
O titular da Secretaria de Pol�tica Econ�mica (SPE) do Minist�rio da Economia, Adolfo Sachsida, admite que, sem reformas, o pa�s estar� condenado a crescer 1,5% ao ano “para sempre”. Ele refor�a que, ap�s a aprova��o da reforma da Previd�ncia, a agenda da produtividade e reformas estruturais entrar�o na pauta e, se avan�arem, far�o a economia voltar a crescer em ritmo mais acelerado, de 3% a 4% ao ano, no longo prazo, de forma sustent�vel. “N�s temos um plano”, avisa. De acordo com o secret�rio, o baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) tem “dois grandes problemas”: o desequil�brio fiscal e a m� aloca��o de recursos, que afetou a produtividade da economia. A agenda p�s-reforma da Previd�ncia ser� “pr�-mercado e pr�-consumidor”, com um novo regime tribut�rio, que poder� ser feito em parceria com o Congresso, que tem propostas em andamento, abertura comercial, concess�es
e privatiza��es.
O mercado reduziu a proje��o de crescimento deste ano 19 vezes e sinaliza que economia vai crescer menos que o 0,8%, mesmo se a reforma da Previd�ncia for aprovada. Qual � o diagn�stico?
Os nossos estudos mostram que ocorreu um problema muito s�rio de misallocation (m� aloca��o) na economia brasileira. Vou dar um exemplo caricatural. Quando voc� gasta R$ 2 bilh�es para fazer um est�dio de futebol, esse dinheiro n�o gera mais nada. Mas n�o � s� isso. � preciso gastar R$ 40 milh�es todo ano para manter o est�dio. O problema � que n�o � s� o investimento que foi ruim. � pior ainda. Se voc� quiser corrigir o problema, tem custo. Isso � muito s�rio.
Houve muito desperd�cio de dinheiro p�blico?
� pior do que desperd�cio. No desperd�cio, voc� queima o dinheiro. Na m� aloca��o, voc� n�o s� queimou o dinheiro, como direcionou outros investimentos para outro local. E agora? A recupera��o da economia brasileira est� lenta. Algumas pessoas dizem que essa � a mais lenta recupera��o da economia da hist�ria. Talvez o problema seja outro: o nosso n�vel de equil�brio tenha ca�do. Foi colocado tanto dinheiro em locais t�o errados que isso afetou de tal maneira a produtividade da economia que o novo equil�brio, de repente, � esse.
O pa�s n�o vai conseguir crescer mais do que est� crescendo agora?
Se n�o mudarmos essa realidade, o futuro � crescer 1,5% ao ano para sempre. Isso � um problema muito s�rio de produtividade. Pol�ticas monet�rias e fiscais erradas do per�odo de 2006 a 2016 diminu�ram o crescimento potencial da economia brasileira. Precisamos corrigir isso, na nossa leitura.
Analistas se dividem sobre problema desse baixo crescimento entre demanda e oferta. Qual � a sua avalia��o?
� oferta. Sem d�vida. Essa divis�o � muito simples. Tem os economistas que levaram a economia ao caos que dizem que o rem�dio � fazer mais do que eles fizeram para corrigir o problema. N�o deixa de ser ir�nico que pessoas que trouxeram o Brasil � situa��o atual continuem opinando e dizendo que temos que fazer mais do mesmo. Parece que n�o aprenderam nada com a recess�o. N�o tem essa discuss�o aqui.
Isso � um consenso na pasta?
� um consenso dentro da equipe econ�mica e dentro de um grupo de economistas razo�veis. O Brasil est� nessa situa��o por um descontrole fiscal brutal. N�o foi crise internacional, n�o foi terremoto. Hoje, o Brasil tem dois grandes problemas: o fiscal e a m� aloca��o, que � o problema de baixa produtividade. Alguns economistas deveriam fazer um mea-culpa por terem jogado o Brasil nesta crise. Estou esperando eles se desculparem por ter gerado 13 milh�es de desempregos. � importante isso. Este governo tem uma agenda urgente.
Qual � essa agenda?
� a agenda fiscal. Precisamos aprovar a nova Previd�ncia. N�o h� solu��o para o nosso pa�s sem corrigir o problema fiscal. E n�o h� como corrigir o problema fiscal sem a nova Previd�ncia. Depois disso, temos o problema importante, que � corrigir a produtividade da economia brasileira.
N�o dava para adotar a agenda da produtividade em paralelo? No in�cio, houve essa d�vida dentro do governo?
