� frente de uma das maiores farmac�uticas do mundo, o executivo Theo Van der Loo participou de importantes decis�es quando estava no comando da Bayer no Brasil. Em voo solo, h� quase um ano e meio, prepara-se para voltar ao setor, desta vez como empres�rio no desenvolvimento e em pesquisas cl�nicas de medicamentos � base de cannabis (maconha) medicinal, j� usada para tratamento de epilepsia, autismo e esclerose m�ltipla.
Com uma carreira de mais de 30 anos na multinacional alem� fabricante da Aspirina, Van der Loo conhece bem a rota de como um medicamento � desenvolvido - investimentos bilion�rios, aliados a anos de pesquisas cl�nicas em princ�pios ativos que podem ou n�o se concretizar no lan�amento final de um rem�dio.
Agora, com o aval da Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa), que aprovou, por unanimidade, na ter�a-feira, a regulamenta��o do registro e da venda de medicamentos � base de cannabis em farm�cias e drogarias no Brasil, as regras come�am a ficar mais claras para investidores e ind�strias que colocam dinheiro neste neg�cio. A Anvisa vetou, contudo, o plantio da erva em territ�rio nacional no Pa�s para fins cient�ficos e medicinais.
Atualmente, medicamentos � base de canabidiol podem ser importados mediante prescri��o m�dica e autoriza��o da Anvisa. O canabidiol, tamb�m conhecido por CBD (com efeito relaxante), ao lado do THC (com efeito alucin�geno), s�o dois dos mais de 100 componentes da Cannabis sativa, nome cient�fico da maconha.
"Medicamentos � base de cannabis podem ajudar muita gente. Para pacientes com c�ncer, por exemplo, ajuda a estimular o apetite e aplacar a dor. Conforme houver mais pesquisa, mais pacientes ser�o beneficiados", ressalta Van der Loo, que fundou a startup NatuScience.
Com a aprova��o da Anvisa, investidores e empresas brasileiras veem a decis�o como um passo importante para a expans�o do neg�cio no Pa�s. Tamb�m � o caso da Entourage, que j� importa a planta para transformar em extrato concentrado e desenvolver formula��o de medicamentos para os pacientes. A empresa est� intensificando conversas com laborat�rios nacionais para fazer parcerias para lan�amentos de novos produtos no Pa�s.
Fundada em 2015 por Caio Abreu, advogado especializado em mercado de capitais, a Entourage pretende pedir autoriza��o da Anvisa no primeiro trimestre de 2020 para fazer ensaios cl�nicos no Brasil para tratamentos de epilepsia refrat�ria. Abreu explicou que a empresa tem em seu pipeline pesquisas para cinco outros tratamentos, como ansiedade e ins�nia.
A empresa j� investiu US$ 6 milh�es no neg�cio - tem uma importadora e um laborat�rio de centro de qualidade em Valinhos, interior de S�o Paulo. A importa��o da planta vem de pa�ses, como Col�mbia e Uruguai. "O que nos frustra � n�o poder plantar para fazer pesquisas no Brasil", disse Abreu.
J� Van der Loo n�o descarta fazer plantio no Pa�s, mesmo que tenha de entrar na Justi�a para isso. O empres�rio � s�cio no Uruguai, com um pool de outros investidores, de uma empresa que faz cultivo da cannabis para fins medicinais. A NatuScience, empresa fundada por Van der Loo, tamb�m vai entrar com pedido na Anvisa para fazer ensaios cl�nicos para novos tratamentos no Brasil.
Segundo o empres�rio, � preciso quebrar o preconceito que se tem em torno desse neg�cio. Van der Loo vai sair agora em busca de investidores para colocar sua empresa em p�. At� o momento, colocou dinheiro do pr�prio bolso para viabilizar a NatuScience.
Investidores
Criado em 2018 pelos executivos brasileiros Martim Mattos, vindo da Hypera (ex-Hypermarcas), Marcelo Marco Antonio, da fam�lia fundadora do Hospital S�o Luiz, e Fabio Furtado, herdeiro do grupo Grid (autope�as), o fundo Greenfield j� levantou R$ 140 milh�es para investir na cadeia de cannabis medicinal pelo mundo. Esses recursos est�o alocados no Canad�, pa�s com um marco regulat�rio aberto � cannabis. Metade desse valor j� foi investido em 13 empresas que atuam em plantio, extra��o, melhoria gen�tica da erva, distribui��o e desenvolvimento de medicamentos.
Uma dessas empresas do fundo Greenfield � Greencare, �nica do fundo instalada no Brasil e que faz a importa��o e distribui��o de medicamentos e tem um trabalho intenso junto � classe m�dica para difundir o tratamento. "S�o somente 1.200 m�dicos prescrevendo este tipo de medicamento no Brasil de um total de 450 mil. H� um trabalho muito grande a ser feito", diz Martim Mattos, presidente da GreenCare.
Ainda incipiente no Brasil, o mercado de cannabis medicinal tem capacidade de movimentar nos pr�ximos cinco anos entre R$ 4 bilh�es a R$ 6 bilh�es por ano, estima Caio Abreu, da Entourage. Atualmente, esse setor movimenta quase US$ 20 milh�es (R$ 85 milh�es) por ano. Os c�lculos de Abreu s�o com base na importa��o de medicamentos feitos por 8 mil pacientes brasileiros.
Esse novo mercado que se abre tamb�m come�a a ser organizar para ganhar legitimidade. Nos pr�ximos dias, uma parte das empresas que atua no setor vai anunciar Associa��o Brasileira Ind�stria de Cannabis para ganhar tamb�m voz. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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