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Estado de Minas ECONOMIA

Com juro menor, investidor precisa se adaptar ao risco


postado em 30/06/2019 12:23

Sem poder contar com altas taxas de juros para multiplicar seu patrim�nio, os investidores brasileiros come�am a se movimentar em dire��o a ativos mais arriscados em busca de maiores ganhos. O fen�meno � observado, por exemplo, no aumento de pessoas f�sicas com a��es na B3, a Bolsa paulista, n�mero que atingiu 1,1 milh�o em maio, �ltimo dado dispon�vel.

De acordo com especialistas, muito desse crescimento � explicado pela tentativa desses investidores em compensar a queda da rentabilidade obtida com a renda fixa, j� que a Selic, em 6,5% ao ano, est� no menor n�vel hist�rico. Se em outros anos era poss�vel ganhar quase 1% ao m�s sem correr grandes riscos, hoje o rendimento com os juros mal fica acima da infla��o.

"Estamos vivendo o que o americano e o europeu viveram 30 anos atr�s. Eles tinham um bom retorno com aplica��es em t�tulos de governo e de bancos. Com a estabilidade econ�mica, voc� tem um fen�meno de valoriza��o do mercado de capitais. Claro que l� h� investimentos em t�tulos hoje, mas grande parte � em a��es", afirma o diretor da Associa��o Nacional dos Executivos de Finan�as (Anefac) Miguel de Oliveira. "No Brasil, durante muitos anos, a Bolsa s� tinha grandes investidores, a classe m�dia ficava nos juros, acomodada com o alto retorno. Agora os juros menores vieram para ficar, vamos conviver com taxas mais baixas", avalia.

A busca por mais risco pode ser verificada at� mesmo dentro da renda fixa: os chamados p�s-fixados, pap�is cuja remunera��o acompanha a Selic, como o Certificado de Dep�sito Banc�rio (CDB) ou o Tesouro Selic (antiga LFT), t�m perdido espa�o para os que pagam taxas prefixadas. Em maio de 2018, o papel mais vol�til entre os t�tulos p�blicos, o Tesouro IPCA+ (antiga NTN-B), representava uma fatia de apenas 28% dos pap�is vendidos pelo Tesouro Direto, plataforma de negocia��o dos t�tulos do governo.

Um ano depois, essa parcela � de 44%. Os ativos prefixados s�o considerados mais arriscados porque o investidor pode perder dinheiro em caso de alta de juros ap�s a compra, o que n�o ocorre com um p�s-fixado. Em caso de queda dos juros, no entanto, o prefixado se valoriza.

Recomenda��es

Para migrar para ativos mais vol�teis, entre as recomenda��es mais repetidas est�o diversifica��o e paci�ncia. A primeira diz respeito � constru��o de uma carteira com tipos diversos de ativos, com diferentes caracter�sticas, para que o investidor n�o dependa de apenas um cen�rio para ganhar dinheiro.

A segunda dica busca evitar o grande erro de comprar na alta e vender na baixa. Olhando para o longo prazo, negociando sempre aos poucos os ativos, os investidores diminuem os riscos de ter preju�zo.

Para o professor Joelson Sampaio, da Escola de Economia de S�o Paulo da Funda��o Getulio Vargas (FGV-EESP), uma boa op��o para se acostumar ao sobe e desce dos ativos mais vol�teis � deixar o servi�o a cargo de gestores profissionais, por meio dos fundos de investimento. "Olhe a taxa de administra��o cobrada e o hist�rico de rentabilidade do fundo", aconselha Sampaio.

Ele explica que, em um ambiente de juros menores no longo prazo, uma aloca��o hiperconservadora n�o trar� tanta seguran�a quanto se pode imaginar. Isso porque o rendimento dos juros pode ficar abaixo da alta dos pre�os. "A infla��o iria corroendo a rentabilidade dos ativos atrelados � Selic."

Corros�o

Um exemplo disso foi o resultado da caderneta de poupan�a, onde est�o guardados cerca de R$ 790 bilh�es, no primeiro semestre do ano. Como a caderneta est� remunerando, pela regra atual, 70% da Selic, a taxa b�sica de juros no menor n�vel hist�rico fez com que a infla��o avan�asse sobre os rendimentos da poupan�a.

