
S�o Paulo – “Devolver com seguran�a o 737 Max ao servi�o � nossa principal prioridade.” Assim come�a o comunicado divulgado ontem pela fabricante de avi�es Boeing, numa clara tentativa de sensibilizar o p�blico e os investidores sobre a decis�o de deixar de fabricar temporariamente, a partir de janeiro de 2020, o modelo que transportava 346 pessoas que morreram depois de dois graves acidentes a�reos.
O 737 Max � produzido na unidade de Renton (Washington) e era considerado o modelo mais importante para a empresa, j� que desde o seu lan�amento gerou algumas dezenas de bilh�es de d�lares de vendas. H� nove meses, logo depois de acontecer o segundo acidente fatal, sua produ��o foi congelada.
Agora, com a decis�o de interromper temporariamente a produ��o, o impacto n�o deve ser apenas nas finan�as da gigante do setor a�reo, dona do controle da brasileira Embraer. Tamb�m � de esperar que haja um solavanco na economia americana, j� que a medida ir� reverberar nos fornecedores em todo o pa�s.
Para a centen�ria Boeing, n�o havia outra sa�da sen�o protelar a volta do 737 Max � linha de produ��o, j� que at� agora a empresa n�o conseguiu a aprova��o dos �rg�os reguladores globais para colocar esses avi�es no ar novamente.
“Essa decis�o � motivada por v�rios fatores, incluindo a extens�o da certifica��o at� 2020, a incerteza sobre o momento e as condi��es do retorno ao servi�o e as aprova��es globais de treinamento e a import�ncia de garantir que possamos priorizar a entrega de aeronaves armazenadas”, informou a Boeing em seu comunicado. “Continuaremos a avaliar nosso progresso em dire��o ao retorno ao servi�o.”
Por ora, a Boeing diz que poder� transferir seus trabalhadores da linha do 737 Max para outros projetos, ou que os pouparia das demiss�es. No entanto, essa decis�o n�o teria impacto na vida dos fornecedores. Maior exportadora de manufaturados dos EUA, a companhia tentar� gerenciar a interrup��o para os fornecedores. No entanto, at� agora a companhia n�o deu detalhes sobre como pretende colocar seu plano de p�.
Fornecedores
Uma das hip�teses � que a Boeing continue a aceitar a produ��o de pe�as de grandes fornecedores. Assim, seus estoques estariam preparados para a retomada e os fornecedores teriam condi��es de acelerar a produ��o sem muita demora. Mas essa possibilidade dificilmente abranger� a todos, por isso, � de se esperar que a perda de um grande contrato como o que essas empresas t�m com a Boeing ser� o fim de linha para parte delas.Gordon Johndroe, porta-voz da Boeing, tentou contornar a amea�a aos fornecedores, como declarou no comunicado: “Nosso objetivo continua sendo garantir a sa�de da cadeia de suprimentos e a estabilidade do sistema de produ��o, incluindo a prepara��o para uma transi��o cont�nua no futuro”. Como a fabricante n�o declarou estar planejando demiss�es significativas e seus fornecedores est�o espalhados por todo o territ�rio americano, � prov�vel que o impacto sobre a economia do pa�s leve algum tempo para ser sentido.
O fato � que bastou que a Boeing fizesse seu an�ncio ao mercado para que os efeitos colaterais come�assem a ser sentidos. Segundo o jornal The New York Times, as a��es da Spirit AeroSystems, que faz a fuselagem do Max, ca�ram quase 2% na segunda-feira. J� os pap�is da Boeing sofreram um trope�o superior a 4%.
A Boeing j� havia reduzido a produ��o na f�brica ap�s os acidentes com o 737 Max. Em abril, a empresa afirmou que reduziria o n�mero de avi�es 737 produzidos todos os meses de 52 para 42. O comunicado de ontem deixou vago quanto ao tempo que a f�brica Max ficar� inativa. A data de reabertura dever� estar condicionada � decis�o dos �rg�os reguladores de aprovar a volta ao servi�o do 737 Max.
Negocia��o
Uma das batalhas para conseguir essa aprova��o vem sendo tratada com o �rg�o Federal Aviation Administration (esp�cie de Anac dos EUA). As amarras est�o tanto na parte t�cnica quanto processual. Por isso, acredita-se que o737 Max poder� ficar no solo por um ano ou mais.
O resultado de embates como o travado com o �rg�o regulador americano levou a Boeing a repetidamente adiar a data prevista para o retorno ao servi�o do Max. Em outubro, um dos executivos da fabricante, Dennis A. Muilenburg, declarou que esperava pela aprova��o das aeronaves ainda em 2019. Na semana passada, por�m, Stephen Dickson, administrador da ag�ncia reguladora, disse que o Max n�o voaria at� 2020.
Dois dos clientes da Boeing, Southwest Airlines e United Airlines, adiaram os voos do 737 Max at� mar�o. A American Airlines foi mais longe e suspendeu a retomada do avi�o at� abril.
Apesar de as perdas para a Boeing serem inevit�veis, a decis�o de interromper a produ��o tem um lado bom. At� agora, a empresa construiu quase 400 Max que ainda n�o foram entregues. O processo de entrega de todos esses jatos levar� pelo menos um ano. Ao parar a fabrica��o, a companhia deixa de gastar dinheiro abarrotando seus estoques e ainda reduz o tempo que levar� para que toda a produ��o seja entregue aos clientes, diminuindo a ociosidade das aeronaves.
Em seu comunicado, a Boeing lembrou que havia declarado anteriormente que avaliava continuamente os planos de produ��o caso o Max continuasse em solo mais do que esperava. “Como resultado dessa avalia��o cont�nua, decidimos priorizar a entrega de aeronaves armazenadas e suspender temporariamente a produ��o no programa 737 a partir do pr�ximo m�s”, declarou.
Efeitos
A primeira vez que a Boeing cogitou que poderia interromper a produ��o do Max foi em julho. A empresa j� anunciou mais de US$ 8 bilh�es em encargos relacionados � crise, um n�mero que agora deve aumentar significativamente. Na semana passada, a Boeing chegou a um acordo parcial com a Southwest Airlines para compensar alguns dos custos decorrentes desse per�odo em que o modelo est� no solo.Para analistas, apesar de a Boeing ainda ter � sua disposi��o linhas de cr�dito e capacidade de contrair novas d�vidas, em algum momento ter� de parar de sangrar suas finan�as por causa do 737 Max. Os impactos cont�beis causados pela suspens�o da produ��o ser�o divulgados no final de janeiro, quando a fabricante tornar� p�blicos os resultados do quarto trimestre de 2019.
Ainda segundo o comunicado, a Boeing acredita que a decis�o de suspender a produ��o do modelo � menos impactante para a manuten��o da sa�de do sistema de produ��o e da cadeia de suprimentos a longo prazo. “Essa decis�o � motivada por v�rios fatores, incluindo a extens�o da certifica��o at� 2020, a incerteza sobre o momento e as condi��es do retorno ao servi�o e as aprova��es globais de treinamento e a import�ncia de garantir que possamos priorizar a entrega de aeronaves armazenadas. Continuaremos a avaliar nosso progresso em dire��o ao retorno aos marcos do servi�o e a tomar decis�es sobre a retomada da produ��o e entregas em conformidade”, acrescenta a nota da empresa.