Com tr�gua na inadimpl�ncia, os grandes bancos brasileiros de capital aberto conseguiram entregar em 2018 lucros superiores aos gastos com calotes pela primeira vez desde a crise que o Pa�s atravessou e que custou tr�s anos de recess�o. Para 2019, o motor para os resultados dos pesos pesados do setor deve voltar a ser o cr�dito, que pode crescer dois d�gitos, conforme sinalizam as proje��es de desempenho j� divulgadas, principalmente, se a reforma da Previd�ncia for aprovada.
No ano passado, o lucro l�quido consolidado de Banco do Brasil, Ita� Unibanco, Bradesco e Santander Brasil atingiu R$ 73,208 bilh�es, aumento de 12,77% em rela��o a 2017, quando totalizou R$ 64,916 bilh�es.
A cifra superou em mais de R$ 5,5 bilh�es as despesas com provis�es para devedores duvidosos, as chamadas PDDs, que chegaram a quase R$ 68 bilh�es no exerc�cio passado, mais do que todo o patrim�nio l�quido do pr�prio Santander.
"Nos �ltimos dois anos, os resultados dos bancos foram direcionados pela queda de PDDs. No quarto trimestre, houve uma acelera��o do cr�dito, que serve de sinaliza��o para 2019.
Os resultados no ano ser�o direcionados pelo maior crescimento da carteira e com mix melhor, com foco na pessoa f�sica", avaliou o diretor de renda vari�vel da Eleven Financial, Carlos Daltozo, em entrevista ao Broadcast, sistema de not�cias em tempo real do Grupo Estado.
Juntos, Bradesco, BB, Ita� e Santander viram seu lucro l�quido alcan�ar R$ 19,558 bilh�es no quarto trimestre, aumento de 14,5% na compara��o com o mesmo per�odo do ano passado. Enquanto isso, os gastos com calotes encolheram em quase 12%, para R$ 16,636 bilh�es, no per�odo de refer�ncia.
O quarto trimestre ainda foi influenciado por resqu�cios das elei��es no Pa�s, na opini�o do analista da Genial Institucional, Eduardo Nishio. E, portanto, o que estava na mira dos analistas e investidores foram justamente os guidances de desempenho, que tradicionalmente s�o divulgados no in�cio do ano. "Os guidances foram bem positivos, com n�meros indicando aumento de dois d�gitos de lucro nos quatro grandes bancos", destacou Nishio.
O maior crescimento de lucros em 2019 deve vir por parte do Bradesco, que come�a a capturar sinergias de forma mais intensa com o HSBC, e ainda do Banco do Brasil, cuja estrada para melhora de rentabilidade � mais longa que a dos demais competidores.
Na sequ�ncia, o Santander Brasil, que tem avan�ado frente aos pares numa verdadeira colheita de frutos da reestrutura��o que fez em seu banco de varejo, tende a desacelerar o ritmo, mas ainda seguir forte. Por �ltimo, o Ita� Unibanco, cujos n�meros de retorno e lucro j� superam a concorr�ncia, tende a crescer em um ritmo mais ameno que os outros.
Cr�dito
Do lado do cr�dito, os bancos privados devem seguir crescendo em velocidade mais r�pida que os p�blicos, como j� aconteceu em 2018. O mais otimista � o Bradesco, com proje��o de alta de sua carteira de 9% a 13% neste ano, superior ao intervalo do concorrente Ita�, que expectativa de incremento de 8% a 11%. J� o BB, o mais conservador, prev� alta de 3% a 7%.
O presidente do BB, Rubem Novaes, explicou que a pol�tica de austeridade e saneamento na carteira do banco, que fez com que n�o houvesse um crescimento muito forte do cr�dito na institui��o, foi necess�ria, elogiando, inclusive, a gest�o anterior do banco. Apesar disso, ele recorreu � escola Keynesiana, consolidada pelo economista ingl�s John Keynes, para justificar o crescimento mais fraco dos empr�stimos.
"Os economistas keynesianos gostam da armadilha da liquidez (do ingl�s, liquid trap) que, em termos populares, significa o seguinte voc� pode levar um cavalo ao bebedouro, mas n�o pode obrig�-lo a beber. Com o cr�dito, essa quest�o se apresenta. Para aumentarmos o cr�dito, precisamos de demanda por parte dos empres�rios e consumidores", explicou Novaes, em sua primeira apari��o � imprensa em uma coletiva de resultados do BB.
