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Estado de Minas ECONOMIA

Jos� Isaac Peres: 'Amazon � gigante de papel, que lucra menos de 1% do que vale'


postado em 06/10/2019 14:00

A transforma��o digital colocou o ato da compra na palma da m�o do consumidor: com um celular, a compra � feita de um lado para o outro do planeta. Para Jos� Isaac Peres, fundador e presidente de um dos maiores grupos de shopping centers do Pa�s, o Multiplan, por�m, mesmo com todo o avan�o tecnol�gico, o shopping n�o vai acabar. "Faltam nos aplicativos a energia que existe nas lojas f�sicas", afirma. Segundo ele, compra � impulso e emo��o, algo que depende do contato entre as pessoas.

H� 45 anos no comando do grupo que re�ne 19 shoppings espalhados pelo Pa�s, cujas vendas somaram R$ 15,5 bilh�es no ano passado, Peres compara os shoppings �s velhas pra�as e boulevards, nos quais as pessoas iam para ver e serem vistas. O contato humano, diz, � o grande diferencial do varejo. E o maior espet�culo dos shoppings s�o as pessoas, n�o as lojas.

Mesmo assim, o grupo est� investindo numa plataforma digital que re�ne um aplicativo de compras e um servi�o de entregas em domic�lio das vendas online para os shoppings da rede. Nesse projeto, ainda em fase de teste no maior empreendimento do grupo, o BarraShopping, no Rio, j� foram investidos mais de R$ 100 milh�es. Os resultados, por�m, ainda s�o t�midos, e concentrados em alimenta��o.

A justificativa do empres�rio para bancar a aposta digital � facilitar a vida do consumidor, que ter� mais informa��es sobre os produtos e mais op��es de compra. Para os lojistas, diz ele, a plataforma digital pode ampliar as vendas.

Peres afirma n�o perder o sono por causa do avan�o digital e que, pessoalmente, n�o � dependente de tecnologia. "Acabei de comprar um telefone Motorola que s� fala, porque tenho saudade do tempo que eu podia falar", diz.

Quanto � investida da Amazon, a gigante online que anunciou recentemente frete gr�tis para os assinantes do servi�o Prime, o empres�rio � taxativo. "A Amazon � um gigante de papel. � uma empresa que vale US$ 1 trilh�o e tem um lucro inferior a 1% do capital. Isso vai at� quando?" A seguir, os principais trechos da entrevista:

Como o sr. v� a transforma��o digital no varejo?

N�o vivemos no mundo digital, mas no mundo real. O mundo real � o mundo das pessoas, das coisas. Quando a tecnologia come�ou avan�ar, havia uma quest�o pol�mica: ela acabaria com o com�rcio tradicional? Come�amos a investir em tecnologia por outras raz�es. Na minha vis�o, as pessoas v�o ao shopping porque precisam de contato. Os shoppings, na verdade, substituem os antigos boulevards e pra�as. A inseguran�a tamb�m foi outro fator. As fam�lias procuram mais seguran�a no shopping.

Por que, ent�o, o grupo come�ou a investir em tecnologia nos shoppings?

O mundo digital � um facilitador de decis�es. Leva a informa��o e te permite tomar uma decis�o. Pode ser uma alavanca para os lojistas venderem mais. Nesse sentido, h� cinco anos estamos trabalhando em uma plataforma digital para dar ao lojista um novo canal de distribui��o. Essa plataforma digital vai dar ao consumidor o poder de escolha. Ou seja: se o cliente quer uma bolsa preta, essa plataforma vai te dar as bolsas que t�m nas lojas dos nossos shoppings e os pre�os. Isso facilita a escolha e economiza tempo.

Mas n�o existe um certo conflito?

Sim, porque a compra � uma fonte de prazer. As pessoas gostam de ver o produto que compram, de experimentar. A compra no mundo digital � muito sem emo��o. O com�rcio sempre foi uma grande fonte de emo��o. Tanto � que as pessoas viajam para os principais centros, como Nova York, Paris, Londres, e v�o �s compras. Se as pessoas que viajam n�o pudessem comprar nada, metade n�o viajaria. � da natureza do ser humano e n�o fui eu quem disse isso, foi Arist�teles, tr�s mil anos atr�s: o homem � essencialmente um animal greg�rio. Mas as pessoas t�m a ilus�o de que, com o celular, elas t�m 150 amigos e a sensa��o de que n�o est�o sozinhas. Mas elas est�o em casa sozinhas.

Como o varejo se insere no cen�rio?

As quest�es de contato humano predominam no nosso neg�cio. O shopping � um grande ponto de encontro, � o lugar de a gente ver e ser visto.

A digitaliza��o do varejo acaba com o shopping?