Quem aplicou na caderneta em primeiro de janeiro, viu seu dinheiro acumular alta de 1,87% ao fim do semestre. No mesmo per�odo, a pr�via do oficial de infla��o marcada pelo �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) aponta que os pre�os subiram 2,33%. Ou seja, o dinheiro que ficou parado na poupan�a neste primeiro semestre perdeu valor.

A expectativa da aprova��o da reforma da Previd�ncia nos pr�ximos meses - somada � mudan�a na pol�tica monet�ria do Federal Reserve, o banco central americano, que depois de amea�ar elevar os juros no ano passado agora estuda baix�-los - abre espa�o para novos cortes da taxa b�sica no Brasil, dizem analistas.

Se o cen�rio projetado pelos economistas para o segundo semestre se concretizar, o rendimento da renda fixa tende a cair ainda mais, refor�ando o movimento do investidor brasileiro em busca de maiores retornos.

Onde investir?

Em busca de op��es que mantenham a rentabilidade, cada vez mais brasileiros t�m apostado em aplica��es com maior risco do que os tradicionais caderneta de poupan�a e Tesouro Direto - afinal, se antes era poss�vel ter retornos de at� 1% ao m�s sem arriscar demais, hoje j� n�o � t�o simples assim. Para auxiliar o leitor a como navegar em mares um pouco mais turbulentos, o Estado ouviu seis grandes gestores e executivos de fundos ativos no mercado brasileiro.

Crescimento vai voltar e deve gerar ganhos, diz Parreiras, do Verde

Na contram�o de boa parte do mercado, Luiz Parreiras, estrategista da Verde Asset, v� a economia brasileira se reabilitando no segundo semestre. Como uma grande fatia do mercado ainda n�o vislumbra a volta do crescimento, ele afirma que as melhores oportunidades de investimento no per�odo s�o as a��es na Bolsa de Valores.

Outro fator de otimismo � uma futura alta do mercado acion�rio. Para Parreiras, a aprova��o da reforma da Previd�ncia ainda n�o foi totalmente incorporada aos pre�os, o que possibilita a valoriza��o dos ativos depois da aprova��o do texto. "Vemos mais oportunidade em a��es, que ser�o mais impactadas por um crescimento melhor", afirma. "O mercado hoje vive um pessimismo exacerbado. Est�o subestimando a retomada econ�mica que devemos viver", acrescenta o estrategista.

Segundo ele, o menor otimismo dos analistas se deve � frustra��o das expectativas do mercado no primeiro semestre. "O mercado entrou em 2019 animado com o crescimento e foi se decepcionando. N�s acreditamos que a economia dom�stica, puxada pelo setor privado, vai ter uma retomada", afirma.Um dos eventos mais importantes para acompanhar no segundo semestre, aponta Parreiras, vir� do desenrolar do G-20, encerrado ontem no Jap�o.

"Vamos ver que caminho toma a guerra comercial entre Estados Unidos e China. Acreditamos numa esp�cie de acordo tempor�rio, em que os pa�ses continuam negociando sem grandes disrup��es ao longo dos pr�ximos meses", destaca. "Isso deixa a economia global mais ou menos na trajet�ria em que ela j� est�. N�o � pujante, mas ao menos n�o � muito negativa."

Fundos s�o alternativa para iniciar migra��o, diz Mazzer, do BTG

Na vis�o de Rafael Mazzer, gestor do BTG Pactual Wealth Management, partir para fundos multimercado (que investem em v�rios produtos diferentes, tanto de renda fixa quanto de vari�vel) � um movimento acertado dos investidores que n�o estavam habituados a tomar riscos. "Esses fundos podem ir para a Bolsa e o investidor n�o precisa se preocupar em tomar tantas decis�es", afirma. No caso de n�o conhecer muito bem o perfil de gestores dos fundos, ele aconselha que se opte pelos fundos com multigestores, nos quais mais de uma pessoa fica respons�vel por gerir os ativos.

