
S�o Paulo – Na manh� dessa quinta-feira (5), analistas das maiores institui��es financeiras do pa�s se aglomeraram na sala de um hotel de luxo, na Zona Sul de S�o Paulo, para ouvir, do fundador da mineira MRV, Rubens Menin, e de seus principais executivos, quais s�o os planos da empresa caso seja aprovada a aquisi��o de 20% do capital social da AHS Residential. Com opera��o nos Estados Unidos, a companhia atua no segmento de im�veis multifamiliares.
Um dia antes, parte da informa��o havia vazado para a ag�ncia de not�cias Bloomberg e o mercado financeiro reagiu mal diante da possibilidade de a companhia se tornar dona de uma empresa americana, controlada por Menin, e, com isso, pulverizar os esfor�os que hoje se concentram exclusivamente no Brasil. Com a conversa de pouco mais de duas horas, os analistas puderam tirar d�vidas e os pap�is da MRV voltaram a se valorizar na B3, a bolsa paulista.
A proposta ter� de ser aprovada em assembleia geral extraordin�ria, agendada para 4 de outubro. Se for dado o sinal verde, a MRV (US) Holdings Corporation, entidade holding com sede no exterior, dever� adquirir, em um primeiro momento, 20% do capital social total da AHS Residential, LLC., o que representa 50,01% do seu capital votante, com o aumento dessa fatia para at� 51% do capital social total da empresa americana, desde que respeitado o valor m�nimo de investimento, de US$ 220 milh�es, e o m�ximo, de US$ 255 milh�es, em duas rodadas.
A primeira rodada, no valor de US$ 46 milh�es, poder� ocorrer j� no pr�ximo m�s, caso o neg�cio seja aprovado pela AGE. J� a segunda rodada, com aporte que ficar� entre US$ 175 milh�es e US$ 204 milh�es, dever� ocorrer entre 2021 e 2022.
Foi anunciada, ainda, a contrata��o do escrit�rio americano Morrison, Brown, Argiz & Farra, LLC., para elaborar o laudo de avalia��o da AHS Residential. A consultoria Interbrand dever� fazer o trabalho de constru��o da marca a partir da nova gest�o. Apesar de o plano ser manter o nome AHS Residential, que j� atua nos EUA desde 2012, n�o se descarta a troca para MRV no futuro.
Todo esse movimento representa a chegada da MRV aos EUA, que tem um mercado residencial de US$ 34 trilh�es, ou 11 vezes o tamanho do brasileiro. A AHS atua no segmento da classe m�dia, que, hoje, sofre com um grande d�ficit habitacional no pa�s.
“Desde aquela �poca, notamos que o mercado americano de casas populares � muito fraco, as empresas t�m muito pouca tecnologia. Fa�o uma analogia com a ind�stria de carros dos EUA, que foi engolida pela japonesa, coreana e europeia. Ainda hoje, eles utilizam uma tecnologia ultrapassada na constru��o. A melhor tecnologia do mundo nesse setor � a da MRV”, disse Menin aos convidados.
FALTAM IM�VEIS
Segundo o empres�rio, presidente do conselho de administra��o da MRV, apesar de ser grande, o mercado residencial para a baixa renda nos EUA � muito mal abastecido. H� cerca de tr�s anos, conta Menin, os executivos perceberam que era poss�vel fazer um trabalho de troca de tecnologia entre as duas empresas.
Foi assim que o processo construtivo da MRV – um deles inclui o uso de formas de concreto – chegou aos EUA, o que refletiu na redu��o de custos e no menor prazo para a entrega das obras. O prazo de entrega, no in�cio, era de 16 meses, e atualmente est� em 12. Agora, o plano � baixar esse cronograma para oito meses. “Habita��o popular � um problema mal resolvido no mundo todo. Tem de haver uma solu��o de mercado para isso e � no que apostamos.”
Menin acredita que o mercado teve uma percep��o errada sobre o neg�cio por conta do vazamento incompleto da informa��o. “T�nhamos propostas de empresas e fundos americanos bem superiores a isso. Vendemos pelo valor do tijolo. Corri todos os riscos. � um sonho da MRV. Estou abrindo m�o de uma empresa que era minha para um sonho maior”, explica.
O empres�rio lembra que o neg�cio � atraente, n�o s� pela tecnologia da MRV, que poder� ser exportada para a AHS, mas principalmente pelo tamanho do mercado americano, muito maior que o brasileiro. Nos EUA, diz, tem ficado cada vez mais dif�cil para a classe m�dia adquirir um im�vel, o que ele acredita ser uma oportunidade. Como resultado, garante, o acionista ganhar� ao ter participa��o em uma empresa que vai gerar mais valor ao se expandir em um mercado mais maduro e est�vel que o brasileiro.
MRV VAI SURFAR
Menin diz ter “100%” de certeza que a MRV tem condi��o de alcan�ar bons resultados. “A MRV vai surfar muito bem no mercado americano. Acredito muito no Brasil, mas, por que n�o ir al�m e chegar a mais mercados?” Para Menin, essa � uma janela de oportunidade. Al�m disso, lembra o mineiro, “cavalo arriado n�o passa duas vezes”.
