
Para ele, o grande problema est� no excesso de capacidade instalada em um mercado que est� abaixo dos patamares de 2007. Mas h�, em sua avalia��o, um horizonte positivo no Brasil, com um novo governo, com a aprova��o da reforma da Previd�ncia e com o avan�o das negocia��es em torno da reforma tribut�ria. Acompanhe a entrevista completa a seguir.
Qual � o impacto da desacelera��o da economia global no setor do a�o?
A desacelera��o complica um pouco no mercado internacional. Nosso setor tem excesso de capacidade de 395 milh�es de toneladas de material. Para a atividade sider�rgica, isso tem preocupado muito. O mundo hoje vive uma nociva escalada protecionista, e uma recess�o global mundial s� prejudica ainda mais.
A guerra comercial entre China e Estados Unidos � o que mais preocupa hoje em dia?
Estamos falando a� das duas grandes economias do mundo. Evidentemente, o ponto de partida dessa grande guerra, dessa escalada, � o excesso de capacidade, fundamentalmente da China. Num segundo movimento, o Trump, com a taxa��o de 25% para todas as importa��es que s�o feitas para o Brasil, Coreia do Sul e Argentina. O terceiro passo, a Uni�o Europeia, que reage a Trump e coloca uma salvaguarda. Ent�o, sobre a �tica sider�rgica, o mundo j� est� convulsionado.
D� para assimilar isso no caso do Brasil?
Para resolver, precisamos definir planos de redu��o da capacidade instalada. Mas isso significa demiss�o de pessoal e fechamento de plantas. Outra alternativa para reduzir o excesso de capacidade � se as principais economias do mundo tivessem crescimentos fortes, sustentados, com consumo aumentando.
O baixo ritmo da atividade industrial brasileira est� afetando o setor de que forma?
Com baixa utiliza��o da capacidade. Nossos mercados est�o deprimidos e a perspectiva � de que a retomada passe a ocorrer de forma mais vigorosa a partir de 2020. Ent�o, nossa sa�da, teoricamente, seria exporta��o. Mas a exporta��o � comprometida pelo ambiente desfavor�vel e pelo famoso custo Brasil, com assimetrias competitivas. H� um trabalho recente da World Steel Association que mostra que nenhum pa�s desenvolvido conseguiu retornar ao n�vel de consumo de 2007. Ou seja, Estados Unidos, Jap�o e Europa est�o consumindo menos a�o do que em 2007.
Ou seja, a �ltima crise global ainda n�o foi superada...
Exato. Pior ainda no Brasil. Isso porque estamos em um processo de queda, em um processo recessivo que j� dura mais de quatro anos. A retomada que est�vamos imaginando para o primeiro semestre n�o ocorreu.
Existem alternativas para o setor, caso a recess�o ou estagna��o da economia brasileira dure muito tempo?
O que a gente tem que fazer, e estamos trabalhando para isso junto com demais setores que comp�em a coaliz�o ind�stria, � colocar a roda da economia para rodar. Para voltar a crescer, o Brasil deve priorizar exporta��es, infraestrutura e constru��o civil.
De todos os setores industriais brasileiros, quais s�o os com melhores e piores perspectivas?
Qualquer representante da ind�stria de transforma��o sabe que a salva��o da ind�stria est� na retomada do crescimento econ�mico. S� que, para se ter a retomada do crescimento econ�mico, � preciso arrumar a cozinha e fazer a li��o de casa na quest�o fiscal. E sabemos que a retomada pela reforma da Previd�ncia e reforma tribut�ria. Ambas as reformas s�o as bases para que se tenha a volta do crescimento. Fora das reformas, o governo precisa olhar para a quest�o da competitividade. Hoje, o ambiente de neg�cios est� em condi��o muito ruim, em meio a um manic�mio tribut�rio. Ent�o, temos que limpar essas assimetrias competitivas para poder dar condi��es ao parque sider�rgico de ter competitividade na exporta��o.
Existe alguma negocia��o do setor do a�o em andamento com o governo federal no que diz respeito � tributa��o?
