
Dados da Associa��o Nacional de Empresas de Transportes Urbanos (NTU) divulgados no ano passado mostram que o n�mero de passageiros transportados por �nibus por dia, entre 1996 e 2017, encolheu 42%. Por outro lado, o Brasil viveu nas �ltimas d�cadas uma fase de grande est�mulo � ind�stria de carros, com financiamentos a perder de vista.
Esses fatos mostram como o Brasil decidiu privilegiar o transporte individual em detrimento do coletivo. Como consequ�ncia, o que se v� � um aumento no consumo de combust�veis, na emiss�o de gases poluentes e de casos de problemas respirat�rios, al�m de mais tempo gasto no deslocamento nas cidades.
INOVA��ES PELO MUNDO “Em nossa pesquisa, descobrimos que as principais inova��es nessa �rea incluem estacionamento inteligente e emiss�o de bilhetes, pagamentos integrados, sistemas de tr�nsito inteligentes e infraestrutura de ve�culos el�tricos. H� toda uma s�rie de aplica��es tecnol�gicas que pode ajudar as cidades a melhorar o deslocamento das pessoas e torn�-lo mais eficiente, otimizando o planejamento de rotas e at� mesmo projetando sistemas de transporte”, diz Dixon.
Para o s�cio da Deloitte no Reino Unido a integra��o do planejamento de rotas e pre�os entre diferentes cidades, ou entre cidades e sub�rbios, superando quest�es administrativas ou jurisdicionais, deve ser o ponto de partida para um rearranjo nessa �rea, antes mesmo dos investimentos em tecnologia. � o que Dixon chama e “construir uma base forte”.
“Mas para convencer as pessoas a trocarem seus carros pelo transporte p�blico � preciso que haja uma mudan�a cultural”, destaca o executivo. “O papel da cultura tamb�m � muito mais importante para o desenvolvimento de um sistema de transporte do que normalmente supomos. Vimos cidades em todo o mundo sendo impactadas pela quest�o das atitudes sociais em rela��o ao transporte p�blico, como o ‘estigma do �nibus’ e a import�ncia da ‘cultura automotiva’. Ou seja, o p�blico tem a percep��o de que pegar um �nibus ou trem � uma op��o de segunda classe”.
TRANSPORTE P�BLICO PRECISA MELHORAR Para mudar essa forma de a popula��o encarar o transporte p�blico, o executivo da Deloitte defende que o poder p�blico abrace pronunciamentos e mensagens fortes na sua defesa. Al�m disso, lembra, � preciso investir em transporte p�blico, tanto na sua qualidade quanto na cobertura, para que passe a ser considerado uma alternativa confort�vel, conveniente e econ�mica de se locomover.
Apesar de parecer ser uma miss�o apenas do setor p�blico, Dixon acredita que h� muitas oportunidades para as empresas de diferentes tamanhos e que atendem a diferentes segmentos com servi�os inovadores. O executivo lembra que atualmente j� h� uma grande quantidade de startups que atuam, por exemplo, com a oferta de scooters el�tricos. Tamb�m h� quem se dedique a oferecer planejadores on-line de rotas que ajudam a otimizar cada viagem. Muitas empresas grandes t�m optado por novos modelos de neg�cios, como assinaturas em vez de vendas.
“Parece haver um aplicativo para tudo nos dias de hoje. As cidades est�o experimentando diferentes mecanismos de determina��o de pre�os, para regular o fluxo, por exemplo, e isso � poss�vel gra�as a melhorias tecnol�gicas”, comenta o executivo da Deloitte. Ainda segundo Dixon, hoje � poss�vel ver n�o apenas empresas, mas muitos dos servi�os p�blicos de aluguel de bicicletas e scooters que est�o surgindo em cidades de todo o mundo.
SOLU��ES INTEGRADAS “Em um ambiente competitivo, ou onde o usu�rio n�o est� familiarizado com o produto, pode haver muita competitividade nos pre�os para levar o cliente ao servi�o. Um dos melhores caminhos para o lucro � juntar-se para formar uma solu��o maior e mais integrada. Agora, as empresas que podem orquestrar isso ter�o uma vantagem maior em termos de lucratividade do que aquelas que fornecem apenas um servi�o, mas esse � um espa�o amplo”, analisa o autor do estudo.
