S�o Paulo – Presidente no Brasil da empresa de pesquisa Gartner, Cesar Velloso � um dos maiores especialistas do pa�s em processos de transforma��o digital. Nesta entrevista, ele explica por que a inova��o n�o diz respeito apenas aos avan�os tecnol�gicos, mas tamb�m ao universo das ideias.
“Para inovar, n�o se trata simplesmente de adquirir a �ltima tecnologia”, afirma. “Eu posso ter uma ideia muito impactante e simples e n�o ter falado nada de tecnologia.” O executivo do Gartner fala ainda da import�ncia da an�lise de dados para a tomada de decis�es e d� dicas sobre o que as companhias precisam fazer para melhorar a qualidade das informa��es coletadas.
Dados precisos, de acordo com Cesar Velloso, contribuem para entender melhor o perfil dos clientes e at� para desenvolver novos neg�cios. “Informa��es de baixa qualidade enfraquecem a posi��o competitiva de uma organiza��o e comprometem objetivos”, avalia. Confira a seguir os principais pontos da entrevista:
De que forma os avan�os tecnol�gicos nas empresas v�o afetar o mercado de trabalho?
Esse movimento vai criar uma aniquila��o no mercado de trabalho como conhecemos. Aquilo que � repetitivo, que pode ser implementado por meio de um rob� ou qualquer que seja o aparato tecnol�gico, n�o ser� mais realizado por seres humanos. Vamos ter outras tarefas para nos dedicar. Essa transforma��o vai liberar o ser humano para fazer coisas mais relevantes.
A an�lise de dados � um fator fundamental para as empresas. Mas ainda � preciso melhorar a qualidade da coleta das informa��es. Como � poss�vel fazer isso?
A gente chama isso de alfabetiza��o de dados. Ou seja, como � que voc� consegue transformar os dados que voc� tem em algo impactante e relevante. � esse conceito todo do qual se fala de uma maneira mais reduzida como big data. � preciso compreender o seguinte: a boa qualidade de dados serve para conhecer quem s�o seus clientes, onde eles est�o localizados e do que eles mais gostam. Dados de boa qualidade fortalecem insights e iniciam novos modelos de neg�cios em todos os setores.
N�o investir em dados pode comprometer o futuro de uma empresa?
Informa��es de baixa qualidade enfraquecem a posi��o competitiva de uma organiza��o e comprometem objetivos fundamentais dos neg�cios. As pr�ticas de baixa qualidade de dados minam as iniciativas digitais, enfraquecem a posi��o competitiva das empresas e disseminam a desconfian�a dos clientes. Sem an�lise de dados, n�o h� transforma��o digital. A convers�o dos dados em decis�es estrat�gicas � um grande diferencial para saber se a empresa vai ter uma relev�ncia no futuro.
Como a Lei Geral de Prote��o de Dados, que entrar� em vigor em agosto de 2020, vai impactar o mercado?
De uma maneira bem direta, isso vai exigir a��es para que as organiza��es estejam aderentes com essa nova lei. Vejo que est� todo mundo operando para que as mudan�as aconte�am. Hoje em dia, h� uma confus�o a respeito de quem � a responsabilidade dos dados. A lei, assim que entrar em vigor, vai provocar uma grande mudan�a e adequa��o. Porque aquilo que n�o era alvo de algum tipo de risco para o neg�cio vai passa a ser.
Que investimentos as empresas precisam fazer para acompanhar o cen�rio de transforma��es digitais?
Uma palavra basta para responder a essa pergunta: gente. As empresas precisam de pessoas qualificadas. N�o s� aquisi��o, desenvolvimento e reten��o, mas, sobretudo, o patroc�nio de uma cultura organizacional que permita isso. Contar com os talentos certos � essencial.
Qual o papel do l�der nesse processo?
O gestor deve funcionar como um grande condutor, um grande multiplicador de h�bitos e de posturas. Tudo dentro de uma dada cultura que seja a mais adequada para aquele neg�cio. Precisa ser uma cultura inclusiva, em que as pessoas tenham a oportunidade de contribuir e saibam seus reais pap�is e as suas diferen�as. Precisam conhecer os motivos de estar ali.
Como assim?
