(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas ECONOMIA

Isolamento el�trico custa R$ 6,3 bilh�es aos consumidores


postado em 27/10/2019 15:00

Os reflexos do isolamento el�trico da cidade de Boa Vista (RR), �nica capital do Pa�s que ainda n�o est� plugada na malha do sistema interligado nacional de energia (SIN), ficaram mais n�tidos em mar�o deste ano, quando Roraima deixou de importar energia da Venezuela e passou a depender, exclusivamente, da gera��o de usinas t�rmicas brasileiras, praticamente todas elas movidas a combust�vel. Boa Vista, no entanto, est� longe de ser a �nica localidade do Pa�s que sofre com as limita��es do setor.

Os dados do Operador Nacional do Sistema El�trico (ONS), �rg�o que gerencia o abastecimento di�rio do Pa�s e planeja sua demanda para os anos seguintes, apontam que, atualmente, ainda existem 235 localidades no Brasil que n�o possuem liga��o com o SIN. S�o os chamados "sistemas isolados", que dependem diariamente da energia produzida por usinas locais para ter luz. Em 99% dos casos, tratam-se de quilowatts gerados pela queima de �leo diesel.

O levantamento oficial mostra que, quando considerada a malha interligada de energia, a qual j� chega a 141.388 quil�metros de extens�o, os isolados s�o apenas 0,6% das localidades do Pa�s. O custo para 2020 desses 235 locais, por�m, nas contas do ONS, chegar� a R$ 6,31 bilh�es, um valor que � pago por todos os consumidores de energia do Pa�s, por meio de subs�dio inclu�do mensalmente na conta de luz.

Os isolados

S�o oito os Estados que possuem locais isolados do sistema el�trico nacional. Amazonas � o que possui o maior n�mero desses pontos, com 95 regi�es. Roraima est� em segundo lugar, com 82 localidades fora da rede interligada.

"Naturalmente, h� regi�es que precisam imediatamente ser conectadas, como � o caso de Boa Vista, que consome boa parte da energia dos sistemas isolados. H� outros locais, por�m, que efetivamente n�o precisam dessa conex�o, e sim de uma solu��o mais adequada de abastecimento, para que o pre�o da energia dessa regi�o caia", diz Claudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil, especializado no setor el�trico.

Os n�meros falam por si. Enquanto o custo de energia nas �reas interligadas tem ficado em R$ 176 o megawatt (MWh), o pre�o dessa mesma energia para o sistema isolado � de R$ 1.287 o MWh, por causa do alto custo do diesel, que tamb�m � o suprimento mais poluente da matriz el�trica. "Isso mostra o quanto essa situa��o precisar mudar, com o avan�o de novas liga��es e outras fontes de gera��o", diz Sales.

Em maio deste ano, dois meses depois de romper com o abastecimento prec�rio gerado por hidrel�tricas da Venezuela, o governo brasileiro conseguiu fazer um leil�o para Roraima com gera��o a g�s, pelo custo de R$ 833 o MWh. Essa energia, que sair� de uma t�rmica do Amazonas, no entanto, s� passa a chegar em 2021. "� uma queda importante de pre�o se comparada ao custo anterior, mas ainda � alto quando se v� o pre�o pago pelo resto do Pa�s", afirma o presidente do Acende Brasil.

O ONS reconhece que, neste ano, a interrup��o da importa��o de energia da Venezuela, ainda que fosse prec�ria e com apag�es di�rios, tem "um alto impacto na opera��o no ano de 2019 e na previs�o de atendimento energ�tico do sistema de Boa Vista para o ano de 2020". Segundo o �rg�o, essa situa��o ter� "um impacto significativo no consumo de �leo diesel" previsto para o ano que vem.

Plugadas

Bernardo Folly de Aguiar, superintendente de projetos de gera��o da Empresa de Pesquisa Energ�tica (EPE), �rg�o respons�vel pelo planejamento do setor el�trico, afirmou que, at� 2023, h� previs�o de que ao menos 47 localidades isoladas sejam finalmente plugadas na rede nacional. Outras tantas, por�m, n�o t�m previs�o para que isso ocorra: "� uma equa��o econ�mica que precisa ser feita. Em muitos lugares, n�o � vi�vel levar a rede de transmiss�o, mas sim investir em diferentes fontes de energia para garantir o abastecimento."

Se somada a energia consumida pelas 235 localidades isoladas, chega-se a um total de 468 MW m�dios, diz Claudio Sales. "Para se ter uma ideia do que isso significa, a cidade de Santos, no litoral de S�o Paulo, por exemplo, consome sozinha 700 MW m�dios. Por isso, � preciso analisar o que vale a pena, em cada caso."

