Um dos principais executivos do mercado financeiro nacional, Bernardo Parnes est� � frente da Investment One Partners, gestora de recursos de terceiros e de fortunas, com cerca de R$ 3 bilh�es. Ele se diz "velho e rodado" para n�o desejar que a retomada da economia seja lenta e gradual. "Acho que a melhor coisa � um tijolinho ap�s o outro", diz o executivo, que tamb�m foi presidente para Am�rica Latina do Deutsche Bank e liderou o Merrill Lynch no Pa�s.
Segundo Parnes, � preciso ter cuidado com o intenso movimento de fintechs. "Agora se fala muito das fintechs. Quando se analisa com mais calma, a gente v� que as empresas n�o existem, s� business plan (planos de neg�cio)."
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.
Como o sr. avalia esse primeiro ano do governo Bolsonaro?
A gente tem alguns �Brasis�. Um Brasil pol�tico-executivo, que, na minha opini�o, est� err�tico e excessivamente vol�til. Parece muito mais que a gente vai ter elei��o no m�s que vem do que j� tivemos uma no ano passado. Esse Brasil pol�tico, que n�o � t�cnico, est� criando uma volatilidade e um barulho grande e desnecess�rio. Tamb�m temos o Brasil t�cnico-p�blico, que � a equipe que o presidente Bolsonaro trouxe, com bons ministros e outros nem tanto. N�o d� para ter homogeneidade perfeita. Mas h� movimentos interessantes com a apresenta��o de um pacote de reformas que n�o se via desde 1988. Quanto ao setor privado do Brasil, existe perspectiva muito boa, que em certas �reas j� est� se materializando.
Esse lado err�tico pol�tico-t�cnico pode afetar essa agenda de reformas de alguma maneira?
Estamos mais na expectativa de esperar e rezar. No fim do dia, pode. Mas, a cada dia que passa, o risco � menor. Teve muita boataria de que Paulo Guedes iria sair, que Salim Mattar sairia. Mas vemos uma parte da equipe fazendo um trabalho muito bom, como o ministro da Infraestrutura, Tarc�sio de Freitas, e da Agricultura, Tereza Cristina.
Come�amos o ano com dois superministros: o juiz S�rgio Moro e o Paulo Guedes. Mas houve rumores de que eles perderam for�a ao longo do tempo. Como avalia esses movimentos?
Acho que o Guedes ainda tem uma aura. N�o conhe�o o Bolsonaro para saber o que passa. Talvez, de novo, haja muita boataria sobre o Guedes e o Moro, provocada por "for�as ocultas", que talvez coloquem mais lenha do que precisa. L� dentro no c�rculo duro n�o sei se existe essa tens�o. N�o vejo nenhuma diminui��o de for�a do Paulo Guedes. Os presidentes da C�mara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, est�o exercendo um papel primordial, de estadistas.
Como v� o pacote de privatiza��es do governo?
Assumindo que v�o colocar os ativos corretos, com pre�os corretos, acredito que haver� interessados. Com essa liquidez no mundo, acho que o Brasil vai ter sucesso. Se os ativos forem bons, ter�o investidores.
Quais ativos s�o mais cobi�ados? Fatias do BNDES?
BNDES, pelo que eles est�o falando, agora vai virar um banco de fomento de realidade, mais estrat�gico sob o ponto de vista de investimento. A carteira do BNDESPar n�o � para se segurar por tanto tempo. Tem posi��es muito grandes, e n�o s� de privatiza��o.
Quais s�o os outros ativos?
Infraestrutura. Destravaria o Brasil. Para o Brasil crescer 3% para cima, ou voc� arruma a infraestrutura ou n�o vai. E fazer as licita��es de forma correta. H� casos de licita��es estaduais, federais em que o indiv�duo d� um pre�o maior e depois fica colocando adendos. � o caso de Viracopos, que virou um imbr�glio. � importante entender como ser�o os editais. Tem de trazer operador. Ou cons�rcios que tenham investidor financeiro, mas tamb�m estrat�gico.
Estamos pavimentando o caminho para a volta de investidores estrangeiros ao Brasil?
Estamos criando condi��es precedentes. Vai ser um caminho f�cil? N�o. Est�vamos falando dos tr�s �Brasis�. Estamos no caminho certo, mas poderia ser menos tortuoso.
O Brasil tamb�m est� aprendendo a viver num cen�rio de juros baixos. Como isso pode melhorar o ambiente de neg�cios?
Em nenhuma gera��o a gente pegou esse cen�rio de juros. Isso vai fazer com que o investidor pense em coisas alternativas, v� para economia real. O reflexo mais imediato � Bolsa. Outro � mercado imobili�rio. Mas esse movimento atual mostra que o comprador de im�vel est� olhando o que pode pagar, diferentemente do passado, que tinha um movimento especulativo.
O sr. v� uma retomada mais lenta e gradual na economia?
Sinceramente, acho que estou muito velho e rodado para n�o querer mudan�as graduais. A melhor coisa que a gente pode ter na economia � um tijolinho ap�s o outro. Agora se fala no mundo de fintechs. Temos uma family office na Investment One Partners, em que a gente recebe muita proposta semanalmente. Quando se analisa com mais calma, a gente v� que as empresas n�o existem, s�o s� business plan. Tudo � fintech. Impressionante.
O sr. v� esse movimento como uma bolha que pode ser criada?
Pode ter uma bolha. O Brasil est� muito atr�s, comparado com o mercado externo, na digitaliza��o. Mas vieram alguns players aqui derramando dinheiro, fazendo due dilligences superficiais e tenho certeza de que vai dar confus�o. � irrevers�vel para onde a gente vai caminhar, mas tem de analisar os casos. N�o tenho receio do mundo digital. Meu receio � a velocidade da valoriza��o de ativos digitais, como as fintechs.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
Publicidade
ECONOMIA
'Fintechs podem virar uma grande bolha', diz Bernardo Parnes
Publicidade
