
Com 57 f�bricas no Brasil, 17 mil funcion�rios e mais de R$ 8,5 bilh�es em vendas, Fournier dirige um conglomerado que � uma esp�cie de term�metro de toda a atividade econ�mica.
Para ele, o aguardado reaquecimento da economia, diante dos atrasos em aprovar reformas importantes, s� ocorrer� em 2020.
Para muitas empresas, a transforma��o digital � um processo mais desafiador do que para outras, principalmente quando se trata de companhia t�o antiga como a Saint-Gobain. Como isso tem sido feito?
Tem raz�o. Em uma empresa t�o antiga, com mais de 350 anos de exist�ncia, � dif�cil mudar tudo de um dia para o outro. A jornada � longa. Come�amos essa caminhada recrutando um profissional totalmente diferente, algu�m que veio do mundo digital. N�o vou citar nomes, porque n�o � isso o mais importante. Pedi para essa pessoa fazer cinco coisas.
Quais foram os pedidos?
Em primeiro lugar, falar com todos os nossos funcion�rios para explicar o que � digital no nosso mundo de hoje. Ele orientou desde os diretores-gerais at� os operadores de linha em cada f�brica nossa no pa�s. Foi um treinamento com cerca de 15 mil pessoas, durante dois anos e meio, justamente para explicar as redes sociais, e-commerce, a inspira��o pelo digital, tudo isso que hoje conhecemos bem. A segunda miss�o foi explorar todas as ferramentas digitais poss�veis para aprimorar nosso desempenho dentro e fora das f�bricas. A terceira miss�o, posicionar nossas marcas nas redes sociais, junto com Instagram, Facebook, Twitter e tudo mais. Com isso, melhoramos bastante nossa rela��o com os clientes, com fornecedores e mesmo com colaboradores. A quarta miss�o foi usar melhor o sistema CRM, da Salesforce, alavancar melhor essa ferramenta. E, finalmente, a �ltima miss�o, talvez a mais importante de todas, foi identificar com nossos clientes onde faria sentido interagir com nossa ferramenta digital. E tivemos resultados espetaculares. Mas isso tudo levou mais de 5 anos.
Qual foi a li��o tirada desse longo processo de digitaliza��o?
A mensagem que posso deixar � que as empresas, independentemente da �rea de atua��o, idade ou porte, precisam de um plano, de pessoas certas para fazer o trabalho. Quem n�o � especialista nisso n�o vai conseguir virar a chave sozinho. Al�m disso, a transforma��o digital exige paci�ncia, dedica��o, resili�ncia. N�o � simples nem f�cil.
Qual � a maior dificuldade?
� entender como a sua transforma��o se encaixa com a necessidade dos clientes, das empresas parcerias e dos consumidores. Muitas empresas acham que digitalizar � s� mudar coisas dentro de suas empresas, sem olhar para fora. A� elas ficam pelo caminho. Quando se olha de perto as demandas de cada um, os pontos de vista s�o sempre diferentes. Realmente, entender como o cliente est� caminhando � a parte mais dif�cil.
A crise dos �ltimos anos na economia brasileira afetou muitos setores em que a Saint-Gobain atua, como automotivo e constru��o civil. A crise prejudica ou acelera as transforma��es?
Nem prejudicou nem ajudou. A situa��o do mercado se resolve com t�ticas. Ou seja, quando a demanda cai, se ajusta o ritmo da produ��o, a capacidade produtiva, os pre�os e custos. Mas isso n�o tem nenhum impacto sobre a estrat�gia de longo prazo. A transforma��o digital � uma estrat�gia a longo prazo. Queira ou n�o, vai ocorrer.
A sobreviv�ncia da empresa depende do sucesso dessas estrat�gias?
Vou responder olhando um pouco para o passado. A nossa empresa tem 354 anos de hist�ria. Desde o come�o, a gente inventa o futuro. N�o ficamos esperando as coisas acontecerem para depois ver o que temos de fazer. Estamos inventando o futuro desde 1665. Atualmente, estamos enfrentando a transforma��o digital, a ind�stria 4.0, esse tipo de coisa. Mas j� enfrentamos duas guerras mundiais, enfrentamos a Revolu��o Francesa, enfrentamos a primeira revolu��o industrial, a segunda revolu��o industrial, a terceira revolu��o industrial e vamos enfrentar a quinta, a sexta, a oitava, a vig�sima terceira. O segredo � nunca pensar que voc� j� chegou ao seu ponto m�ximo, ao �pice. A longevidade de toda empresa � se reinventar o tempo todo, se antecipar, antes que o mundo mude de novo.
Mas como se antecipar em meio a transforma��es t�o r�pidas como as que est�o ocorrendo?