Na renda fixa, ele indica as deb�ntures de empresas de infraestrutura. Ainda que tenham reduzido seus rendimentos, elas s�o positivas no m�dio a longo prazos, diz. Para quem tem horizonte mais curto, Mazzer aconselha procurar fundos de investimento que compram essas deb�ntures, para poder ter retornos em menos tempo. Para quem tem horizonte mais longo e, portanto, mais apetite por risco, ele diz que investimentos atrelados � infla��o ainda s�o uma boa op��o.

"Tesouro IPCA 2045 ou 2050, com taxa de infla��o mais 4% ao ano", diz. Mazzer explica que esses s�o t�tulos menos arriscados que os prefixados. "Nos pap�is com IPCA, o investidor tem o para-choque da infla��o. Se tudo der errado, a infla��o tende a crescer", diz. "Assim, no horizonte curto, se faz uma gest�o alternativa ao CDI e, no longo, aproveita-se o movimento estrutural do mundo de juros baixos e a melhora do risco de cr�dito do Brasil." Diz ainda que o portf�lio recomendado do banco, que antes indicava 5% dos investimentos na Bolsa, agora indica 10% nesses ativos.

Investir no exterior deve deixar de ser tabu, diz Forster, do Western

A Bolsa pode muito bem bater os 120 mil pontos no curto prazo, avalia Marc Foster, diretor da Western Asset.

Isso em um cen�rio que prev� a aprova��o da reforma da Previd�ncia neste ano. A entrada de estrangeiros no mercado brasileiro seria um dos combust�veis para a alta. "Eles ainda esperam sinais mais contundentes de aprova��o para voltar. Uma vez confirmada (a aprova��o da reforma), destrava a vinda de agentes que est�o mais preocupados com o longo prazo, que t�m preocupa��o com a moeda."

Mesmo com um tom otimista, Foster recomenda que os investidores procurem ativos que n�o estejam atrelados ao desempenho da economia brasileira. "Se a Previd�ncia n�o passa, as dicas que eu dei d�o errado. A Bolsa cai porque a economia colapsa", afirma. "O exterior permite sair disso, ter aloca��o internacional, sem necessariamente correr risco cambial."

Como as op��es para quem tem menos de R$ 1 milh�o aplicado s�o mais restritas, ele explica que a via mais f�cil para o investidor regular ter exposi��o no exterior � por meio de fundos multimercados que aplicam uma parte l� fora. "� um caminho que o brasileiro vai cada vez mais explorar. A� voc� diversifica de verdade."

Sobre a queda dos juros, ele n�o recomenda uma mudan�a brusca da renda fixa para a vari�vel. "A primeira solu��o para a Selic baixa � entender que n�o existe bala de prata", afirma. O correto, segundo Foster, � buscar o longo prazo, com posi��es diversificadas. Ele acrescenta que n�o basta apenas avaliar a rentabilidade dos ativos, mas ponderar o risco corrido. "O risco do paraquedismo s� aparece quando o paraquedas n�o abre."

Na bolsa, op��o � pela qualidade dos papeis, diz Hazzan, do Safra

Para Mauricio Hazzan, diretor de investimentos do Safra Private Banking, o contexto de juros baixos deve levar o investidor a buscar alternativas mais rent�veis na Bolsa de Valores, j� que, em compara��o com outros pa�ses, os brasileiros se exp�em pouco a riscos.

"O investidor l� fora tem exposi��o a juros e a empresas listadas na Bolsa. O brasileiro tem menos de 5% em ativos ligados ao Ibovespa (principal �ndice da Bolsa). Esse n�mero vai crescer, porque � um ativo que gera retorno melhor que o CDI (Certificado de Dep�sito Interbanc�rios, t�tulo emitido por institui��es financeiras) ou que investimentos que rendem pouco acima do CDI", diz.

Na Bolsa, os setores mais promissores s�o os impactados diretamente pela queda de juros. "S�o os que t�m ciclos mais longos: concess�es rodovi�rias, energia, saneamento, shoppings ou imobili�rio." Hazzan explica que setores que dependem de juros no longo prazo aproveitam esse cen�rio para se financiarem. Ele pondera, no entanto, que, ao olhar para esse setor, � preciso ficar atento � qualidade dos ativos e verificar a efici�ncia das empresas em que se pretende investir.