Estou falando, por exemplo, de coexist�ncia de gera��es. H� pessoas com menos apet�ncias para quest�es de tecnologia, que precisam de mais agilidade, que n�o t�m muita paci�ncia e n�o s�o t�o persistentes. Precisamos compreender as diferen�as de comportamento de gera��es para ter uma forma acertada de agir. Acredito que � preciso integrar e explorar a diversidade. A inova��o pode ser bem-sucedida apenas em uma cultura de colabora��o forte. Os colaboradores precisam estar aptos para trabalhar al�m das fronteiras e explorar novas ideias.
O que as empresas precisam fazer para desenvolver uma cultura organizacional?
A empresa precisa apresentar a seus funcion�rios a sua declara��o de cultura. Mostrar quais s�o seus valores, princ�pios, diferen�as, entre outras coisas. Deixar claro como lida com as ideias que surgem e que n�o bloqueia as iniciativas. Apontar que recebe bem as ideias e, se poss�vel, at� as falhas. Porque isso mostra que houve uma tentativa de se fazer algo. Isso cria um ambiente prop�cio para a transforma��o. O time precisa conhecer o pensamento da empresa para ter certeza de que faz parte daquilo. Isso vai impactar diretamente no crescimento do neg�cio.
Que empresas ter�o mais chances de continuar relevantes nos pr�ximos anos?
A relev�ncia vem a partir do momento em que voc� consegue promover uma experi�ncia para o cliente final que o encante constantemente e traga diferenciais. As empresas mais preparadas ser�o aquelas com l�deres com mais resili�ncia e que conseguem ter a habilidade de demonstrar que suas decis�es est�o lastreadas em uma vis�o de suportar a estrat�gia do neg�cio, olhando para o hoje, o amanh� e o futuro.
Onde entra a inova��o nesse movimento?
A inova��o est� no campo das ideias. N�o se trata simplesmente de adquirir a �ltima tecnologia. Eu posso ter uma ideia muito impactante e simples e n�o ter falado nada de tecnologia. Como tamb�m posso alavancar as iniciativas e torn�-las reais a partir do momento em que tenho tecnologia dispon�vel.
Por que muitas empresas t�m dificuldades para inovar e se manter sintonizadas com as mudan�as da sociedade nos �ltimos anos?
Talvez n�o esteja na limita��o da tecnologia. Est� na limita��o de conseguir inovar em um neg�cio que voc� conhece tanto. Esse � o problema. Voc� conhece tanto do neg�cio que inovar se torna desafiador. Uma alternativa � procurar pensar um pouquinho fora daquilo que voc� conhece. Tratar de novos modelos de neg�cios, para a� sim abrir caminho para a inova��o.
Mas reinventar um modelo de neg�cio n�o � arriscado?
Todos os neg�cios, sem exce��o, v�o passar por isso. Ent�o toda estrat�gia � leg�tima. O fundamental � sair do curto e do m�dio prazo. Tem que olhar para as transforma��es. As organiza��es que ter�o um melhor retorno ser�o aquelas que pensam no futuro e j� come�am a caminhar rumo � transforma��o do modelo, alavancando isso atrav�s de um aparato digital, fazendo esse processo de maneira mais �gil e tendo habilidade de demonstrar ganhos.
Como o Gartner tem atuado para ajudar as empresas a se manterem relevantes no mercado?
O Gartner tem auxiliado as corpora��es no sentido de permitir que o executivo do alto escal�o, por meio de insights, conselhos e ferramentas, tenha condi��es de tomar decis�es corretas em um tempo adequado e tamb�m condi��es de executar essas tarefas. A tomada de decis�o envolve duas dimens�es. Uma diz respeito � sustenta��o dos neg�cios, que s�o quest�es que precisam ser sanadas e resolvidas no curto e m�dio prazos, enquanto a outra � transformacional, ou seja, olha para a longevidade do neg�cio.
Como voc� avalia o atual cen�rio econ�mico brasileiro?
Falando como empreendedor e como algu�m que conversa com executivos de muitos setores, vejo que precisamos acelerar a aprova��o das reformas. Isso ser� fundamental para que o pa�s possa crescer. A minha avalia��o � que o Brasil tem tudo para crescer. Ali�s, quando se fala de Am�rica Latina, as grandes oportunidades est�o aqui. Temos o maior n�mero de startups nascendo e se desenvolvendo. Isso tem tudo para avan�ar ainda mais.