Para um cozinheiro experiente, fazer maionese sem ovo pode ser o come�o de uma receita que vai dar errado. Mas n�o para a startup chilena NotCo: a partir de abril, a empresa come�ar� a vender no mercado brasileiro a NotMayo, que leva gr�o de bico no lugar do ovo. � o primeiro produto da companhia, que busca fazer alimentos conhecidos por levar produtos de origem animal, mas apenas usando plantas - para chegar � receita correta, usa intelig�ncia artificial para manipular dados sobre vegetais.
"Hoje produzimos muitos vegetais apenas para alimentar os animais que v�o virar carne. Por que n�o podemos cortar os intermedi�rios?", explica o presidente executivo da empresa, Mat�as Muchnick, ao 'Estado'. No Chile, a maionese da startup j� tem 10% de participa��o no mercado local; aqui no Brasil, os potes de 350 gramas do produto chegar�o � rede P�o de A��car por pre�os em torno de R$ 10.
"Queremos trazer algo premium, mas acess�vel aos consumidores. A maionese, por�m, � s� o come�o: queremos explicar como podemos levar novos produtos ao mercado", diz o executivo, que fundou a NotCo com dois s�cios em 2015 - Karim Pichara, doutor em ci�ncias da computa��o, e Pablo Zamora, doutor em biotecnologia. No in�cio, a NotMayo ser� importada do Chile, onde a empresa tem uma f�brica pr�pria. At� o in�cio do segundo semestre, por�m, o plano � fabricar a maionese sem ovo localmente, com um parceiro que a empresa n�o revela.
"N�o queremos perder tempo com fabrica��o, somos bons em desenvolvimento e na �rea comercial", explica Muchnick, que espera ter no Brasil seu maior mercado. Para isso, est� contratando pessoas por aqui - j� tem um time de quatro funcion�rios, liderado por Giuliana Vespa, ex-Ambev. At� o fim do ano, chegar� tamb�m � Argentina e ao M�xico.
Em 2020, ser� a vez dos EUA, com a ajuda de um parceiro especial: Jeff Bezos. O presidente executivo da Amazon, por meio de seu fundo de investimentos pessoal, o Bezos Expeditions, participou da �ltima rodada de investimentos da startup. Fundos como o The Craftory, especializado em startups de alimentos, e o latino Kaszek Ventures, tamb�m participaram da rodada. "Ainda n�o conhecemos Bezos, mas � o parceiro ideal: ele tem rede de distribui��o na Amazon e no Whole Foods, mas n�o tem produtos pr�prios. N�s temos o produto", afirma o executivo.
Tend�ncia
Apostar em produtos de origem vegetal que possam substituir carnes ou derivados de leite n�o � algo novo: nos EUA, startups como Impossible Foods e Beyond Meat j� t�m testado algo parecido e lan�ado hamb�rgueres no mercado. A diferen�a � que, enquanto as americanas fazem modifica��es gen�ticas em plantas para conseguir uma carne que "sangre" ao ser colocada na chapa, a chilena apenas combina diferentes materiais - o que envolve menor trabalho regulat�rio junto a autoridades de vigil�ncia sanit�ria. "O que a Impossible faz � muito interessante, mas precisa de investimento alto e muito tempo de pesquisa", diz Muchnick.
A startup levou tr�s anos desenvolvendo Giuseppe, seu "algoritmo chef de cozinha", que usa dados nutricionais e sensoriais, al�m da composi��o molecular, sobre milhares de plantas e animais para chegar a uma f�rmula. Giuseppe, como todo bom chef, n�o � infal�vel. "Ele nos sugere receitas que n�o funcionam, mas consegue aprender com o tempo quais s�o as melhores combina��es sensoriais", explica Karim Pichara, diretor de tecnologia da NotCo.
Al�m da NotMayo, Giuseppe j� tem outras receitas em fase de finaliza��o para chegar ao mercado: o NotMilk (leite) e o NotIceCream (um sorvete que, promete Muchnick, se parece com um gelato italiano). H� ainda dois produtos em fase de elabora��o: o NotCheese e o NotYogurt. Durante a entrevista com Muchnick, a reportagem do 'Estado' teve a oportunidade de provar a NotMayo: em um teste cego, poderia muito bem passar por uma maionese tradicional encontrada nos mercados brasileiros.
Por outro lado, ao consultar a ficha de informa��es nutricionais, � f�cil perceber que uma colherada da NotCo tem 90% a mais de gordura e 85% calorias a mais que uma concorrente comum. H� diferen�as, no entanto, no tipo de gordura de cada produto - a NotMayo alega que tem maior teor de gorduras insaturadas, consideradas mais saud�veis (7,2g por colher, contra 3,4g de uma rival comum). Al�m disso, a maionese chilena diz n�o utilizar conservantes ou aromatizantes e tem um ter�o do s�dio de uma rival popular no mercado nacional.
Para Maximiliano Carlomagno, s�cio da consultoria de inova��o Innoscience, o gosto � apenas um dos desafios que a NotCo ter� no mercado. "Eles tamb�m v�o precisar mostrar que t�m pre�o e uma cadeia de distribui��o eficiente para fazer sucesso no mercado brasileiro", avalia o especialista. A favor da empresa, por�m, h� a bandeira de n�o usar alimentos de origem animal - permitindo atingir um p�blico vegetariano e vegano - e a gourmetiza��o. "� um produto que traz inova��o pendurada em sua embalagem e isso atrai o consumidor", diz Carlomagno.
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