A revolu��o digital est� r�pida e vai ficar cada vez mais veloz no futuro. Essa velocidade imp�e a todos n�s uma nova maneira de pensar, de aprender e se organizar. A forma de liderar ser� outra. Vai sobreviver quem estiver aberto e preparado para rever sua lideran�a. Hoje, n�o d� para saber tudo o que est� ocorrendo numa empresa. O CEO, o diretor, os l�deres t�m que saber escalar seu time, gente que saiba mais do que ele, que seja melhor que o presidente. N�o � mais como antigamente.
Por que a Saint-Gobain construiu um centro de pesquisa no Brasil? A ideia � diversificar os neg�cios em outros setores?
N�o. Constru�mos por necessidade. Como 80% de nossas vendas s�o voltadas ao mercado local, precisamos de solu��es e tecnologias locais. Uma placa de gesso fabricada no Brasil � diferente de uma placa de gesso fabricada e vendida em Miami. A mesma coisa vale para a fibra de vidro, a argamassa, entre uma infinidade de itens. Ent�o, precisamos ter produtos adaptados � realidade do mercado em que a gente atua. Ter um centro de pesquisa nos ajuda a acelerar o desenvolvimento de produtos locais. � algo que ajuda bastante. Estou feliz com esse centro, que j� comemorou o terceiro anivers�rio e que est� na velocidade de cruzeiro em muitos projetos.
Por vender 80% da produ��o no mercado interno, como o senhor avalia a situa��o econ�mica do pa�s?
O primeiro semestre foi muito bom. Esteve alinhado com o que est�vamos esperando. Sab�amos que, ap�s a elei��o presidencial, haveria uma euforia nos mercados, uma onda de otimismo que ia beneficiar a atividade econ�mica. Ocorreu dessa forma. Mas sab�amos que o otimismo com o novo governo n�o ia durar o ano inteiro. Com isso, j� estava nas contas um primeiro semestre mais aquecido e um segundo semestre mais duro. � exatamente o que est� ocorrendo. Houve atraso na aprova��o da reforma da Previd�ncia, e ainda dependemos das reformas pol�tica e tribut�ria. Mas agora, todas as discuss�es j� est�o na mesa.
Ent�o uma retomada consistente da economia n�o vir� neste ano?
Como a o segundo semestre vai ser um pouco dif�cil, a retomada do crescimento vai ocorrer em 2020. As contrata��es e os investimentos s� voltar�o a ocorrer quando o mercado enxergar o crescimento pela frente.
O plano de investimentos da Saint-Gobain mudou?
N�o. Investimos no Brasil 100 milh�es de euros por ano. Houve ano em que investimos 150, 200 milh�es de euros, mas a m�dia � algo em torno de R$ 500 milh�es. Nunca paramos de investir em novas f�bricas, em novas linhas, em novos processos e aumento de capacidade.
Dos setores em que a Saint-Gobain atua, quais ter�o recupera��o mais r�pida e quais v�o demorar mais para reagir?
O setor automotivo, as vendas de carro no Brasil est�o indo bem, crescendo entre 10% e 12% no acumulado do ano. O setor s� n�o est� melhor porque o Brasil exporta muito para a Argentina e, l�, as vendas de ve�culos despencaram. J� no setor da constru��o, podemos ver que os projetos est�o de volta �s mesas dos arquitetos e dos investidores. H� muitos projetos novos. O problema � que, para a Saint-Gobain, esse crescimento vai demorar mais para ser sentido. Como nossos produtos s�o voltados a fases de acabamento, s� vamos sentir o reaquecimento a partir do ano que vem.
Como franc�s, qual � a sua vis�o do acordo de livre-com�rcio do Mercosul com a Uni�o Europeia?
De uma forma geral, estou um pouco pessimista em rela��o aos impactos iniciais. Atualmente, o Brasil � um dos pa�ses mais fechados e protegidos do mundo na quest�o comercial. Como consequ�ncia disso, a ind�stria n�o investe para ser competitiva l� fora. N�o est� em condi��es de competir com os gigantes internacionais. E a nossa competitividade vem piorando a cada ano. Por outro lado, o acordo ser� positivo no longo prazo. Uma economia aberta � sempre melhor do que uma economia fechada. Obriga todos a serem competitivos.
Como abrir a economia sem prejudicar as empresas?
O acordo do Mercosul com a Uni�o Europeia tem, por tr�s, muitas coisas pol�ticas. N�o tem s� objetivos econ�micos. Mas n�o vou entrar nas considera��es pol�ticas. O fato � que vai ser dif�cil para todo mundo no come�o, mas, no final, vai ser bom para o Brasil, para a Argentina, para o Mercosul e para a Europa.