Focar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social (BNDES) na presta��o de servi�os financeiros para os governos de diversas esferas, como proposto por seu novo presidente, Gustavo Montezano, deixar� o peso da institui��o de fomento na economia no menor n�vel recente.
O patamar de desembolsos em torno de R$ 70 bilh�es por ano, sinalizado por Montezano, equivale a 1% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todos os produtos e servi�os), menor n�vel em 20 anos.
Para alguns economistas, a decis�o � acertada e um BNDES menor � importante para sanear as contas p�blicas e desenvolver fontes privadas de financiamento. Para outros, essa redu��o poder� ser excessiva e existe o risco de faltar financiamento para investimentos de longo prazo, especialmente quando o crescimento econ�mico retomar o f�lego.
Os desembolsos de 2018, de R$ 69,3 bilh�es foram equivalentes a 1,02% do PIB, o menor n�vel desde 1996, mostra a s�rie hist�rica do BNDES. Na m�dia de 1995 a 2018, os desembolsos ficam em 2,29% do PIB. Mesmo nos governos Fernando Henrique Cardoso, de 1995 a 2002, a m�dia ficou em 1,74% do PIB. No auge do gigantismo, nos governos do PT, o BNDES liberou R$ 283 bilh�es (em valores atualizados a 2018) em 2010, o equivalente a 4,33% do PIB.
Em entrevista ap�s a posse em Bras�lia, na ter�a-feira, e em discurso na sede do BNDES, no Rio, na sexta-feira, 19, Montezano disse que, como prestador de servi�os financeiros, o banco vai assessorar governos a fazerem privatiza��es, concess�es ao setor privado e reestrutura��es financeiras. Repetindo o mote de que a ideia � ser "menos banco e mais desenvolvimento", Montezano citou o valor de R$ 70 bilh�es ao ano como teto da oferta de cr�dito. "Em 2011, o banco desembolsava 3% do PIB em cr�dito. Agora, n�o. S� que s�o R$ 70 bilh�es por ano. � muito dinheiro", afirmou o executivo, no discurso de sexta.
Privatiza��es
Na vis�o de Cl�udio Frischtak, diretor da Inter.B Consultoria, o foco do BNDES deveria ser apoiar a agenda de privatiza��es e concess�es em infraestrutura, justamente como Montezano tem proposto. Os instrumentos financeiros usados para atuar nessa fun��o deveriam ser definidos a partir da�, ou seja, o banco pode at� emprestar, mas isso n�o deveria ser o foco principal. Nesse quadro, R$ 70 bilh�es ao ano em desembolsos pode at� ser demais, pois n�o faltam recursos privados, segundo Frischtak. "Os juros est�o caindo no Brasil e no mundo. N�o est� faltando dinheiro", disse ele.
O diretor executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), J�lio Gomes de Almeida, v� com ceticismo a aposta no setor privado para financiar os investimentos. Para Almeida, o mercado privado tem crescido, especialmente com a emiss�o das deb�ntures de infraestrutura, t�tulos de renda fixa voltados para esses projetos de longo prazo, mas pode n�o dar conta da demanda, que tende a aumentar com as concess�es e a retomada da economia. "O BNDES j� foi reduzido demais", disse Almeida, defendendo um patamar m�nimo de desembolsos de 1,5% do PIB ao ano.
Para Luiz Carlos Mendon�a de Barros, presidente do BNDES de 1995 a 1998, o banco assumiu papel de peso no cr�dito de longo prazo porque a economia � muito c�clica e faltam fontes privadas de financiamento.
"� uma aposta perigosa do (ministro da Economia), Paulo Guedes, de que as butiques (os bancos de investimento) da Faria Lima v�o substituir o BNDES. N�o v�o. E num momento em que � crucial ter estabilidade da oferta de recursos de longo prazo. Vem a� uma demanda grande em cima do BNDES por causa das privatiza��es", disse, ressaltando que poder�o faltar fontes de financiamento a partir de 2021 ou 2022.
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