Nas contas do ONS, em 2020 est� previsto um aumento de 7,8% no consumo de g�s natural e de 0,2% de �leo diesel pelos sistemas isolados. A redu��o no custo dessa energia est� na diminui��o da depend�ncia de combust�veis f�sseis e no investimento de outras fontes complementares, como a energia solar.

De 5 e 20 horas sem luz em RR

Nas vilas ribeirinhas do Rio Jatapuzinho, no munic�pio de Caroebe, em Roraima, a energia el�trica � um luxo que dura cerca de seis horas por dia. Nos arredores da Vila de Sama�ma, na cidade de Mucaja� (RR), o privil�gio de ligar a luz s� est� dispon�vel por dez horas. Depois disso, o que resta � o breu.

A realidade desses munic�pios exp�e a precariedade dos servi�os de energia na regi�o e o quanto estes ainda precisam avan�ar pelo interior de Roraima. Das 82 localidades do Estado isoladas do sistema el�trico nacional, conforme levantamento do in�cio deste ano, 68 n�o t�m acesso � energia durante 24 horas por dia. O abastecimento nesses locais oscila entre 5 horas e 20 horas, no m�ximo, segundo o Operador Nacional do Sistema El�trico (ONS).

O ONS garante que, em 2020, o atendimento 24 horas, todos os dias, ser� uma realidade para todos os locais isolados do Pa�s, com exce��o de Roraima, que ainda vai ficar na fila por uma solu��o definitiva. "Essa situa��o envolve, normalmente, comunidades ind�genas e ribeirinhas. � uma realidade din�mica, que vai mudando conforme o adensamento local", comenta Gustavo Pires da Ponte, consultor t�cnico da Empresa de Pesquisa Energ�tica (EPE).

A distribuidora Roraima Energia, respons�vel pelo abastecimento no Estado, diz que vai fazer sua parte. Rodrigo Moreira, diretor t�cnico e comercial da concession�ria, afirma que, nos pr�ximos dois anos, todas as localidades isoladas de Roraima ter�o suprimento 24 horas por dia, seja por meio de interliga��o com o sistema nacional, seja pela instala��o de novas fontes de gera��o h�brida, o que incluir� o uso de pain�is solares e baterias, entre outras fontes de energia.

"Hoje, n�o s�o mais 82 localidades isoladas, mas 74 localidades. Estamos trabalhando para reduzir essa situa��o. Eu acredito que, j� em 2020, devemos atender a mais 40 localidades. As demais ser�o atendidas at� 2021", comentou Moreira.

A prioridade do governo federal, no momento, � garantir a liga��o de Boa Vista com o sistema interligado nacional. Em 2012, a constru��o da linha de 750 quil�metros de extens�o, at� Manaus (AM) foi leiloada, com a previs�o de que a obra estivesse pronta em 2015. Sete anos depois, por�m, nada foi executado, por causa de um emaranhado de obst�culos socioambientais e defici�ncias nos estudos de licenciamento apresentados pela concession�ria que venceu o leil�o. At� o momento, o governo n�o tem uma solu��o para o imbr�glio. A linha segue sem data para ficar pronta.

Luz de vela e alimento estragado

O sistema que n�o garante energia el�trica nas 24 horas do dia afeta o dia a dia tanto das pessoas que vivem na capital de Roraima, Boa Vista, como as das cidade do interior.

Caracara�, que tem a sede do munic�pio a cerca de 140 quil�metros da capital, tem acesso a energia el�trica por cerca de 18 horas por dia. Mas, em algumas localidades da regi�o, � at� por menos tempo.

A prefeita de Caracara�, Socorro Guerra (Pros), afirma que at� a pr�pria gest�o precisa se virar para manter ofertas simples de servi�o, como a entrega da merenda escolar e vacina��o. "Toda regi�o do Baixo Rio Branco n�o tem energia 24 horas (consecutivas). Em alguns lugares, s�o at� 12 horas por dia. O grande problema � que as comunidades ficam sem acesso � internet, sem climatiza��o nas casas e escolas, com a perda de produtos alimentares que precisam de congelamento", explica.

Na regi�o da Vila Xixua�, no munic�pio de Rorain�polis, regi�o sul do Estado e distante cerca de 300 quil�metros da capital, a oferta de energia � de apenas 12 horas por dia.

A servidora p�blica Claudete Cordeiro, de 35 anos, mora em Rorain�polis h� cerca de quatro anos e, desde ent�o, teve de mudar alguns dos seus h�bitos, como separar parte do rendimento para aquisi��o de velas, f�sforos, lanternas e pilhas. "Atualmente, temos constantes quedas de energia e isso nos prejudica bastante. Desde eletrodom�sticos que queimam at� nossos produtos alimentares, que estragam. Tudo isso acarreta preju�zos que muitas vezes n�o temos como sermos ressarcidos, infelizmente. A �nica coisa que podemos fazer � aguardar e tentar iluminar a casa com velas e lanternas." As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)