Passada a fase mais dura da crise que derrubou a constru��o civil, um dos empres�rios mais emblem�ticos do setor v� a aproxima��o de um "novo boom imobili�rio" no Pa�s. "S� gostaria que esse boom n�o fosse t�o grande quanto no passado", diz o fundador e presidente do conselho de administra��o da Cyrela, Elie Horn. Ele acredita que, com a retomada da economia e com uma solu��o para a devolu��o de im�veis, que est� em fase final de tramita��o no Congresso, o setor vai viver uma virada de mesa a partir do ano que vem.
A companhia j� sente os efeitos da recupera��o do Pa�s e acumula em torno de R$ 800 milh�es em vendas de outubro a novembro de 2018. "H� muito tempo n�o t�nhamos esse sabor. � muito gostoso ter clientes na porta, vender e assinar contratos", diz o empres�rio de 74 anos. A incorporadora lan�ou neste ano uma nova marca, a Vivaz, com foco em empreendimentos populares, dentro do programa federal de habita��o Minha Casa Minha Vida, que deve responder por 30% dos novos projetos nos pr�ximos cinco anos.
O otimismo de Horn com o setor se estende ao futuro governo, cuja equipe econ�mica ele classifica como "sensacional". O empres�rio � pr�ximo do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, com quem chegou a fazer neg�cios. Os dois investiram juntos, h� cerca de dois anos, na cria��o da Hospital Care, empresa voltada para a compra e administra��o de hospitais no Pa�s. Os aportes foram feitos pelo fundo Abaporu, da fam�lia Horn, e pela gestora Bozano Investimentos, da qual Guedes era s�cio e de onde agora est� se desligando para assumir o cargo p�blico a partir de janeiro.
Embora continue indo diariamente � Cyrela, Horn se afastou das tarefas executivas do dia a dia e passou o bast�o da presid�ncia para os filhos Raphael e Efraim. Ele est� fazendo um tratamento contra o Mal de Parkinson, doen�a que o acomete h� quase seis anos. Mas a maior parte do seu tempo est� voltada para a pr�tica do juda�smo, da filantropia e para reuni�es com outros empres�rios em busca de doa��es para causas sociais.
Em parceria com Rubens Menin, controlador da MRV, Horn lan�ou neste m�s a ONG Bem Maior, que atuar� na conscientiza��o e na mobiliza��o da sociedade civil para fomentar a��es sociais. A meta do movimento � dobrar a participa��o das doa��es empresariais em rela��o ao PIB brasileiro nos pr�ximos dez anos, passando de 0,2% para 0,4%. O pr�prio empres�rio est� puxando a fila, e j� anunciou o compromisso de doar em vida 60% de sua fortuna estimada em R$ 3 bilh�es para caridade. A seguir, trechos da entrevista.
Qual sua expectativa para o Pa�s em 2019?
Estou animad�ssimo. A equipe t�cnica do governo � muito boa, a equipe econ�mica � sensacional. Acho que estamos vivendo uma virada. Nos �ltimos dois meses, temos visto muitos lan�amentos e muitas vendas. Os n�meros s�o muito bons. Tudo nos leva a crer que teremos �timos quatro anos.
O sr. acredita que o governo tem capacidade de colocar em pr�tica as reformas e acelerar o crescimento da economia?
O governo depende da economia. Ele n�o tem como se sustentar sem um bom resultado da economia. E como a equipe t�cnica � muito boa, acredito que vai dar certo.
A melhora esperada para o Pa�s vai chegar de modo relevante ao setor imobili�rio?
Com certeza. O setor imobili�rio depende do Pa�s. Se o Pa�s vai bem, o setor tamb�m ir�.
O senhor planeja crescimento das opera��es da Cyrela no pr�ximo ano?
Se Deus quiser, vai ter crescimento. O �ltimo bimestre est� indo muito bem. Vendemos em torno de R$ 800 milh�es neste bimestre de outubro a novembro. H� muito tempo n�o t�nhamos esse sabor. � muito gostoso ter clientes na porta, vender e assinar contratos.
