
S�o Paulo – Em maio de 2012, a marca Ypi�ca foi vendida para a Diageo por cerca de R$ 900 milh�es (valor daquela �poca). Apesar de ser um neg�cio centen�rio e familiar, os tempos da produ��o de aguardente n�o trazem nostalgia a Paulo Telles, CEO do grupo e quinta gera��o da fam�lia Telles. Em entrevista aos Di�rios Associados, o herdeiro e executivo citou o nome da cacha�a que fez a fama e a fortuna da empresa depois de 43 minutos de conversa. Seus planos � frente do neg�cio s�o outros, n�o passam pela volta � produ��o de aguardente ou outra bebida alco�lica.
Com o dinheiro obtido com a venda da opera��o de cacha�a, a decis�o foi investir na expans�o neg�cios do grupo. Hoje, a holding � composta por seis empresas: Agropaulo (agroneg�cio), Santaelisa (papel�o reciclado), Ypetro (distribui��o de combust�veis), Natur�gua (engarrafamento e distribui��o de �gua), Yplastic (produ��o de garrafas PET) e iPark Complexo Tur�stico (parque de lazer).
A aposta nessas �reas d� sinais de que foi acertada. No ano passado, o faturamento da holding chegou a R$ 328,9 milh�es e a previs�o para este ano � que alcance os R$ 360 milh�es. Para 2020 a proje��o � de acelera��o. Se a estimativa para o ano que vem se confirmar, o Grupo Telles alcan�ar� uma receita de R$ 440 milh�es e atingir� depois de oito anos o mesmo volume em caixa que tinha com a Ypi�ca. Ou seja, depois de embolsar R$ 900 milh�es e de desfazer do principal neg�cio, a holding voltar� ao mesmo patamar de faturamento.
Parte do desempenho vem da inje��o de recursos feita nos �ltimos anos. Foram R$ 200 milh�es que sa�ram do pr�prio caixa do grupo para tornar a produ��o maior e mais eficiente nas diferentes �reas de atua��o. S� a divis�o de �gua mineral contou com uma amplia��o, uma nova unidade aberta recentemente e uma planta que ser� inaugurada em 2020. Dessa divis�o de neg�cios, poder�o surgir outros produtos, como sucos, energ�ticos e �guas com sabor.
Outra �rea de destaque no escopo do grupo � a do agroneg�cio, que vem avan�ando em neg�cios que v�o muito al�m do etanol. A empresa AgroPaulo tem investido em pesquisas na �rea de solu��es org�nicas e defensivos biol�gicos para serem usados no plantio. Hoje, est�o no portf�lio, a partir do desenvolvimento interno de pesquisas, fertilizantes, defensivos e �leos essenciais com certifica��o para uso no cultivo de org�nicos.
Sob a gest�o de Paulo Telles e na contram�o da autoriza��o acelerada de novos agrot�xicos pelo Minist�rio da Agricultura – 382 entre janeiro e outubro de 2019 –, a companhia acredita que os alimentos mais saud�veis, mesmo ainda atendendo a um nicho, v�o despertar um interesse cada vez maior. O executivo, que prefere �gua e sucos e apenas eventualmente toma um vinho ou uma caipirinha, garante que desde j� essa alternativa vem chamando a aten��o de grande produtores rurais. Leia trechos da entrevista concedida pelo presidente do Grupo Telles.
Como o grupo tem conseguido aumentar suas vendas mesmo com a baixa atividade econ�mica do pa�s?
Neste ano, deveremos crescer entre 8% e 10% as vendas. Isso tem a ver com algumas estrat�gias. J� tem algum tempo que temos investido nas empresas do grupo para o aumento de produtividade, em novas tecnologia, em processos para redu��o de custos e na expans�o. Enquanto o Brasil estava parado, optamos por uma vis�o de longo prazo. Claro que as dificuldades acontecem, por isso mantemos a aten��o, mas temos um plano tra�ado. N�o ficamos ref�ns da situa��o do pa�s, seguimos com o plano de expans�o. Nos �ltimos quatro anos, foram cerca de R$ 200 milh�es de investimentos. Hoje posso dizer que j� estamos com a casa arrumada.
Que tipo de vantagem essa prepara��o da empresa pode dar?
� medida que a economia melhorar, enquanto as outras empresas v�o arrumar a casa, j� estamos com a casa arrumada. Tamb�m nos ajudou a diversifica��o dos neg�cios e a verticaliza��o. Enquanto uma �rea est� parada, a outra funciona melhor. �gua mineral, por exemplo, a despeito da situa��o econ�mica, � preciso consumir. Com processos verticalizados, temos um custo um pouco mais otimizado. S�o neg�cios diversificados, mas interligados. Procuramos ter atividades que se relacionem. Al�m disso, procuramos gerar receita com a venda para terceiros. � o que acontece no caso do plantio de soja, de milho e na engorda de gado. O que plantamos e n�o consumimos � comercializado como excedente. Plantamos, colhemos, armazenamos e transformamos a produ��o em prote�na animal ao alimentar o gado, que tem maior valor agregado.
"Nossa cren�a � que o papel do grupo � desenvolver produtos e servi�os que melhorem a vida das pessoas”
O grupo pretende continuar a diversificar?