N�o, porque voc� n�o vai acabar com o homem. O maior espet�culo do shopping s�o as pessoas, n�o as lojas. O shopping pode ser fant�stico, mas sem pessoas, perde-se o interesse em comprar.

Diante desse novo cen�rio, como o Grupo Multiplan opera os shoppings?

Nossa estrat�gia � dar prazer �s pessoas. Se voc� me perguntar se o meu neg�cio � imobili�rio ou � varejo, honestamente hoje n�o olho s� para isso. O principal � que as pessoas venham ao shopping pelo prazer de estar aqui. Sempre coloquei nos meus shoppings divers�o para crian�a, pista de patina��o no gelo, cinema, centros m�dicos, etc. Nos nossos shoppings, sempre o varejo respondeu por 45% das opera��es e o entretenimento por 55%. Quase 50 anos atr�s, quando comecei no setor, os americanos colocavam o cinema fora do shopping porque diziam que quem vai ao cinema n�o vai ao shopping. Era tudo muito m�quina registradora. Agora, temos not�cias de que os Estados Unidos est�o copiando a gente. Eles inverteram as posi��es das participa��es de entretenimento e varejo.

A digitaliza��o provocou a mudan�a?

N�o, isso j� era uma tend�ncia, independentemente da digitaliza��o.

Como est� a digitaliza��o dos shoppings do grupo?

Lan�amos em agosto um aplicativo com o objetivo de prestar servi�o aos nossos clientes, facilitar a vida deles. Eles podem fazer compras nas lojas e receber em casa e consultar outras funcionalidades tamb�m. O varejista, por sua vez, aluga uma loja e n�s entregamos para ele uma outra loja virtual por meio do nosso aplicativo, que ser� gratuito. Tamb�m compramos uma participa��o numa empresa de entregas, a Delivery Center. A entrega ser� feita em at� uma hora. Por enquanto, o aplicativo e as entregas est�o em fase de teste no BarraShopping (RJ), que � o nosso maior shopping. Operando bem l�, n�s vamos replicar rapidamente esse modelo para todos os shoppings. Agora vou falar com toda a franqueza: estamos testando isso, mas as pessoas preferem ir ao shopping, porque o shopping � um programa, � um prazer.

Quanto foi investido no projeto digital?

Muitos milh�es, mais de R$ 100 milh�es nesse neg�cio. E continuamos investindo. A cada ano, isso nos custa de R$ 30 milh�es a R$ 40 milh�es.

A venda digital atrapalha o faturamento do shopping?

H� lojistas que tentam burlar o contrato que t�m com o shopping transformando as lojas em ponto de entrega de mercadorias. Ele vende no digital e n�o quer registrar como uma venda feita no shopping. Algumas lojas usam o shopping como vitrine, fazem a venda fora e n�o pagam o porcentual sobre vendas. Isso � uma fraude, e evidentemente o lojista pode perder a loja se isso ficar provado.

Como v� o avan�o da Amazon?

A Amazon vai avan�ando porque a capitaliza��o dela parece que � infinita. � uma empresa que vale US$ 1 trilh�o e tem um lucro inferior a 1% do capital. Isso vai at� quando?

O sr. acha que ela n�o se sustenta?

Algumas empresas (de tecnologia) sim, como Google e Apple, por exemplo, que s�o altamente lucrativas. Mas, no caso da Amazon, a rela��o custo/benef�cio do investidor hoje � menos de 1%. � um gigante de papel. Um dia as pessoas v�o perceber que est�o investindo na Amazon, mas lucro ela n�o d�. Um dia o investidor vai cair na real e perceber que est� investindo numa empresa que, quando der lucro, ele pode ter morrido.

O sr. perde o sono por causa do avan�o da tecnologia?

N�o. Acho que a tecnologia � uma droga. A abstin�ncia do celular hoje cria ansiedade, inseguran�a, tal qual uma droga faz. Mas essa droga chamada tecnologia ou celular, que � muito boa para determinadas finalidades, cria depend�ncia.

O sr. se v� dependente da tecnologia digital?

Eu acabei de comprar um telefone Motorola que s� fala, porque tenho saudade do tempo que eu podia falar. Voc� pode imaginar quantas mensagens de texto que eu recebo por dia, � uma barbaridade.

O sr. defende modos antigos, quando a tecnologia n�o predominava?

N�o, defendo a tecnologia tremendamente. Quando come�ou a revolu��o tecnol�gica na medicina, sabia que ela daria um salto milenar. Hoje temos experimentos que indicam que j� nasceu a crian�a que vai viver 180 anos. Parece surreal. Dentro de cinco anos, as m�quinas 3D far�o �rg�os com material gen�tico. Esse � o mundo que se prop�e a dar mais tempo de vida com qualidade para as pessoas. Por�m os humanos n�o v�o deixar de ser humanos. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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