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Estado de Minas

Para Minist�rio P�blico do Trabalho, rotina dos motoboys � de explora��o

Tratados como aut�nomos, motociclistas t�m jornada de at� 14 horas por dia e recebem ordens, rebatem procuradores


postado em 10/03/2019 06:00 / atualizado em 15/03/2019 15:16

Sem garantia em caso de acidentes ou seguro, Victor Souza ficou afastado 15dias após acidente, e não teve renda(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press 18/2/19)
Sem garantia em caso de acidentes ou seguro, Victor Souza ficou afastado 15dias ap�s acidente, e n�o teve renda (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press 18/2/19)

Duas a��es civis p�blicas tramitam na Justi�a contra aplicativos que oferecem o servi�o de entrega. O Minist�rio P�blico do Trabalho (MPT), autor dos processos, pede o reconhecimento do v�nculo empregat�cio entre motociclistas e as empresas Loggi e IFood. Ainda n�o houve julgamento das a��es. Outras empresas tamb�m est�o sendo investigadas pelo MPT e um grupo de trabalho foi criado na institui��o para estudar as novas tecnologias.

“Embora se apresentem como empresas de aplicativo, a finalidade � transportar objetos. Elas, inclusive, estabelecem toda a rotina e prazo em que isso deve ser feito. O trabalhador recebe ordens e uma s�rie de requisitos pelo algoritmo”, afirma a vice-coordenadora nacional de Combate �s Fraudes nas Rela��es de Trabalho do MPT, a procuradora Vanessa Patriota, que diz se tratar de um “subordina��o cibern�tica”.


No atual modelo, motociclistas s�o considerados aut�nomos e tratados como parceiros. “Vivem de uma forma prec�ria, acreditando ser aut�nomos, trabalham 13 horas, 14 horas... “, refor�a. De acordo com a procuradora, a situa��o � similar ao cen�rio anterior � exist�ncia das leis trabalhistas. “Trabalhadores iam para a porta das f�bricas esperar servi�o”, compara. Ela ainda observa que o pagamento por produtividade � irregular. “� uma atividade de risco e isso aumenta o risco”, diz.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Motociclistas e Ciclistas de Minas Gerais (Sindmoto-MG), Rog�rio Santos Lara, denuncia o descontrole do setor com a entrada da tecnologia. “J� estava ruim e o aplicativo s� aumentou a bagun�a”, diz. O sindicalista afirma que pessoas sem preparo est�o atuando na atividade e com ve�culos sem a placa vermelha.

“Entra porteiro, entra padeiro, � s� baixar. Ningu�m sabe mais quantos somos. O cara vira escravo do aplicativo, fica � disposi��o deles. N�o tem nenhuma exig�ncia”, diz Lara, que calcula mais de 30 mil motociclistas atuando na regi�o metropolitana antes da explos�o dos aplicativos.

O motociclista Victor Hugo Souza, de 37, vive, literalmente, a dor e a del�cia da vida das entregas usando os softwares. No setor h� 18 anos, ele conseguiu mais dinheiro depois que se cadastrou nos apps, h� cerca de 2 anos. Tem v�rios sistemas na tela do celular e sem carteira assinada recebe, livres, de R$ 2 mil a R$ 3 mil ao m�s. “Quanto mais produzo, mais ganho”, destaca.

Mas, se n�o produz, n�o tem qualquer garantia ou seguro. No ano passado, Victor Souza ficou 15 dias sem trabalhar por causa de um acidente em que fraturou o osso da canela. “Estava correndo por causa do hor�rio da entrega. O aplicativo ainda me descontou os R$ 16,90 do a�a� que n�o consegui entregar. Com dois filhos pra criar, n�o d� para parar”, diz. “No come�o � uma maravilha, agora a gente sofre com a concorr�ncia”, diz.

REGULAMENTA��O A Lei Federal 12.009, de 2009, regulamenta a atividade de motoboys e as regras para o motofrete no pa�s. Entre as exig�ncias est�o ter 21 anos, habilita��o de moto por pelo menos dois anos, ter certificado de curso especializado, estar vestido com colete de seguran�a. A legisla��o aponta como infra��o admitir o uso de moto para transporte remunerado de mercadorias que esteja fora das normas, al�m de destacar que o munic�pio e o estado tamb�m t�m a compet�ncia de regulamentar a atividade.


Para prestar o servi�o de motofrete na capital mineira, � necess�rio que o condutor se cadastre na BHTrans, fa�a a inspe��o t�cnica semestral da motocicleta e registre o ve�culo no Departamento de Tr�nsito de Minas Gerais (Detran-MG), na categoria aluguel, que usa a placa vermelha. N�o existe, entretanto, regulamenta��o municipal para aplicativos de motofrete e poucos exigem uso de motocicleta com a placa especial.