E como est�o os efeitos dos distratos?
O distrato � uma tristeza econ�mica, pol�tica e at� moral, pois n�o � normal que o vendedor receba o apartamento de volta depois de vendido. O incorporador toca as obras com o valor recebido das vendas. Se tem de devolver o dinheiro do apartamento, como fica? A empresa morre. S� sobrevivemos por milagre. Temos um caixa s�lido e bom planejamento, mas muitas empresas n�o sobreviveram.
O senhor ficou satisfeito com o teor da lei dos distratos? O projeto aprovado na semana passada no Senado, e que agora segue para a C�mara, prev� multa de at� 50% para o comprador do im�vel que optar pela rescis�o do neg�cio. At� ent�o, a multa era decidida por ju�zes e oscilava entre 10% e 25%.
Se for aprovado, sim (risos).
Se a lei de distratos for mesmo aprovada, quais seriam as consequ�ncias imediatas para o setor?
N�s aumentar�amos os investimentos imobili�rios. A regulamenta��o destrava decis�es de investimento ao se gerar mais confian�a e garantias. � uma virada de mesa. Daria in�cio a um novo ciclo para o setor. Ap�s superados anos de crise e com os distratos resolvidos, n�o tem mais nenhum problema que ir� segurar o boom imobili�rio. S� gostaria que esse boom n�o fosse t�o grande quanto no passado. N�s crescemos 100% ao ano por dois anos seguidos l� tr�s. Isso foi muito indigesto.
Os problemas desse crescimento exagerado afetam o balan�o da empresa ainda hoje. Isso est� superado?
Infelizmente tivemos problemas do passado com s�cios e empreendimentos locais (fora de S�o Paulo, local de origem da Cyrela), que mexeram com os resultados da empresa. Espero que n�o tenhamos mais surpresas negativas. E tamb�m tivemos muitos distratos, que afetaram os resultados. Foram R$ 9 bilh�es de im�veis em distratos nos �ltimos cinco a seis anos, isso � uma fortuna. Uma empresa s� aguenta isso se for muito bem preparada financeiramente. Acho que a partir de 2019, sem mais surpresas negativas, iremos entrar em resultados positivos por muito tempo.
Como a Cyrela vai se posicionar nesse potencial ciclo de crescimento?
Temos de vender bastante e aproveitar todas as faixas do mercado poss�veis. Erramos ao atrasar a entrada no Minha Casa Minha Vida, mas finalmente entramos. Esse mercado � a cara do Pa�s. At� alguns poucos meses atr�s, as �nicas empresas do setor que ganhavam dinheiro eram aquelas que estavam no Minha Casa.
H� seguran�a de que o novo governo dar� continuidade ao Minha Casa Minha Vida?
O Minha Casa e o Bolsa Fam�lia sustentam uma grande parte da popula��o. S�o dois projetos que n�o devem cair. E quem n�o fizer o Minha Casa corre o risco de ficar alienado, porque o programa j� responde por mais da metade do mercado. Olhando o futuro da Cyrela nos pr�ximos cinco anos, acreditamos que os lan�amentos do Minha Casa sejam em torno de 30%, enquanto os projetos de m�dio e alto padr�o, 70%. Mas isso pode variar.
O senhor criou uma nova ONG. Qual o objetivo dela?
Ela se chama Bem Maior e engloba um conjunto de dez causas, como combate � pobreza, defesa do meio ambiente, ataque � corrup��o na pol�tica, aux�lio aos idosos, e assim por diante. A ideia � promover a cultura da doa��o e cutucar o povo brasileiro a doar mais. Nossa meta � multiplicar por dois o PIB social brasileiro, de 0,2% para 0,4%. J� temos uma presidente para a ONG, que � a Carola Matarazzo. Ela foi presidente da Liga das Senhoras Cat�licas por 18 anos, tem muita experi�ncia. Quem n�o doa dinheiro, n�o doa dedica��o de si, n�o doa o que puder, vai sofrer na alma. O dinheiro foi feito para gerar prosperidade. A lei de Deus � dar, n�o s� guardar. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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