
Bifulco tem acompanhado de perto as recentes movimenta��es da equipe econ�mica do governo Bolsonaro, algo que, segundo ele, tem gerado preocupa��es.
Em entrevista aos Di�rios Associados, o executivo afirma que a n�o aprova��o da reforma da Previd�ncia no Congresso vai causar grandes problemas para o pa�s, comprometendo n�o s� a recupera��o econ�mica em 2019, mas o futuro das pr�ximas gera��es.
Bifulco tamb�m reclama dos indecentes juros cobrados pelas operadoras de cart�o de cr�dito (“cobrar 10% ao m�s � um esc�ndalo”), diz que as trocas comerciais devem ser pauta por interesses econ�micos e n�o por quest�es ideol�gicas (“neg�cios s�o neg�cios”) e reclama do atraso sist�mico do pa�s (“o Brasil precisa de uma modernizada muito forte”). Confira a entrevista completa a seguir.
Como o senhor avalia a dificuldade do governo em articular o apoio no Congresso para a aprova��o da reforma da Previd�ncia?
A maioria elegeu o atual presidente porque ele prometeu que vai fazer uma negocia��o limpa, sem aqueles v�cios que conhecemos de leil�o de verbas e at� coisas muito piores, como o mensal�o. Ent�o, a dificuldade dele vai ser grande. N�o ser� f�cil colocar uma nova forma de negocia��o. Acredito que possa vencer, porque a maioria do p�blico � a favor da reforma e porque n�o d� mais para continuar da forma como est�. Mas vai ser dif�cil, nesse novo estilo, conseguir boas negocia��es.
"Para o Brasil atingir a chamada ind�stria 4.0, ter� que fazer aberturas. O Brasil precisa de uma modernizada muito forte. Ainda � um pa�s introspectivo, que faz poucas trocas comerciais"
Se a reforma da Previd�ncia n�o passar pelo Congresso, quais efeitos poder� ter sobre a economia?
A reforma da Previd�ncia � um dos pilares da nossa recupera��o. Estamos com o pa�s quebrado, abaixo do n�vel de investimento. Alguns estados importantes est�o em situa��o de pr�-insolv�ncia. Se a reforma da Previd�ncia n�o passar, as consequ�ncias ser�o graves para todo o pa�s. A gente pode ter o retorno da infla��o, a desorganiza��o fiscal profunda, o descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal. Ou seja, sem mudar a Previd�ncia, o pa�s mergulhar� no caos.
O senhor acredita que a reforma vai passar do jeito que foi apresentada ao Congresso ou ela vai ser aprovada com alguma altera��o?
Acredito que vai haver alguma altera��o. Agora, n�o acho que a altera��o venha a ser aceita tranquilamente pela equipe de Bolsonaro. O governo fala em uma economia de R$ 1 trilh�o em 10 anos. Esse n�mero n�o pode mudar. De uma forma ou de outra, tem que ser um n�mero pr�ximo a esse. Algumas coisas j� sabemos que n�o passam. Alguns detalhes, provavelmente a idade m�nima da mulher, o valor que est� sendo pago para os anci�os, coisas pequenas. Mas, no geral, acredito que ficar� em torno de R$ 1 trilh�o mesmo.
"As pessoas t�m que parar de falar que os juros de 6,5% aos ano s�o baixos. Se voc� tentar um empr�stimo no banco, ele vai emprestar a 6,5%? N�o vai. O juro real � alt�ssimo no Brasil"
O mercado j� come�a a dar sinais de nervosismo com o impasse na aprova��o da reforma. Para onde o senhor acredita que vai o d�lar e a bolsa, caso as mudan�as n�o sejam aprovadas?
Sem d�vida nenhuma, sabemos que as varia��es s�o antag�nicas. Sempre que existe algum tipo de crise, a bolsa cai e a taxa do d�lar sobe. A consequ�ncia de uma n�o aprova��o, ou at� de uma demora muito grande de aprova��o, vai afetar a economia brasileira. O real e as a��es v�o desvalorizar. Por consequ�ncia, a taxa do d�lar aumenta. Ou seja, o nervosismo vir�, n�s vamos passar um per�odo de grande volatilidade. Acho que a palavra-chave para os meses de abril e maio � volatilidade. Vamos ter momentos de esperan�a e momentos de desesperan�a.
Isso pode comprometer o crescimento do pa�s em 2019?
O crescimento do pa�s j� est� comprometido. 2019 ser� um ano de limpeza. N�s temos pelo menos tr�s estados grandes – Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais – em situa��o muito complicada. Os governos est�o fazendo economia. As fam�lias est�o endividadas. Mais de 58% das fam�lias t�m d�vidas relevantes. Boa parte do crescimento vir� das exporta��es e do agroneg�cio. Enquanto isso, nossa ind�stria tem enormes desafios para se tornar competitiva. Sobre o PIB, antes se falava de 3%. Depois, 2,5%. Agora, a mais recente previs�o � 2% de crescimento em 2019. A sorte j� est� lan�ada. N�o vamos ter um grande ano.