O diretor do Safra Private Banking ainda indica os fundos imobili�rios como uma boa op��o: "O mercado imobili�rio sente a queda de juros na veia, pois juros mais baixos ajudam n�o apenas a construtora, mas a pessoa f�sica que compra". Para o gestor, os investidores brasileiros ter�o tamb�m de ter mais paci�ncia. "O jogo � de mais longo prazo. Investimento sempre foi assim, mas ficamos mal acostumados com um CDI alto, quando era poss�vel dobrar o dinheiro investido a cada tr�s ou quatro anos".

Ganho com renda fixa ficar� perto de zero, diz Giufrida, da Garde

Al�m da reforma da Previd�ncia, uma agenda positiva pode impulsionar os ativos brasileiros, diz o gestor Marcelo Giufrida, s�cio da Garde Asset. Entre os fatores est�o a autonomia do Banco Central, a reforma tribut�ria e as privatiza��es. O BC ter� um papel importante na tentativa de modernizar a legisla��o de c�mbio e abrir mais espa�o para a presen�a de fintechs no sistema financeiro, avalia Giufrida.

Esse quadro, e considerando que a atividade econ�mica vai sair do fundo po�o, pode levar o Ibovespa, principal �ndice de a��es do Pa�s, a se valorizar de 10% a 15% ainda neste ano. O caminho at� l�, contudo, n�o dever� ser exatamente tranquilo, prev� Giufrida. "Nos �ltimos dias, por exemplo, quando se passou a adiar o calend�rio (da reforma da Previd�ncia), o mercado sentiu, porque j� tinha dado como favas contadas", afirma.

De acordo com o s�cio da Garde, um dos elementos que deve aumentar as oscila��es no segundo semestre s�o as elei��es municipais, previstas apenas para o ano que vem: "Est� no radar a sucess�o e os deputados n�o querem se desgastar. O cen�rio eleitoral estar� mais perto e muita coisa no Congresso leva em conta anos � frente", destaca.

Para o investidor conservador, ele lembra que, se ficar na renda fixa tradicional, os ganhos devem se aproximar de zero. "Esse investidor deveria considerar sofisticar a renda fixa com bons gestores especializados no mercado de cr�dito. Ou fundos imobili�rios voltados a Certificados de Receb�veis Imobili�rios (CRIs), que t�m isen��o fiscal". Para os mais arrojados, com est�mago para as oscila��es, faz sentido aumentar a parcela investida na Bolsa.

Diversificar � a sa�da para mitigar risco maior, diz Kfouri, do BNP Paribas

Na vis�o de Gilberto Kfouri, diretor de renda fixa e multimercados do BNP Paribas Asset Management, o investidor tem de se acostumar a um n�vel de risco maior e se preocupar menos com o curto prazo. "� preciso parar de olhar para o CDI (Certificado de Dep�sito Interbanc�rio, t�tulo emitido por institui��es financeiras), aceitar um pouco mais de volatilidade e saber que � poss�vel perder um pouco no dia a dia", diz.

O gestor v� que os investidores podem assumir esses riscos na renda fixa - em pap�is mais longos -, em cr�dito privado, em t�tulos prefixados, NTN-B (t�tulo do tesouro atrelado � infla��o) com vencimento mais longo, al�m da Bolsa de Valores. "A Bolsa tem uma perspectiva de ganho maior, mas o risco tamb�m � maior. Por isso, � preciso ter uma carteira diversificada."

Kfouri afirma que pessoas conservadoras podem come�ar por pap�is de prazos maiores: t�tulos do tesouro prefixados ou NTN-B mais longo. O investidor moderado pode ter parte de seu dinheiro na Bolsa. Os mais agressivos, por sua vez, com horizonte de investimento maior, poder�o ter um porcentual mais abrangente desses ativos e olhar para fundos imobili�rios e de private equity (que levantam capital para adquirir participa��o em empresas j� desenvolvidas).

O gestor avalia que ainda h� espa�o para uma alta do Ibovespa, o principal �ndice da Bolsa. "Com juros baixos, quando se faz a avalia��o das empresas, h� uma melhora pela redu��o do custo de oportunidade. As empresas ter�o um crescimento melhor do que a economia real", diz. A ressalva dele vai para o cen�rio internacional: "Depende-se de fluxo de estrangeiros para dar sustenta��o � Bolsa de Valores". As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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