Luis Stuhlberger: 'PIB do Brasil ainda n�o est� mostrando seu potencial'

Luis Stuhlberger, dono da Verde Asset Management e gestor do maior fundo multimercado do Brasil, mostra estar surpreso com o que vem acontecendo no Brasil na �rea econ�mica. Segundo ele, se fosse perguntado, h� seis meses, sobre as chances de o governo aprovar uma reforma da Previd�ncia com economia para os cofres p�blicos perto de R$ 1 trilh�o, diria que a probabilidade era zero. Para o gestor, tamb�m "foi um milagre" a privatiza��o da BR Distribuidora ter acontecido "sem greve, sem bloqueio de entrada", uma evid�ncia de que "coisas importantes" est�o acontecendo na economia brasileira, apesar do estresse recente do mercado.

Em rela��o � economia global, diz n�o ter explica��o exata para um n�mero maior de governos emitirem pap�is com taxa de juros negativa - o investidor que compra esses t�tulos p�blicos acaba perdendo dinheiro. Mas pondera que a tecnologia promove a defla��o e a consequente queda dos juros. Com isso, h� a tend�ncia de um n�mero maior de pessoas preferirem ativos reais, como ouro e terras, enquanto o dinheiro deve perder valor. Em poucas d�cadas, diz, uma poss�vel solu��o seria "um grande Plano Collor mundial", em alus�o �s medidas do ex-presidente Fernando Collor de Mello que limitaram saques banc�rios pela popula��o no in�cio dos anos 90. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Como o sr. avalia esses oito meses de governo na economia?

Se voc� me dissesse h� seis meses que n�s �amos aprovar uma reforma da Previd�ncia de quase R$ 1 trilh�o (de economia aos cofres p�blicos), eu ia dizer que a chance era zero. Est�o acontecendo coisas importantes no Brasil. O Pa�s vai ser solvente, h� essa MP (medida provis�ria) da Liberdade Econ�mica, as ideias econ�micas s�o boas. J� as outras ideias do governo, obviamente...

O ministro Paulo Guedes, da Economia, vai bem?

Sim. E n�o � s� ele. O (presidente da C�mara, deputado) Rodrigo Maia tamb�m.

O sr. acredita na aprova��o da reforma tribut�ria?

N�o � uma reforma f�cil de passar, porque tem conflitos entre setores da economia, mas h� muito tempo que a gente n�o via isso acontecer no Brasil. A privatiza��o de uma BR Distribuidora aconteceu sem greve, sem ataques, sem bloqueio de entrada. Isso � um milagre. Mesmo a reforma da Previd�ncia. Olhando o exemplo dos argentinos, em algum momento, temos de ter crescimento, a volta do PIB, emprego.

Como a crise argentina afeta o Brasil? Mostra que temos de crescer rapidamente?

N�o diria rapidamente. A Argentina est� numa situa��o muito ruim h� muito tempo. N�o se pode comparar o estado da economia brasileira com o da Argentina, com problemas cr�nicos, porque tem o peronismo desde os anos 50. A economia argentina � muito fr�gil, � toda dolarizada e sofre com a desindustrializa��o.

Mas se o Brasil n�o crescer, como aconteceu l�...

Temos de crescer. Por outro lado, � quase imposs�vel esse governo argentino escapar de um default, de mais infla��o, de mais controle cambial. Ou seja, a esquerda na Argentina (que deve vencer as elei��es), l� em 2022, ser� um governo que vai piorar a situa��o em rela��o ao que est� hoje, n�o tem como melhorar. H� um lado bom para a gente, que cria essa imagem de "olha onde a esquerda vai nos levar se voltar ao poder".

O que fazer para o PIB do Brasil crescer mais?

Acho que o PIB ainda n�o est� nem mostrando seu potencial. Com uma Selic (taxa b�sica de juros) de 5%, infla��o de 3,5% (ao ano), o benef�cio que teremos � imenso, em termos de desenvolvimento.

O cr�dito est� voltando?