Apesar do crescimento do setor e a entrada de motoristas sem a regulamenta��o do mercado ap�s os aplicativos, a fiscaliza��o, a cargo da Pol�cia Militar (PM) e da Guarda Municipal n�o reflete esse cen�rio. De acordo com estat�sticas do Detran-MG, as multas por conduzir motocicleta efetuando transporte remunerado em desacordo com as normas passaram de 504, em 2015, para 466, em 2018, queda de 8%. A reportagem do Estado de Minas n�o contabilizou multas aplicadas a ve�culos sem licenciamento, j� que n�o h� descrimina��o do tipo – autom�vel, moto, etc.

Em nota, o iFood informa que segue a legisla��o e refor�a que os entregadores s�o “um dos principais parceiros”. De acordo com a assessoria de imprensa da empresa, s�o feitos investimentos em tecnologia para limitar o per�metro de atua��o dos entregadores nas rotas entre o restaurante e consumidor.

“A empresa reitera que suas atividades geram oportunidade de renda para milhares de entregadores e esclarece, ainda, que seus parceiros de entrega s�o aut�nomos, ou seja, podem se cadastrar na plataforma para realizar entregas de acordo com sua conveni�ncia, e podem operar tamb�m por meio de outras plataformas”, informa.

Em nota, a Loggi respondeu que os motofretistas aut�nomos cadastrados junto � empresa s�o microempreendedores individuais (MEI) e recolhem contribui��o previdenci�ria (INSS) e impostos. Tamb�m ressaltam que o motorista tem a liberdade para definir quando aceitar uma entrega.

Segundo a empresa, a m�dia de tempo que os motofretistas despendem executando servi�os de entregas intermediadas pela Loggi � de 4 horas di�rias, o que, de acordo com o aplicativo, “garante uma renda equivalente ao dobro do que recebe, em m�dia, um motofretista celetista no Brasil”.

A Loggi tamb�m informa ser uma empresa certificada pelo Observat�rio Nacional de Seguran�a Vi�ria como amiga do tr�nsito. “A velocidade m�dia dos motofretistas durante as entregas intermediadas pela Loggi � de 22 km/h, ou seja, inferior � velocidade m�xima permitida em vias locais”, diz a nota.

Antes da chega da tecnologia dos apps, 30 mil motoboys já atuavam na Grande BH, mas, com explosão de aplicativos, sindicato perdeu controle Antes da chega da tecnologia dos apps, 30 mil motoboys já atuavam na Grande BH, mas, com explosão de aplicativos, sindicato perdeu controle(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press 18/2/19)
Antes da chega da tecnologia dos apps, 30 mil motoboys j� atuavam na Grande BH, mas, com explos�o de aplicativos, sindicato perdeu controle Antes da chega da tecnologia dos apps, 30 mil motoboys j� atuavam na Grande BH, mas, com explos�o de aplicativos, sindicato perdeu controle (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press 18/2/19)

Vale tudo, de comida a rem�dio

O setor de alimenta��o comemora a chegada dos aplicativos, que contribuiu para o fortalecimento do servi�o de delivery. Embora a tecnologia se proponha a entregar de tudo, o forte s�o as comidas. “Antes dos aplicativos, o comerciante tinha que se virar com a entrega. Hoje, tenho tudo l�. O cliente j� compra e o aplicativo acha o parceiro para entregar”, afirma o presidente da Associa��o Brasileira de Bares e Restaurantes de Minas Gerais (Abrasel), Ricardo Rodrigues.

Ainda que sem acesso a n�meros sobre o servi�o, ele afirma que muitos estabelecimentos passaram a oferecer delivery por causa dos aplicativos, que vivem um boom desde o ano passado. “Eles agregam na venda. De um tempo pra c�, as pessoas passaram a ficar mais em casa”, comenta. As empresas de aplicativo oferecem descontos e vouchers para os clientes. Em compensa��o, ficam com parte da venda do estabelecimento. “Isso depende da negocia��o, pode ir at� a 30%”, afirma Rodrigues. Sobre a rotina dos motociclistas, ele afirma que “ningu�m � obrigado a pegar a corrida”.

H� dois anos no Brasil, a Rappi, aplicativo de entrega, tem registrado crescimento mensal de 30%, percentual que mostra a velocidade de ades�o dos consumidores ao servi�o. O carro-chefe s�o as comidas, mas a tecnologia oferta tudo o que o cliente precisa. “Produtos de farm�cia, supermercado, bebidas, manicure e pedicure”, cita o diretor -regional da Abrasel, Diogo Cordeiro, que responde por BH, Bras�lia e Goi�nia.

Segundo ele, o mineiro, inicialmente, resistiu, mas agora se mostrou aberto ao servi�o de entrega. “O mercado est� sendo muito favor�vel em Belo Horizonte”, enfatiza. Para se tornar um entregador, � preciso se cadastrar na plataforma, apresentar documentos e, no caso de motocicleta, Carteira Nacional de Habilita��o (CNH) e documento do ve�culo. Tamb�m � necess�rio participar de uma palestra de capacita��o e an�lise de perfil. As empresas tratam os motociclistas como parceiros. “O que a Rappi faz � intermediar a rela��o de consumo entre o estabelecimento, o usu�rio e o entregador”, diz. A iFood tem o mesmo entendimento.  (FA)


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