Dixon admite ter ficado surpreso ao constatar que o congestionamento nas ruas � um problema em todos os lugares, mesmo onde h� uma propor��o muito baixa de uso de carro particular, como em Hong Kong. Depois de analisar os dados, o executivo viu que os problemas de tr�nsito t�m a ver n�o apenas com o volume de ve�culos, mas com a forma como as cidades foram constru�das – muitas delas antes de come�arem a surgir esse meio de transporte – e pela infraestrutura insuficiente para regular o fluxo de tr�fego.
ESTRADA N�O � SOLU��O A sa�da para minimizar o problema de congestionamento, alerta, n�o � simplesmente construir mais estradas. Em muitos casos, a melhor alternativa � investir em novos tipos de transporte urbano – como o transporte r�pido de �nibus (BRT) – ou programas de compartilhamento de bicicletas e scooters que possam ajudar a transportar mais pessoas.
A integra��o de sistemas pode exigir que se olhe para o transporte como um todo, afirma Dixon. “Aqui no Reino Unido, o Minist�rio dos Transportes � organizado em setores com base no modal – rodovi�rio, ferrovi�rio, a�reo. Isso n�o ajuda os v�rios modais a funcionar como um todo integrado. Ent�o, isso pode ser uma maneira de come�ar. Mover-se de um modelo “hub-and-spoke” (diferentes caminhos que se conectam a centrais) para um modelo mais de rede, como Helsinque fez com seu tubo e �nibus, � outra maneira de iniciar uma mudan�a incremental
Entrevista/ Felipe Calder�n ex-presidente do M�xico
“Com pol�ticas p�blicas corretas, a mobilidade sustent�vel pode ser um bom neg�cio”

Ex-presidente do M�xico, Felipe Calder�n comanda atualmente a comiss�o de sustentabilidade e meio ambiente da Federa��o Internacional de Automobilismo (FIA), criada recentemente com a miss�o de tornar compat�veis automobilismo e ind�stria automotiva com as pol�ticas p�blicas, desde que estejam alinhadas com boas pr�ticas ambientais.
Ele foi um dos convidados do evento promovido pela FIA na etapa mexicana de F�rmula E, em fevereiro. Aos Di�rios Associados, Calder�n explicou que chegou ao cargo pela experi�ncia anterior como presidente da Comiss�o Global de Economia e Clima, onde se buscava um modelo de crescimento sustent�vel que andasse junto com o desenvolvimento econ�mico, reduzindo os efeitos das mudan�as clim�ticas.
� poss�vel acreditar no di�logo entre poder p�blico e iniciativa privada, especialmente na Am�rica Latina, onde falar de investimentos em projetos sustent�veis quase sempre esbarra na falta de or�amento e poucas informa��es?
Ao contr�rio do que se imagina, se encontramos as pol�ticas p�blicas corretas, a mobilidade sustent�vel pode ser um bom neg�cio. Acredito que � poss�vel conciliar esse tema com a viabilidade econ�mica e financeira. Esse tipo de investimento torna as cidades mais produtivas e o tempo passa a ser gasto de forma mais eficiente. Mas essas pol�ticas p�blicas precisam prever incentivos para as empresas e assim se chega a um c�rculo virtuoso n�o apenas para o meio-ambiente, mas tamb�m para as finan�as.
Que tipo de incentivo � necess�rio para as empresas?
Isso pode ser feito por meio de pol�ticas fiscais que ajudem a mobilidade e aos ve�culos sustent�veis, al�m de pol�ticas p�blicas que permitam a organiza��o de empresas que atuam no setor de transporte, por exemplo, com o servi�o de �nibus, para que sejam mais eficientes.
Essa pol�tica para melhorar a mobilidade deve estar na esfera estadual ou federal?
Alguns t�m uma pol�tica federal. Outros, como os Estados Unidos, t�m pol�ticas estaduais, mais descentralizadas. Para mim, tem de ser uma pol�tica o mais local poss�vel e federal apenas quando necess�rio.
Na sua opini�o, montadoras tradicionais, como Ford, Fiat e tantas outras, t�m procurado se movimentar em dire��o a ve�culos que utilizam energia limpa?
Houve muita resist�ncia para se preservar os motores a combust�o, mas agora elas t�m se dado conta que o mundo tem avan�ado nessa dire��o e todos querem ser o primeiro a chegar, por isso essas empresas t�m se dedicado a desenhar ve�culos el�tricos e h�bridos. As montadoras sabem que o motor a combust�o vai desaparecer com o passar do tempo, por isso est�o se dedicando a fazer uma transi��o que seja boa para elas.
Fia/Divulga��o