O executivo v� a expectativa do banco alinhada � demanda esperada para "um cr�dito sadio", mas ponderou que se a reforma da Previd�ncia for "muito boa" e a economia "explodir", as proje��es podem ser revistas. "Temos bases diferentes de largadas e um outro movimento que � o mix da carteira", acrescentou o vice-presidente de neg�cios de varejo do BB, Marcelo Labuto, citando, por exemplo, a carteira de pequena e m�dia empresa, que ainda passa por um processo de saneamento, o que impacta no ritmo de crescimento dos empr�stimos.
O mix de cr�dito, ou seja, a composi��o das linhas de financiamentos que mais vai crescer, � o que dar� o tom da margem financeira dos bancos neste ano. As pr�prias institui��es acreditam na continuidade da queda dos spreads banc�rios (diferen�a de quanto o banco paga para captar e cobra para emprestar), o que vai for��-los a buscar expans�o em �reas mais rent�veis como, por exemplo, cart�es e cr�dito pessoal, para compensar o recuo das taxas.
"Os spreads ser�o naturalmente comprimidos. A solu��o � ganhar volume. Por isso, nossa rede est� muito empenhada em ganhar escala", disse o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari, em recente conversa com a imprensa.
Para a inadimpl�ncia, o banco e tamb�m o BB est�o mais otimistas e ainda trabalham com um cen�rio, conforme Daltozo, de queda das despesas com provis�es. Por outro lado, o Ita� espera manuten��o. A qualidade dos ativos deve permanecer em bons patamares, resultado de uma postura mais seletiva dos bancos no passado. Agora, se a acelera��o do cr�dito pode respingar na inadimpl�ncia no futuro, segundo Nishio, s� ser� poss�vel saber a frente.
O Ita�, que cogitava submeter ao seu Conselho de Administra��o a aprova��o de aumento de apetite de risco, desistiu, de acordo com o presidente do banco, Candido Bracher. Em entrevista � imprensa, o executivo explicou que a institui��o conseguir� crescer com as m�tricas atuais e que a proje��o de expans�o, de 8,0% a 11,0% neste ano, � vigorosa.
O crescimento do cr�dito neste ano se dar�, conforme o presidente do Ita�, principalmente na pessoa f�sica e nas micro, pequenas e m�dias empresas. "As decis�es de investimento de grandes empresas dependem da aprova��o da reforma da Previd�ncia", disse Bracher, acrescentando que esses grupos devem recorrer mais ao financiamento via mercado de capitais para colocarem seus projetos em pr�tica.
Receitas e ROE
Do lado das receitas com presta��o de servi�os e tarifas, os grandes bancos seguem conservadores a despeito da expectativa de retomada da economia. O �nico que prev� dois d�gitos de expans�o, embora n�o d� guidances de desempenho, � o Santander Brasil. "Isso est� baseado em uma s�rie de coisas como na demanda corporativa, cart�es (apesar da concorr�ncia) e digital", explicou o presidente do banco espanhol no Brasil, Sergio Rial.
Interessante tamb�m ser� acompanhar a disputa pelo posto de bancos mais rent�veis. Enquanto o Ita� segue com rentabilidade de 21,8%, o Santander conseguiu manter a segunda posi��o, com indicador recorde de 21,1%. Em terceiro, o Bradesco ficou com 19,7%. Lazari promete com tudo ir al�m dos 20% de retorno (ROE, na sigla em ingl�s) em 2019.
J� o BB reiterou o compromisso da gest�o passada de encostar nos pares privados em termos de rentabilidade. Ao final de dezembro, o retorno sobre o patrim�nio l�quido (RSPL) no quesito mercado do BB foi a 16,3% no quarto trimestre ante 14,5% em um ano. Segundo Novaes, o banco perde pelo fato de ser p�blico em rela��o aos pares. Tanto � que ele defendeu a privatiza��o do BB, embora n�o seja esse o desejo do governo de Jair Bolsonaro.
"Se o BB fosse privatizado, seria mais eficiente e ganhariam todos. Mas n�o � essa pol�tica do governo (de Jair Bolsonaro) de privatizar o banco. Espero que um dia se chegue a essa conclus�o de privatizar o banco e que o Pa�s um dia esteja preparado para isso", concluiu o novo presidente do BB.
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