A sede da AHS fica em Miami, mas a empresa j� estuda a expans�o dos projetos para o Texas e a Georgia. Menin avalia que o potencial da AHS seja grande a ponto de a empresa americana se tornar maior que a MRV, uma esp�cie de plataforma global na �rea da constru��o civil.
Apesar do entusiasmo com o que pode vir dos neg�cios nos EUA, o presidente do conselho de administra��o da MRV mant�m boas expectativas em rela��o ao Brasil, especialmente diante dos juros mais baixos e da car�ncia de projetos fora dos grandes centros.
PROMISSOR
Assim como Menin, Rafael Menin Teixeira de Souza, CEO da MRV, garante que, apesar do plano de internacionaliza��o, a companhia continua entusiasmada com o mercado brasileiro.
“Com novos financiamentos no mercado, juros caindo e a volta da economia, quem pode surfar nessa onda � a MRV. Estamos em 22 estados e 160 cidades. N�o � nada f�cil tocar essa opera��o em um pa�s como o Brasil, com toda a sua inseguran�a jur�dica. Mesmo assim, temos entregado resultados consistentes nos �ltimos 12 anos. A MRV ainda tem uma avenida de crescimento por aqui”, afirma. Em outro momento da apresenta��o, no entanto, o CEO lembrou que o ambiente dom�stico “ainda n�o � pr�-neg�cio, enquanto nos EUA est� ocorrendo o oposto, com menos risco”.
Apesar do comportamento que espera do mercado interno, o CEO provoca: “Por que n�o adicionar mais um componente de crescimento? Temos capital financeiro e humano. Nosso jogo � muito de longo prazo. Por isso, acreditamos no que pode ser agregado ao alargarmos essa plataforma habitacional, ao levar nossas opera��es no primeiro e no segundo maior mercado habitacional do Ocidente”.
Na an�lise do CEO da MRV, o risco inicial da AHS j� foi assumido por Menin no in�cio da opera��o e ficou provado que a empresa � mais eficiente do que as concorrentes americanas. Otimista, Rafael diz que, neste caso, a soma de “dois mais dois ser� igual a seis. Envolver� pouco capital para um neg�cio que pode dobrar o lucro da companhia”.
A aposta de todos os executivos durante o evento � que a combina��o de neg�cios dar� certo. E, mesmo antes da aprova��o em assembleia, a dire��o da MRV j� aposta no que vem por a�.
Ao final, os analistas ganharam um kit para j� entrarem no clima da nova fase da empresa. O cart�o dizia: “Quando o melhor de dois mundos � misturado, sempre surge algo muito especial”. Na caixa, os convidados encontraram ainda tr�s tipos de molho barbecue, produto t�pico dos EUA, mas todos foram feitos com receitas que lembram Minas: goiabada caipira, caf� e pimenta biquinha com cacha�a.
Planos incluem abertura de capital nos EUA
Rafael Menin Teixeira de Souza, CEO da MRV, acredita que a nova fase da MRV nos EUA, por meio da AHS, resultar� em um “modelo estrondoso” de neg�cio. Isso por conta da combina��o de investimentos em tecnologia, os ganhos de efici�ncia e a demanda reprimida. Essas caracter�sticas levam o executivo a pensar na possibilidade de, no futuro, levar a AHS a fazer um movimento em dire��o ao mercado de capitais dos EUA.
Com a aprova��o da aquisi��o, Ernesto Lopes seguir� como CEO da AHS. O executivo explica que o mercado imobili�rio americano s� perde para o da China, mas que vem sofrendo com a falta de investimento nos �ltimos anos, o que causou um descompasso entre oferta e demanda.
A AHS atua nos segmentos de baixa e m�dia rendas. Um dos motivos � o comportamento da renda dos americanos. A classe m�dia, explica Lopes, vem empobrecendo, e cada vez se assemelha mais ao perfil latino-americano. De 2011 a 2017, diz o executivo, houve um aumento grande da classe oper�ria, que gasta de 40% a 60% da renda para pagar aluguel, o que ele avalia como algo “insustent�vel”.
“Pagam muito, n�o h� oferta de im�veis e faltam recursos para morarem bem. Hoje, acabam vivendo em apartamentos ruins, de 40, 60 anos, e o desembolso � elevado. S�o professores, enfermeiros, policiais, secret�rias, recepcionistas e vendedores de loja”, explica Lopes.
MULTIFAMILIAR
Al�m de contar com a demanda reprimida, o executivo da AHS acredita que o modelo de neg�cio multifamiliar dever� ter cada vez mais usu�rios. Isso deve ocorrer gra�as � mudan�a comportamental dos jovens, que cada vez menos se preocupam em adquirir um im�vel.
Para Lopes, esse perfil de cliente valoriza a possibilidade de se mudar sempre que necess�rio e n�o pensa em assumir o pagamento de uma hipoteca por d�cadas. “Ele quer viver a vida hoje, est� se casando mais tarde, muitos nem compram mais um carro e a aquisi��o de uma casa � algo que acaba ficando para depois.”
Lopes garante que a companhia ter� condi��es de capturar novos clientes e crescer rapidamente no mercado americano. Hoje, segundo o executivo, seus concorrentes cobram, em m�dia, um aluguel de cerca de US$ 2,3 mil, enquanto a AHS pratica um valor m�dio de US$ 1,5 mil. “Estaremos sempre � frente de quem tentar nos copiar.”