A nova classe m�dia chega ao fim de sua primeira d�cada de exist�ncia presa em um paradoxo embalado pela desacelera��o da economia a partir de 2014. Apesar de essa popula��o estar mais escolarizada - o total de pessoas de renda m�dia com ensino superior subiu dez pontos porcentuais, para 48% -, o n�mero de indiv�duos vivendo de "bicos" cresceu, segundo pesquisa do Instituto Locomotiva.
Em 2008, 41% da classe C tinham emprego formal, enquanto 35% declaravam estar na informalidade ou trabalhar por conta pr�pria. No ano passado, 40% tinham carteira assinada e 38% viviam de "bicos" ou atuavam por conta pr�pria. Embora a crise tenha tido papel ineg�vel no aumento das pessoas trabalhando na informalidade, o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, diz que h� fatores sociais por tr�s do empreendedorismo entre os integrantes da classe C.
Apesar de a trajet�ria dos brasileiros de classe m�dia ter sido parecida com a de uma montanha-russa - com forte crescimento at� 2014 e uma freada sem precedentes de 2015 a 2017 -, o especialista diz que o acesso a novas categorias de consumo trouxe confian�a a esses brasileiros. "Uma coisa � certa: paladar n�o regride e o brasileiro n�o quer abrir m�o das conquistas."
Assim, as pessoas est�o mais dispostas a correr atr�s dos pr�prios objetivos. O levantamento mostra que, quando questionados sobre a responsabilidade pela melhora de suas vidas, o esfor�o individual aparece em primeiro lugar isolado - citado por 65% dos entrevistados - e bem � frente de "agentes externos", como a igreja, o governo ou a ajuda de familiares.
Segundo Meirelles, essa confian�a na pr�pria capacidade tamb�m se reflete na valoriza��o de suas caracter�sticas, em vez da tentativa de se "mesclar" a outros grupos. Por isso, h� muito mais membros da classe m�dia que se identificam como negros. Entre 2008 e 2018, o total de negros da classe C passou de 41% para 59%.
Correndo atr�s
A busca por melhores condi��es de vida pauta o dia a dia da fam�lia Pires, que vive no Jardim Miriam, na zona sul de S�o Paulo. Boa parte da renda da casa vem de atividades informais. Fl�vio Neves Pires, de 46 anos, ganha dinheiro no conta-gotas, vendendo doces feitos pela m�e - Maria, de 73 anos - em eventos e no Parque do Ibirapuera. "Vendi muito bem no carnaval", comemora.
Fl�vio equilibra o trabalho de ambulante com servi�os espor�dicos de constru��o civil - a combina��o de ambos lhe rende cerca de R$ 1,5 mil mensais. O restante do dinheiro da fam�lia vem da venda de salgadinhos, que tamb�m saem da cozinha de Maria. O principal objetivo de Fl�vio � ver a filha de 19 anos formada na universidade. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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