Durante a transi��o, n�o houve d�vida. Houve um debate intenso se dever�amos avan�ar com a agenda fiscal e a de produtividade juntas ou se dever�amos, primeiro, focar na agenda fiscal e, uma vez aprovada a nova Previd�ncia, destravar a agenda de produtividade. Esses debates foram feitos. E quero dizer uma frase importante para os leitores que � nosso mantra: “Tenha um plano, confie no plano e mantenha o plano” (citou que ela � do t�cnico de futebol do filme Forrest Gump). N�s temos um plano.
Mas a reforma da Previd�ncia n�o � a solu��o de todos os problemas da economia...
Isso est� no nosso radar. Temos toda uma agenda. Como eu disse, o Brasil tem dois grandes problemas: o fiscal e o de produtividade. E como vamos corrigir isso? A parte fiscal, endere�ada pela nova Previd�ncia. E, a parte de misallocation, de produtividade, com as medidas pr�-mercado, medidas que estimulem a oferta agregada.
E o que pode vir por a�?
Bom, ser� anunciado, em breve, o novo regime tribut�rio. Isso est� em est�gio adiantado.
O governo pretende apresentar uma proposta pr�pria, mas h� projetos de reforma no Congresso. Por que n�o aproveit�-los?
Temos que aproveitar o momento. Governo e Congresso s�o parceiros. Estamos � beira da aprova��o da mais importante reforma do Brasil desde o Plano Real. � a parceria entre Executivo e Legislativo. A quest�o da reforma tribut�ria � a mesma coisa. Se o Congresso achar por bem tocar a sua reforma, ser� maravilhoso. E conte com a nossa ajuda. Agora, n�s, como Executivo, temos tamb�m que ter uma proposta. � natural.
Se o governo enviar uma proposta, ele n�o pode atrasar o debate?
N�o. No final, as propostas s�o todas parecidas. Todo mundo sabe quais s�o os problemas tribut�rios. Pode haver discord�ncias pontuais. Uma conversa, um debate franco de ideias, resolve. A agenda econ�mica est� muito bem alinhada.
A reforma da Previd�ncia ainda corre o risco de sofrer desidrata��o no Congresso. Isso pode mudar o impacto da reforma na economia que o governo prev�, de 0,4% no PIB?
O impacto no PIB ser� de 0,4% anual. Neste ano, n�o vai ser isso, porque est� demorando. � preciso saber quando essa reforma vai valer. Temos uma grande expectativa de que ela seja aprovada rapidamente na C�mara e rapidamente no Senado. Estamos confiantes de que ela passar� na C�mara agora em julho. O Congresso est� tentando isso de todas as maneiras. Mas a taxa de 0,4% anual est� mantida, porque, quando fizemos a conta, a economia estava em R$ 1,1 trilh�o (em 10 anos). A proposta que est� no plen�rio da C�mara est� muito pr�xima disso, em torno de R$ 900 bilh�es.
Quando o senhor fala que o pa�s est� condenado a crescer 1,5% ao ano, � o cen�rio com ou sem reforma?
Esse � o cen�rio sem reformas. Se forem aprovadas todas as medidas econ�micas que estamos pensando: reforma da Previd�ncia, reforma tribut�ria, abertura econ�mica, privatiza��es, concess�es e toda uma gama de propostas que melhorem a produtividade da economia brasileira, podemos crescer entre 3% e 4% ao ano, em uma trajet�ria sustent�vel de longo prazo. Mas isso � com uma agenda ampla, pr�-mercado.
O senhor falou de crescimento econ�mico, mas e o emprego e a renda, que est�o em n�veis muito baixos? Como solucionar esses problemas p�s-reforma?
� uma agenda que nos preocupa. Aqui, temos que ser francos. Todo mundo tem parente que est� passando por essa situa��o dif�cil, de aperto. E o que podemos dizer? Estamos planejando uma agenda importante para diminuir o custo de contrata��o em todos os setores e de maneira definitiva. Isso ser� detalhado quando a proposta da reforma tribut�ria for apresentada. Ser� um grande est�mulo ao emprego. Junto com a reforma da Previd�ncia, com a abertura comercial, essa agenda beneficia o Brasil como um todo.
Poderia dar mais detalhes de outras medidas?
N�o vamos arriscar nunca a nova Previd�ncia por causa disso. Primeiro, � a reforma da Previd�ncia. S� depois vamos dar detalhes espec�ficos. Agora, saiba que esse � um governo pr�-mercado, pr�-consumidor. Tudo aquilo que fizer bem ao consumidor, fizer bem � produtividade, favorecer a livre iniciativa e possibilitar que cada trabalhador tenha seu emprego e tenha seu inalien�vel direito de perseguir a sua pr�pria felicidade ser� estimulado nesse governo.