Lentamente. Mas � melhor que seja lentamente, porque todas as coisas que s�o muito r�pidas (podem trazer problema). O Brasil n�o est� crescendo muito porque a capacidade de recuperar o investimento - lembrando que o investimento era feito pelo governo, pelo BNDES, pelas empreiteiras - leva tempo para recuperar. Mas todos os indicadores do Brasil s�o bons. As emiss�es de deb�ntures incentivadas (pap�is de d�vidas de empresas pelos quais os investidores n�o pagam impostos) come�aram a ser emitidas com vencimento em 5, 10, 20, esse ano vai ser 50 (anos). As empresas est�o se desalavancando (reduzindo seu endividamento), tomando dinheiro no mercado. Os R$ 6 trilh�es que estavam no CDI (Certificados de Dep�sito Banc�rio, modelo de investimento que perde rentabilidade com a queda nos juros) v�o ter de ser investidos.

Por que os juros est�o em patamar negativo em um n�mero crescente de pa�ses desenvolvidos?

Ningu�m tem uma explica��o exata, mas entre as raz�es principais est�o a infla��o e o crescimento baixos. As pessoas est�o usando mais a tecnologia e a tecnologia � deflacionista. E mesmo com a tecnologia, por�m, as economias est�o gerando empregos. Os Estados Unidos s�o a mais forte delas, com a cria��o de 150 mil vagas por m�s. O Jap�o, por exemplo, tem o desemprego mais baixo do mundo. H� ainda os programas de relaxamento quantitativo (QE, na sigla em ingl�s, que � a inje��o de uma grande quantidade de recursos na economia), que come�aram no Jap�o em 2002 e se acentuaram ap�s a crise de 2008 na Europa e nos EUA. Esse fen�meno come�ou a jogar o juro de longo prazo para baixo. Isso era restrito ao Jap�o, e a� EUA e Europa entraram forte na mesma linha.

Al�m da pol�tica monet�ria, o que os pa�ses desenvolvidos podem fazer para as economias crescerem mais?

Os pa�ses emergentes t�m de equacionar suas d�vidas, mas nos desenvolvidos a situa��o � diferente. O Jap�o deve 200% do PIB, mas o juro sobre isso � zero. A� come�a a ter a possibilidade de se usar est�mulos fiscais, como os Estados Unidos est�o pensando em fazer e a Europa tamb�m. Vamos gastar muito mais para fazer a economia crescer e, naturalmente, gastando muito mais, a necessidade de financiamento ser� maior. Como a gente mesmo compra os nossos t�tulos, ent�o podemos gastar mais para ter um PIB maior.

Quais ativos comprar neste ambiente de juros negativos?

Os governos v�o imprimir dinheiro e v�o gastar mais. Os bancos centrais v�o comprar t�tulos, at� um dia que as pessoas v�o acordar e entender que uma parte muito significativa do dinheiro no mundo � do pr�prio banco central daquele pa�s. A� v�o se perguntar se o dinheiro vale e se � poss�vel haver aquela teoria: 'N�o quero mais dinheiro, quero ter ativos reais, como o ouro'. No Jap�o, 43% da d�vida est� com o banco central, na Europa, � 22% e agora pode ir para 33%.

Quem s�o os maiores perdedores com os juros negativos?

As fam�lias mais ricas. Aquele 1%, 2%, 3% da popula��o mundial que tem a riqueza. No limite, para quem n�o � muito rico, para a classe m�dia mundial, que tem algum dinheiro no banco e algum patrim�nio, mas tem d�vidas. Ent�o, essas pessoas s�o beneficiadas por conta dos juros muito baixos. O juro alto, dos rentistas, que foi praticado no Brasil por 26 anos seguidos, favorece os mais ricos. Isso n�o � t�o ruim no curto prazo, porque � expropriado o dinheiro das pessoas ricas. Tem dois jeitos de o mundo resolver os seus problemas fiscais: a conta-gotas, perdendo um pouquinho por ano, ou em um dia. Essa hist�ria vai acabar como? Vai acabar num grande Plano Collor mundial.

Como assim?

Um dia o correntista vai acordar e vai ao banco dizer que quer tirar seu dinheiro. Os primeiros � 50 mil ou US$ 50 mil ele leva. O resto vai virar um papel de 100 anos, que pode ser vendido no mercado secund�rio. Neste dia long�nquo, haver� um QE elevado � en�sima pot�ncia. Todo mundo vai perder: quem tem ouro, terra, bitcoin. Mas a quest�o �: quem vai ganhar ou perder menos? O dinheiro vai perder quase tudo, como sempre foi na hist�ria da humanidade, certo? As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.