(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas ECONOMIA

O sobe e desce da Argentina sob o governo Macri


postado em 13/10/2019 08:18

Mara Menezes, uma argentina que vende flores na esta��o de trem do Retiro, a principal de Buenos Aires, estava feliz com o governo de Mauricio Macri em 2017. Em setembro daquele ano, disse ao 'Estado' que as vendas haviam dobrado em rela��o a 2015, �ltimo ano de Cristina Kirchner na presid�ncia.

Dois anos depois, Mara continua no mesmo lugar. Mas suas vendas ca�ram � metade. Para compensar, seu marido come�ou a vender, h� seis meses, sandu�ches ao lado do quiosque de flores. S� assim o casal conseguiu manter a renda.

A situa��o financeira de Mara acompanhou os movimentos econ�micos do pa�s. Nos �ltimos quatro anos, a Argentina pareceu um carrinho de montanha-russa, que subiu lentamente - enquanto Macri tentava colocar ordem na casa -, mas despencou de forma r�pida com o naufr�gio de seu programa econ�mico. Um sobe e desce que ajuda a explicar o resultado das elei��es prim�rias, em agosto, nas quais o oposicionista Alberto Fern�ndez derrotou Macri.

O ano de 2017, quando Mara comemorava as vendas em alta, foi um per�odo da presid�ncia de Macri em que a economia parecia engrenar. O PIB avan�ou 2,7% e a infla��o ficou em 24,8%. O desempenho econ�mico, que parecia um sucesso, era impulsionado pelo setor agr�cola e por obras p�blicas. Mas esse per�odo ficou para tr�s.

Segundo Mara, o aumento das contas de luz e �gua faz com que, hoje, n�o sobre dinheiro para os argentinos gastarem com sup�rfluos, como flores. Em uma tentativa de reduzir o d�ficit fiscal do pa�s, Macri retirou, gradualmente, subs�dios em servi�os como transporte e energia que haviam sido implementados pelo kirchnerismo.

O resultado da redu��o dos subs�dios para Mara foi um aumento de 900% na conta de g�s, que passou de 40 pesos em 2015 para 120 pesos em 2017 e, agora, chegou a 400 pesos. "Isso porque n�o temos aquecedor", diz.

Mara trabalha perto de Luiz Gal�n, que tem uma banca de jornais e com quem a reportagem tamb�m se encontrou em 2017. Diferentemente de Mara, h� dois anos, Gal�n j� se mostrava insatisfeito com Macri, sobretudo por causa dos aumentos no g�s. Gal�n tamb�m responsabilizava o presidente pela queda na venda de jornais.

Em setembro, Gal�n voltou a dizer que, na �poca de Cristina Kirchner, vendia 170 exemplares por dia. Afirmou, por�m, que, no lugar dos 120 que sa�am em 2017, agora s�o 60 jornais. Morador da Boca, bairro oper�rio onde fica o est�dio do Boca Juniors, Gal�n contou que votou apenas uma vez em Macri: em 2007, quando o pol�tico era candidato ao governo da cidade de Buenos Aires.

O vendedor � torcedor do Boca e aprovara o trabalho de Macri como presidente do time. "No clube, ele n�o se saiu mal. Administrava bem as finan�as. O est�dio sempre estava limpo. Mas a� ele come�ou a falhar como prefeito (de Buenos Aires) e mais ainda como presidente."

Erros

As falhas de Macri no comando do pa�s ficaram evidentes em 2018, quando seu plano econ�mico foi por �gua abaixo. Sem a maioria no Congresso e temendo os movimentos sociais, Macri optara por um ajuste fiscal gradual, retirando subs�dios aos poucos e sem cortar investimentos p�blicos. Como a conta n�o fechava, o pa�s emitia d�vida para se financiar.

Tudo ia bem at� que, em 2018, com o aumento dos juros nos EUA, investidores internacionais come�aram a fugir de pa�ses emergentes, pois o retorno passou a ser mais alto no mercado americano, al�m de muito mais seguro. A Argentina recorreu ao Fundo Monet�rio Internacional (FMI) e acelerou o ajuste fiscal.

Nos �ltimos meses, preocupado com o impacto da deteriora��o econ�mica na corrida eleitoral - Macri tentar� a reelei��o dia 27 -, o presidente retomou medidas que antes criticara. Em abril, adotou um programa para controlar pre�os de produtos da cesta b�sica e congelou tarifas de g�s e transporte.