Agora, estamos impulsionando mais alguns neg�cios, como �gua mineral, etanol e o agroneg�cio de uma forma geral. Desenvolvemos com pesquisa pr�pria um defensivo agr�cola natural. Come�amos a investir h� oito anos na melhor forma de obter esse produto a partir da extra��o de �leo essencial. Hoje, n�o s� comercializamos o defensivo como estamos investindo no plantio de esp�cies como citronela, capim santo e alecrim nativo, de forma org�nica, para obter o �leo essencial tamb�m para a comercializa��o no varejo, em embalagens menores, a partir deste m�s. Mas ind�stria do setor de perfumaria e cosm�ticos tamb�m ser�o clientes no atacado. Atualmente temos uma �rea plantada e irrigada de 20 hec tares. Estamos ampliando para mais 40 hectares.
Como surgiu essa divis�o de neg�cio?
Na �poca da rota��o de cultura nos intervalos da cana-de-a��car, plant�vamos milho, soja e sorgo, mas busc�vamos alternativas. Assim chegamos no �leo, no defensivo e no fertilizante, que s�o certificados pelo IBD.
Que atratividade viu na produ��o voltada � cultura de org�nicos?
Atualmente, nosso foco � a venda para atender a produ��o convencional. Mas vejo que a produ��o de forma mais natural, mas consciente, com menos qu�mica est� aumentando. Hoje, por exemplo, vendemos esses produtos para agricultores de Petrolina (PE), que preferem essa alternativa para exportarem as frutas sem res�duos qu�micos. Estamos apostando na produ��o mais saud�vel e mais consciente.
� uma tend�ncia produzir bem e com qualidade. � preciso uma mudan�a cultural, essas empresas sabem que t�m de olhar para o mercado e para a popula��o"

Mas isso acontece justamente quando o Brasil tem apostado na libera��o de mais agrot�xicos.
Grandes empresas est�o despertando para o uso de agrot�xicos, querendo produzir cada vez mais, mas de forma correta. � uma tend�ncia produzir bem e com qualidade. � preciso uma mudan�a cultural, essas empresas sabem que t�m de olhar para o mercado e para a popula��o. Hoje, j� � poss�vel conseguir custos menores e maiores volumes por esse m�todo.
A viv�ncia no setor de bebidas ajudou nos outros neg�cios do grupo?
Ajudou e ainda ajuda. A bebida e o grupo se confundem numa hist�ria centen�ria. E hoje o que somos? Um grupo com a cultura de produ��o, comercializa��o e distribui��o. Com a Ypi�ca procuramos ter a inova��o com uma das nossas caracter�sticas. �s vezes n�o � poss�vel inovar, mas nos esfor�amos para nos diferenciar.
Voc� s� falou sobre Ypi�ca agora. Falar de cacha�a ainda d� prazer ou aborrece? Depois da cacha�a, poderia vir uma outra experi�ncia, por exemplo, com cerveja artesanal ou bebidas funcionais?
� um orgulho falar sobre a Ypi�ca. Durante cinco anos, nos esfor�amos para n�o mencionar o nome Ypi�ca porque est�vamos muito condicionados depois de tanto tempo. Vimos que era hora de olhar para frente, mas isso sem esquecer do orgulho que temos da marca. Um tempo atr�s, chegamos a avaliar a possibilidade de investir em outras bebidas, como cerveja, vinho, mas percebemos que o grupo saiu da �rea de bebida alco�lica numa situa��o muito positiva e voltar significaria come�ar do zero. Nosso perfil mudou. Atualmente, procuramos desenvolver produtos que agreguem qualidade de vida para as pessoas. Queremos trabalhar numa linha mais respons�vel.
Isso tem a ver com a cren�a dos acionistas ou com a mudan�a do perfil do consumidor?
Tem a ver com a cren�a dos s�cios de que o papel � desenvolver produtos e servi�os que melhorem a vida das pessoas.
"Durante cinco anos, nos esfor�amos para n�o mencionar o nome Ypi�ca porque est�vamos muito condicionados depois de tanto tempo. Vimos que era hora de olhar para frente”
A revis�o para baixo dos n�meros da economia assuntou?
Para mim n�o assustou, era a expectativa que eu tinha. Mas sei que para o grande p�blico houve uma frustra��o. Nem sempre a velocidade com que as coisas acontecem est� alinhada com o que se coloca no papel. Conseguimos at� agora uma invers�o da curva, apesar do crescimento ser pequeno. Mas j� � um avan�o. Nesse cen�rio, a Reforma Tribut�ria � fundamental. N�s trabalhando em v�rias regi�es e sofremos muito com as diferentes leis, com a tributa��o estadual e a municipal. Praticamente � preciso ter um contador em cada estado e isso gera dificuldades na arrecada��o. Quando a Reforma Tribut�ria for feita, vai trazer bastante beneficio para a economia. Mas, de uma forma geral, essa e outras reformas, com o a trabalhista e a da Previd�ncia, apesar de serem fundamentais, h� outros setores que deveriam ser prioridade para o governo, como educa��o, sa�de e infraestrutura. Enquanto n�o forem prioridade, a produtividade do Brasil continuar� aqu�m dos pa�ses desenvolvidos e emergentes.