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Estado de Minas ECONOMIA

'Candidatos vencem elei��es prometendo um passado idealizado', diz Pascal Lamy


postado em 03/11/2018 08:27

O fracasso de pol�ticos pelo mundo em garantir progresso econ�mico e um governo limpo, aliado a velocidade tecnol�gica e desconfian�a nas institui��es, abriu espa�o para o surgimento de l�deres populistas. Quem faz o alerta � Pascal Lamy, uma das principais refer�ncias mundiais no com�rcio, ex-comiss�rio da UE e ex-diretor-geral da Organiza��o Mundial de Com�rcio (OMC). Para ele, n�o h� d�vidas: as democracias est�o em perigo.

Em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S. Paulo, o franc�s tamb�m deixa claro que l�deres t�m vencido elei��es prometendo um "passado idealizado". "Sab�amos que Hitler e Mussolini foram de alguma forma eleitos e acredit�vamos que a vacina tinha funcionado. Mas n�o � o caso quando olhamos para deslizes perigosos ou sinais na Turquia, Hungria, Filipinas ou mesmo no Brasil", alertou.

Lamy, que por d�cadas fez seu nome como um defensor do multilateralismo, tamb�m faz um alerta sobre a situa��o da crise entre China e EUA. "Ou eles cooperam e o mundo ser� um lugar melhor, ou um EUA nacionalista vai querer agressivamente conter a China, que vai se desglobalizar como rea��o, e o mundo vai ficar um lugar mais perigoso", alertou. Leia os principais trechos da entrevista:

Por d�cadas, o sistema multilateral, com suas regras, parecia garantido. Hoje, ele est� duramente questionado. O sistema fracassou? O que est� na base desse questionamento?

O sistema baseado em regras multilaterais ajudou a abrir o com�rcio e promover o crescimento na maioria das economias, inclusive no Brasil, por muitos anos. Agora, est� sob ataque pelos EUA, que elegeram em 2016 um presidente que fez sua campanha numa plataforma mercantilista. Em outros lugares, o protecionismo � frequentemente, mas nem sempre, parte do discurso populista nacional. As raz�es para essa nova situa��o s�o tanto dom�sticas quanto internacional. Os sistemas sociais dom�sticos nos pa�ses desenvolvidos foram incapazes de lidar de forma adequada com as dores que a globaliza��o traz com suas efici�ncias e maior concorr�ncia, portanto mexendo com os sistemas de produ��o. Desigualdades tamb�m aumentaram muito. Tanto pelo fato de sistemas de bem-estar serem fracos - como nos EUA - ou por conta de seu encolhimento depois da crise de 2008, na Europa. No n�vel internacional, os livros de regras da OMC n�o foram ajustados �s
grandes mudan�as durante as �ltimas d�cadas, inclusive, mas n�o s�, com o surgimento r�pido da China com seu sistema de capitalismo de Estado. A velha forma de equiparar o jogo do com�rcio est� fora de sintonia com as realidades do s�culo 21. Se o ponto de Trump � de que a OMC precisa de reforma, ele est� certo.

A OMC est� preparada para dar uma resposta � guerra comercial que est� em andamento?

A OMC � o que seus membros, que s�o os que fazem as regras, decidem que ela seja. Cabe a eles usar essa entidade, que � melhor do que a maioria das outras organiza��es internacionais se olharmos a propor��o entre custo e efici�ncia, para lidar com os problemas no sistema e corrigi-los.

Os EUA deixaram claro que n�o v�o colaborar com os problemas do �rg�o de solu��o de disputas da OMC. O que est� em jogo quando o sistema passar a ter apenas um juiz, em 2019?

Os americanos t�m de ser mais claros sobre o que prop�em para arrumar seu problema com o �rg�o de solu��o. � para melhorar o sistema - que faria sentido ao meu ver - ou sobre romp�-lo por conta de sua natureza vinculante, o que seria um passo para tr�s na governan�a global? No primeiro caso, existe um amplo espa�o para manobrar e negociar. No segundo caso, � melhor se apressar para criar um �rg�o de solu��es sem os EUA ou mesmo uma alternativa "OMC menos EUA".

Esse � o momento mais perigoso da hist�ria da OMC?

Sim, o momento mais perigoso desde que o GATT/OMC foram criados. Mas o que est� em jogo � muito mais importante do que se o protecionismo vencer: abertura de com�rcio, crescimento, bem-estar. E no cen�rio mais amplo est� a rivalidade geopol�tica entre EUA e China. Ou eles cooperam e o mundo ser� um lugar melhor, ou um EUA nacionalista vai querer agressivamente conter a China, que vai se desglobalizar, e o mundo vai ficar um lugar mais perigoso.

Foi um erro aceitar a entrada da China na OMC com tais regras em vigor?

A China pagou seu bilhete de entrar para a OMC a um pre�o muito superior ao de outros pa�ses emergentes, como Brasil e �ndia. Sobre os subs�dios, hoje a principal �rea a ser reavaliada no que se refere ao equil�brio do jogo, eles n�o foram tocados quando ocorreu a entrada da China (� OMC) pelos demais pa�ses, desenvolvidos ou em desenvolvimento. Eles temiam que seus pr�prios subs�dios pudessem ser alvos de disciplinas tamb�m. Em retrospectiva, isso foi certamente m�ope. Mas n�o haver� uma segunda entrada da China � OMC. Outros tamb�m ter�o de trazer concess�es � mesa.

A democracia est� em perigo?

Sim, sem d�vida. Trata-se de uma mudan�a extraordin�ria para minha gera��o que pensou que n�o existe mais uma volta atr�s onde as democracias eram estabelecidas. Sab�amos que Hitler e Mussolini foram de alguma forma eleitos e acredit�vamos que a vacina tinha funcionado. Mas n�o � o caso quando olhamos para deslizes perigosos ou sinais na Turquia, na Hungria, nas Filipinas ou mesmo no Brasil. Pol�ticos eleitos frequentemente fracassaram em dar o que as pessoas esperavam - progresso econ�mico e social justo, um governo limpo e meio ambiente. Ao mesmo tempo, a instabilidade cultural aumentou e a confian�a nas institui��es caiu como resultado de uma mudan�a extremamente r�pida na tecnologia e em valores tradicionais. Por isso, o apelo de l�deres carism�ticos que prometem retornar a um passado idealizado.

No Brasil, o presidente eleito Jair Bolsonaro indicou que o Mercosul n�o � prioridade, deu sinais de alian�a com EUA e Israel. Questionou acordos internacionais, atacou China. A UE e outros que lutam pelo multilateralismo deveriam se preocupar com o fato de Trump ter agora um aliado nesses temas?

Vamos esperar para ver quando dos slogans de campanha de Bolsonaro se tornar�o realidade. Custo a acreditar que o Brasil possa emular os EUA. O Brasil n�o est� nem perto dos EUA em termos de tamanho econ�mico, tecnol�gico, cambial e militar. Aliar-se aos EUA em um antagonismo contra o resto do mundo, incluindo a China, seria uma aposta muito arriscada e com poucos benef�cios, enquanto reposicionar o Brasil num campo intermedi�rio me pareceria ser algo que oferecia mais oportunidades aos interesses do Pa�s. O Brasil que eu conhe�o � um pa�s orgulhoso, nunca um seguidor.

As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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