Temos conversado com o governo porque existe um mecanismo que se chama Reintegra, que ressarce as empresas dos tributos cumulativos que foram cobrados indevidamente. Esse mecanismo, que �s vezes o governo costuma chamar de subs�dio, n�o � subs�dio, � apenas um mecanismo de ressarcimento, que j� foi aprovado l� atr�s. Havia um limite de 5% e o governo Temer, por causa da greve dos caminhoneiros, resolveu utilizar recursos do Reintegra para fazer frente a outras despesas. O que a gente tem defendido com o governo federal � que a ind�stria de transforma��o, que opera com um grau elevado de ociosidade, precisa ter competitividade e ter a corre��o dos chamados desvios tribut�rios.
Quais s�o as suas expectativas para a economia brasileira e mundial neste ano e para 2020?
Em n�vel nacional, somos otimistas. Acredito que o governo Bolsonaro tem trabalhado de forma objetiva em quest�es que s�o cruciais. O governo divulga muito mal aquilo que vem fazendo de bom. Quem olhar para o todo, enxerga a� uma reforma previdenci�ria aprovada e uma tribut�ria encaminhada. Al�m disso, foi aprovado o novo mercado de g�s, que vai permitir que haja uma redu��o efetiva no pre�o da energia, e isso � muito importante. O governo tem tamb�m um programa ambicioso de privatiza��es, que atinge quase R$ 1 trilh�o, al�m de PPIs, os Programas de Parcerias de Investimentos, que est�o extremamente avan�ados. Diria que os pilares da retomada do crescimento econ�mico de forma sustentada est�o lan�ados.
O acordo do Mercosul de Uni�o Europeia anima?
Sobre o acordo, todo mundo saiu soltando foguete, mas sa�mos na contram�o, dizendo que para o setor n�o era bom. Olhando para o Brasil, � evidente que a gente entende que foi um grande avan�o. Mas se voc� olhar para a ind�stria sider�rgica, n�o teremos absolutamente nenhum ganho. As al�quotas de exporta��o para Uni�o Europeia est�o zeradas desde 2006. Ou seja, estou entrando num acordo no qual n�o vou ganhar nada. Ningu�m vai reduzir nada para mim. O segundo ponto � que deixo de ter, gradativamente, a minha prote��o. A minha preocupa��o � que a redu��o do nosso imposto de importa��o ocorra concomitantemente com a corre��o das assimetrias competitivas. N�o posso correr o risco de reduzir meus impostos de importa��o sem antes corrigir as minhas mazelas.
Como a volatilidade do d�lar est� afetando o setor? D�lar acima de R$ 4 � bom?
Em uma das reuni�es com o governo, quando a gente estava discutindo a quest�o da competitividade, um dos secret�rios, quase de n�vel de ministro, disse: “Mas e o d�lar, n�o ajuda?”. Ele teve a� uma aprecia��o de 19%. Digo que, primeiro ponto, o d�lar no passado sempre mascarou a falta de competitividade, ou as chamadas assimetrias competitivas. S� que o d�lar n�o � para mascarar nada. A pol�tica cambial n�o serve para ganhar competitividade. Ganha-se competitividade quando se corrige as assimetrias. O d�lar apreciou 19% no Brasil num determinado per�odo, mas isso ocorreu com outras moedas no mundo. Na Turquia, a aprecia��o do d�lar foi de 50,6%, mesma faixa da Ucr�nia e R�ssia.
O que ser� debatido no Congresso A�o Brasil, que ser� realizado entre hoje e amanh�, em Bras�lia?
O Congresso ocorre em um momento extremamente oportuno, depois de sete meses de governo novo. Diferentemente dos governos passados, esse governo est� reformulando todas essas estruturas. Teremos a presen�a do presidente da Rep�blica, do ministro-chefe da Casa Civil, do ministro das Minas e Energia, al�m de palestrantes internacionais. O congresso vai ser um divisor de �guas e uma grande oportunidade de fazer um balan�o do que ocorreu nesse primeiro momento de governo e de olhar para frente.