Nada disso foi suficiente para reverter o humor do eleitorado, que, nas prim�rias, deu uma vit�ria pr�via a Fern�ndez, que tem Cristina Kirchner como candidata a vice. Os 15 pontos de diferen�a que separaram Macri de Fern�ndez s�o vistos como quase imposs�veis de ser revertidos.

O resultado das prim�rias deixou em p�nico o mercado, que teme a ado��o de pol�ticas intervencionistas com o retorno do kirchnerismo. Nos �ltimos meses, investidores fugiram da Argentina, e o FMI segurou uma parcela do empr�stimo.

Produtor de soja, milho e trigo, Santos Zuberb�hler est� preocupado com a libera��o do empr�stimo: "Se o FMI corta (a linha de financiamento), o ingresso de d�lares no pa�s vai ficar complicado. N�o sei como a Argentina vai se financiar."

A reportagem do Estado havia conversado com Zuberb�hler pela primeira vez em 2017. Ele estava em lua de mel com a gest�o macrista. O agroneg�cio havia tido uma rela��o de enfrentamento com Cristina Kirchner desde 2008, quando a ent�o presidente come�ou a taxar exporta��es de gr�os. Em 2017, produtores agropecu�rios e governo se reconciliavam. � �poca, Zuberb�hler contou que havia contratado mais oito funcion�rios e estava aumentando os investimentos em trigo, cujos custos s�o mais elevados, porque, sem os impostos sobre exporta��o, voltaria a vender o gr�o a pre�os internacionais.

Em setembro deste ano, por�m, Zuberb�hler foi mais um a afirmar ter se decepcionado com Macri: "O governo teve boas inten��es, mas faltou experi�ncia na equipe econ�mica."

Ao contr�rio de 2018, quando uma seca dizimou a produ��o agr�cola da Argentina, as planta��es v�o bem em 2019 e a cota��o do d�lar beneficia os exportadores. "N�o posso me queixar, mas n�o h� economia que funcione se s� um ou dois v�o bem", disse Zuberb�hler.

Nas ruas de Buenos Aires, � vis�vel que a popula��o sofre. Como no Brasil, aumentou a presen�a de ambulantes. No primeiro semestre do ano, 35,4% dos argentinos viviam abaixo da linha da pobreza, 8,1 pontos porcentuais a mais que no mesmo per�odo de 2018.

C�mbio

Uma das faces mais vis�veis da crise aparece na cota��o da moeda. Quando Macri chegou � Casa Rosada, em dezembro de 2015, um d�lar comprava 9,7 pesos argentinos, ou R$ 3,80. Quase quatro anos depois, um d�lar hoje compra 58 pesos, ou R$ 4,09, o que significa que, enquanto o d�lar se valorizou 7,6% no Brasil, na Argentina, a alta chegou a 498%.

O c�mbio n�o � o �nico indicador que teve desempenho sofr�vel no governo Macri. Infla��o e atividade econ�mica tamb�m decepcionaram. Em 2016, por exemplo, era poss�vel comprar uma empanada em Palermo, bairro de classe alta de Buenos Aires, com 18 pesos. Agora, em 2019, s�o necess�rios 60 pesos, um aumento de 233%. Pode parecer muito, mas a alta est� alinhada com a infla��o de 236%. Para efeitos de compara��o, o Brasil acumulou uma infla��o de 16,4% no per�odo.

A infla��o da empanada n�o � nada comparada com a de servi�os b�sicos. Com 3 pesos, o equivalente ent�o a R$ 0,92, se pagava, no in�cio de 2016, uma passagem de �nibus em Buenos Aires. Com a redu��o dos subs�dios, a passagem agora sai por 18 pesos, alta de 500%.

Para o economista-chefe do Goldman Sachs para a Am�rica Latina, Alberto Ramos, a situa��o argentina � "ruim e vai ficar ainda pior". Segundo ele, o poss�vel retorno do kirchnerismo vai interromper o processo de consolida��o fiscal e, ainda que Macri consiga permanecer no poder, o quadro ser� complexo, dada a infla��o acelerada e o endividamento. "Antes das prim�rias, a vis�o era que, se Macri fosse reeleito, teria de enfrentar o ajuste fiscal e ainda precisaria de sorte, porque a economia estava t�o fr�gil que n�o comportaria choques. Essa j� n�o � mais a realidade, a situa��o agora � ainda mais dif�cil." As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)