
Pode perguntar para qualquer taxista ou motorista de aplicativo. Historicamente, a instala��o do kit GNV � sin�nimo de economia na hora de encher o tanque – um �timo neg�cio para quem ganha a vida no tr�nsito. Mas essa vantagem n�o existe mais. Desde o reajuste de 40,1% anunciado pelo governador paulista Jo�o Doria J�nior, e que pode motivar outros estados a seguirem o mesmo caminho, o setor vive um clima f�nebre. O payback, ou seja, o retorno do investimento na instala��o do kit, que antes variava entre sete meses a um ano para quem roda de 150 a 300 quil�metros por dia, agora deve levar mais de dois anos. Com isso, as mais de 7,3 mil oficinas credenciadas pelo Inmetro em todo o pa�s correm o risco de ficarem em apuros. “N�o tenho d�vidas de que mais da metade desses estabelecimentos ir�o fechar ainda neste ano”, disse o economista Paulo Macedo, especialista em finan�as pessoais e professor da Funda��o Escola de Sociologia e Pol�tica de S�o Paulo (Fesp-SP). “Com o pre�o que est� o g�s veicular nos postos de S�o Paulo e do Rio de Janeiro, os principais mercados consumidores do pa�s, a vantagem sobre o etanol e a gasolina � m�nima”, acrescentou Macedo. Na capital paulista, o pre�o no m³, antes encontrado em muitos postos por R$ 1,98, passa de R$ 3,10.
"Com o pre�o que est� o g�s veicular nos postos de S�o Paulo e do Rio de Janeiro, os principais mercados consumidores do pa�s, a vantagem sobre o etanol e a gasolina � m�nima"
. Paulo Macedo, economista
O custo de aquisi��o de um kit e a convers�o do ve�culo pode variar conforme a oficina. No entanto, a m�dia de pre�os R$ 3.990 – valor pode ser financiado em todas instaladoras. Antes, o investimento era amortizado pela economia mensal. Em um c�lculo simples, quem roda aproximadamente 2 mil quil�metros por m�s, por exemplo, poderia recuperar o valor em um ano e usufruir integralmente da economia nos anos seguintes. “O problema desses reajustes � que o reajuste do pre�o do g�s tem impacto direto no or�amento mensal de profissionais que j� est�o com as margens de lucro espremidas ou pr�ximas a zero, como motoristas de t�xi e de aplicativos”, completa o economista.
� ineg�vel que o novo pre�o do g�s reduz o apelo financeiro do combust�vel. Antes, o principal atrativo proporcionado a quem usa o GNV era economia de at� 53% na compara��o com a gasolina e de 50% frente ao etanol. O custo m�dio do quil�metro rodado com GNV, antes da alta, era de R$ 0,16, enquanto com etanol � de R$ 0,32 e de R$ 0,35 com a gasolina, de acordo com pre�os uma m�dia dos pre�os registrados pela Ag�ncia Nacional do Petr�leo, G�s Natural e Biocombust�veis (ANP). Em S�o Paulo, o custo do quil�metro com GNV passou para R$ 0,28, em m�dia.
Os novos pre�os do g�s tamb�m atingem empresas e consumidores resid�ncias. Os reajustes oscilam entre 9,63%, para a faixa mais baixa de consumo, at� 17,93%, no caso de quem possui um perfil de gasto mais alto. Os clientes comerciais tiveram reajustes entre 12%, entre os que t�m menor consumo, at� o limite de 25%. As ind�strias tamb�m v�o pagar entre 24,1% e 37,6% mais caro pelo g�s, aumentando os custos de produ��o e pressionando as margens de lucro. Em comunicado, a Companhia de G�s de S�o Paulo (Comg�s), concession�ria de distribui��o de g�s natural, alegou que a alta de 40,1% no GNV � uma “atualiza��o do custo do g�s natural, que reflete varia��es de pre�o do petr�leo e da taxa de c�mbio, e n�o impacta as margens da companhia, que permanecem inalteradas.” O aumento, com esse argumento, foi endossado e autorizado pela Ag�ncia Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de S�o Paulo (Arsesp).
O aumento do g�s e os impactos nefastos sobre o setor ainda n�o foram, ao que tudo indica, bem digeridos pela Associa��o Brasileira das Empresas Distribuidoras de G�s Canalizado (Abeg�s). Procurado pela reportagem, o presidente da entidade, Augusto Salomon, informou por meio de sua assessoria que n�o poderia comentar porque estava em viagem. O outro porta-voz da entidade, Marcelo Mendon�a, informou que est� de f�rias. A entidade tamb�m se esquivou de quest�es que envolvem os impactos dos reajustes sobre o setor.
Os problemas no setor de GNV, de fato, chegam em um momento em que o cen�rio se mostrava positivo para o mercado. Recentemente, a Uber assinou acordo com a filial brasileira da italiana Landi Renzo, uma das maiores fabricantes de kits GNV do mundo, para oferecer convers�o de ve�culos para g�s natural veicular, em estrat�gia para redu��o de custos dos motoristas parceiros da companhia. Embora n�o existam n�meros sobre esse setor, a Landi Renzo afirma ser l�der mundial no setor de componentes GNV e sistemas de combust�vel. A parceria com a Uber vale para todos os motoristas do aplicativo e oferece uma linha especial de financiamento para a aquisi��o e instala��o de sistemas Landi Renzo. “Esta oferta tamb�m responde a um desejo dos pr�prios motoristas para convers�o de seus ve�culos”, afirmaram as empresas, em comunicado conjunto. Mas, com o GNV custando mais de R$ 3, talvez n�o seja mais t�o desejado assim.