"A palavra-chave para os meses de abril e maio � volatilidade. Vamos ter momentos de esperan�a e momentos de desesperan�a"
No cen�rio internacional, como o senhor avalia a postura do governo brasileiro em se alinhar com pa�ses como os Estados Unidos e Israel, deixando de lado parceiros comerciais como China e Oriente M�dio?
Com toda a experi�ncia pr�tica de quem trabalhou em uma empresa importadora e exportadora, o que a gente procura quando exporta � qualidade e pre�o. Por exemplo, a China invadiu os Estados Unidos e ocasionou, pelo menos, mais de 2 milh�es de desempregados. Houve um efeito China tamb�m no Jap�o. Veja, s�o pa�ses absolutamente contr�rios em termos de ideologia pol�tica. E continuam fazendo troca de exporta��o e importa��o porque interessa. Ent�o, n�o acho que o Brasil vai abandonar ningu�m que seja cliente interessante, que tenha recursos para pagar. Alguns pa�ses provavelmente ter�o que abandonar mesmo, como Cuba e Angola. L�, � vender e emprestar, mas n�o receber nada em troca. Isso n�o pode acontecer. Tem gente que fala em ideologia. Ent�o, como explicar o grande grau de com�rcio entre Estados Unidos e China? Neg�cios s�o neg�cios.
Uma eventual piora do cen�rio econ�mico no Brasil pode comprometer a quest�o dos juros, que j� s�o altos e, segundo proje��es dos economistas, tendem a cair nos pr�ximos anos? Ou o senhor acredita que os juros v�o voltar a subir?
S�o duas coisas diferentes. Vamos falar um pouco do juro internacional. A melhor medida que temos do juro internacional � o EMBI (Emerging Markets Bond Index). Para se ter uma ideia, em 30 de novembro, logo depois da elei��o, ele estava em 270 bitcoins, mas caiu para 246 em 15 de mar�o. Em n�vel internacional, acho que a turma n�o estuda, n�o conhe�a o assunto. Mas os juros, os pap�is brasileiros, est�o at� num bom patamar.
"Temos um esc�ndalo, que � o cart�o de cr�dito cobrar 10% ao m�s. � um juro alt�ssimo para uma infla��o corrente de 3,8% ou 3,9%. Isso precisa mudar"
Como assim?
As pessoas t�m que parar de falar que os juros de 6,5% ao ano s�o baixos. Se voc� tentar um empr�stimo no banco, ele vai emprestar a 6,5%? N�o vai. O juro real, que � resultado da taxa de juros prim�ria, mais um spread para cobrir a inadimpl�ncia, mais outro pra cobrir impostos, mais um outro pra cobrir custos de administra��o e mais o lucro, � alt�ssimo no Brasil. Temos um esc�ndalo, que � o cart�o de cr�dito cobrar 10% ao m�s. Para uma empresa m�dia, o custo � de 2% a 3% ao m�s. Capitalizando, ela vai pagar algo em torno de 30% a 40% ao ano. � um juro alt�ssimo para uma infla��o corrente de 3,8% ou 3,9%. Isso precisa mudar.
O senhor est� dizendo que a taxa Selic est� num bom patamar?
Estou dizendo que ficar olhando essas reuni�es do Copom � perda de tempo, uma piada. � apenas uma reuni�o que trata de pap�is do governo. Infelizmente, a imprensa est� focada no aspecto errado. As empresas no Brasil pagam 4 a 5 vezes a taxa Selic, em m�dia. Isso � muito complicado.
Quais s�o os n�meros que o senhor projeta para este ano em termos de crescimento do PIB, infla��o e d�lar?
O PIB vai ficar entre 1% e 2%, a infla��o em torno de 4%, e o d�lar vai variar entre R$ 3,70 e R$ 3,90, dependendo dos rumos do Congresso, das chamadas negocia��es.
Na sua avalia��o, quanto tempo o Brasil vai levar para recuperar os recentes anos de recess�o?
Isso vai depender bastante de uma s�rie de coisas. Primeiro, existem muitas provid�ncias a serem tomadas. O pr�prio agroneg�cio, que � o melhor de todos, est� cheio de gargalos. Na minera��o, h� muita d�vida. Sou favor�vel a uma s�rie de programas de abertura para a ind�stria. Para a gente atingir a ind�stria chamada 4.0, temos que fazer aberturas. O Brasil precisa de uma modernizada muito forte. Ainda � um pa�s introspectivo, que faz poucas trocas comerciais.
Ent�o a ind�stria precisa de mais incentivos?
Manaus est� desesperada querendo ind�stria. Tem muito o que fazer, tudo isso ficou muito abandonado, entende? O sistema fiscal foi muito descaracterizado. Agora come�am as negocia��es com a ind�stria automobil�stica para ficar aqui, a Ford quer ir embora, a GM aceitou ficar. Temos de rever essas coisas. Acho que o discurso do ministro Paulo Guedes est� muito bem alinhado, s� que o Guedes � muito mais otimista que eu. Creio que leve anos para recuperar o tempo que foi perdido.