto com a de Fernando Haddad (PT) para que, definida a elei��o, o vencedor seja convidado a viajar para a Su��a em janeiro para explicar ao mundo quais s�o seus projetos para o Brasil. "No longo prazo, o Brasil tem enormes oportunidades. Mas, no curto prazo, existem desafios reais que ter�o de ser lidados", disse Brende, que foi o chanceler noruegu�s entre 2013 e 2017. "O Pa�s tem condi��es de superar isso. Educa��o e inova��o ter�o de ser incentivados."
De olho
As grandes multinacionais tamb�m acompanham com aten��o o que ocorre no Brasil. Em 2018, com a crise pol�tica, houve uma queda de investimentos de 22%. Para executivos, por�m, a dimens�o do mercado nacional mant�m o Pa�s entre os focos de aten��o.
Paul Bulcke, presidente mundial da conselho de administra��o da Nestl�, garante que, seja qual for o resultado das elei��es no Brasil, a maior multinacional do setor da alimenta��o continuar� a investir no Pa�s. "Somos uma empresa que pensa no longo prazo", justificou.
Nos resultados publicados pela companhia na semana passada, o cen�rio para o Brasil voltou a ser positivo para a Nestl�. "A Am�rica Latina viu um crescimento org�nico positivo e acelerou no terceiro trimestre", apontou em um comunicado que indicou expans�o de cerca de 5%. "Apesar de um ambiente comercial desafiador, o Brasil voltou a ter um crescimento positivo no terceiro trimestre", informou a multinacional. Ra��o animal, caf� e doces registraram um bom desempenho em toda a regi�o das Am�ricas.
Investimentos
No primeiro semestre, a Nestl� anunciou investimento de R$ 200 milh�es para ampliar a produ��o em f�brica da Nescaf� Dolce Gusto no Brasil, em Montes Claros (MG). Em 2017, a multinacional j� havia anunciado um investimento de R$ 270 milh�es em uma nova f�brica da Purina, de ra��es, em Ribeir�o Preto (SP).
Na primeira d�cada deste s�culo, a expans�o da economia brasileira resultou em ganhos reais para a multinacional. Os balan�os da empresa mostraram que o Brasil terminou 2011, por exemplo, como terceiro maior mercado, posi��o que j� havia conquistado em 2010 ao superar a Alemanha em vendas.
Mas a recess�o n�o poupou nem a poderosa multinacional. Em seu informe anual sobre seus resultados de 2017, a Nestl� indicou que no Brasil teve um crescimento org�nico negativo diante de "press�es deflacion�rias (...), em especial no setor l�cteo."
Preste aten��o
1. Fatores
Diferentes organiza��es ao longo dos �ltimos meses reuniram indicadores apontando que as tens�es comerciais, o aperto das condi��es financeiras em mercados emergentes e os riscos pol�ticos em todo o globo devem frear a performance global.
2. OCDE
A organiza��o, que re�ne 36 pa�ses, emitiu seu sinal de alerta h� um m�s. Se at� o fim de 2017 e o in�cio do ano, a perspectiva era de expans�o generalizada do PIB, o cen�rio hoje apresenta disparidades nacionais importantes. Os progn�sticos de crescimento foram revisados para baixo: 3,7% em 2018 e em 2019.
3. C�mbio
A cota��o do d�lar, que produz uma taxa de c�mbio desfavor�vel para os pa�ses importadores, tamb�m � um agravante para a desacelera��o.
4. Pot�ncias
Os principais sintomas da encruzilhada da economia mundial v�m dos Estados Unidos e da China. Se o confronto entre os dois se aprofundar, poder� custar at� 0,7% do PIB por ano � economia chinesa. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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