
A Odebrecht abriu investiga��o interna para identificar eventuais delitos cometidos por Marcelo Odebrecht em meio � briga que trava com o pai, Em�lio, e os atuais executivos pelo comando do grupo, apurou o jornal Estado de S�o Paulo. Os resultados da investiga��o, aberta nos �ltimos dias e conduzida pelo escrit�rio Veirano Advogados, devem ser conhecidos em at� dois meses e ser�o entregues ao Minist�rio P�blico Federal (MPF) e ao Departamento de Justi�a (DoJ) dos EUA, onde Marcelo firmou acordo de dela��o premiada.
A investiga��o foi pedida pelo conselho de administra��o do grupo, por meio do comit� de conformidade do conglomerado, e tamb�m vai apurar eventuais irregularidades de executivos e ex-funcion�rios do grupo.
Uma das bases da investiga��o � um documento secreto, assinado pela Odebrecht e Marcelo no dia 16 de novembro de 2016, duas semanas antes do fechamento do contrato de leni�ncia do grupo e de 77 delatores com o MPF. No documento, em que as partes se obrigam a manter em sigilo por 20 anos e ao qual o jornal O Estado de S�o Paulo obteve acesso, Marcelo exigiu, como contrapartida ao aceite da dela��o, o recebimento de R$ 143 milh�es - al�m do pagamento da multa de indeniza��o, que foi de R$ 73,4 milh�es.
Deste total de R$ 216,4 milh�es, cerca de R$ 70 milh�es foram pagos por meio de um t�tulo de previd�ncia (VGBL) emitido pela seguradora Sul Am�rica em nome da mulher de Marcelo, Isabela, e de suas tr�s filhas. O pagamento aos familiares de Marcelo foi efetuado no dia 29 de novembro daquele ano, dois dias antes da assinatura final da leni�ncia da Odebrecht.
Pelas regras da dela��o, o colaborador � obrigado a revelar todo o seu patrim�nio. Segundo apurou o Estado, Marcelo n�o teria revelado o t�tulo de previd�ncia �s autoridades, o que configura uma viola��o da dela��o, uma vez que houve a transfer�ncia de recursos para familiares, condi��o tamb�m aceita pela Odebrecht.
Nos termos do acordo secreto, a Odebrecht alega que o acerto foi feito porque a dela��o de Marcelo era "imprescind�vel para a continuidade das atividades empresariais" do grupo.
Caso seja provada a viola��o, o acordo de dela��o premiada poder� ser rescindido. Na pr�tica, isso significa que o delator perde sua imunidade frente aos crimes praticados. Conforme estabelecem os termos da dela��o, os depoimentos, documentos e provas apresentados � Justi�a s�o mantidos. Marcelo Odebrecht foi condenado a mais de 30 anos de pris�o por crimes de corrup��o, mas o acordo de dela��o premiada reduz os efeitos da puni��o.
Outra linha investigat�ria, segundo apurou a reportagem, � a forma��o de um "poder paralelo" de executivos com fun��es duplas dentro de v�rias empresas do grupo Odebrecht, que estariam colaborando para municiar Marcelo com informa��es sobre o conglomerado. De acordo com uma fonte, a nova dire��o do grupo demitir�, at� janeiro, esses executivos.
A investiga��o apura tamb�m outras viola��es ao acordo de dela��o. Segundo apurou o Estado, Marcelo tamb�m mant�m contato com outros delatores, pr�tica vedada.
Procurado, Marcelo Odebrecht afirmou, por meio de sua assessoria, que "esta � mais uma atitude rancorosa e vingativa por parte de Ruy Sampaio (presidente executivo do grupo desde segunda-feira) em retalia��o � peti��o que rec�m- protocolei na PGR sobre o Refis da Crise e atos de obstru��o � Justi�a. Posso assegurar que, de minha parte, n�o existe nenhuma ilegalidade a ser ainda comunicada �s autoridades".
Na autodeclara��o entregue � PGR, Marcelo denuncia fatos contra seu cunhado Maur�cio Ferro, casado com M�nica Odebrecht, e que foi ex-vice-presidente jur�dico da companhia; al�m de Newton de Souza, ex-executivo do grupo, bra�o direito de Em�lio. A Odebrecht e o escrit�rio Veirano n�o comentaram o assunto.
Briga familiar preocupa
A briga entre pai e filho pelo poder do grupo Odebrecht, que est� em recupera��o judicial, se acentuou com a demiss�o por justa causa de Marcelo Odebrecht na sexta-feira, a pedido de Em�lio. O grupo alega que Marcelo foi exigindo mais recursos do que previamente combinado, fazendo amea�as aos executivos. Essa disputa acabou levando � troca de comando, com a sa�da de Luciano Guidolin e a entrada do novo presidente do grupo, Ruy Sampaio, na segunda-feira.
Homem de confian�a de Em�lio, Ruy Sampaio acusa Marcelo de chantagear e montar um esquema de extors�o dos atuais executivos em busca de "dinheiro e poder" para voltar ao comando do grupo.
A disputa fam�liar preocupa os credores da empresa, que entrou em recupera��o judicial, com d�vidas declaradas de R$ 55 bilh�es. O plano de reestrutura��o deve ser votado em janeiro. ]
'Houve um escalada de rancor e vingan�a por parte de Ruy Sampaio', diz Marcelo Odebrecht
Ap�s ser demitido ontem (20) da pr�pria empresa, por e-mail, Marcelo Odebrecht pediu � diretoria de compliance do grupo o afastamento do diretor presidente Ruy Sampaio, por viola��o de conduta. Em troca de mensagens com diretores da �rea de governan�a, obtida pelo ‘Estado’, o empres�rio afirmou que a medida � importante para ‘restabelecer a normalidade na condu��o dos neg�cios da empresa, neste momento de profunda gravidade’.
Segundo ele, por tr�s da demiss�o, est� sua decis�o de protocolar na Procuradoria Geral da Rep�blica (PGR) uma autodeclara��o sobre os temas divulgados na m�dia nos �ltimos dias. Para Marcelo, trata-se de uma retalia��o pessoal e caracteriza mais uma grave obstru��o � Justi�a. "Fica evidente que por causa da autodeclara��o houve esta escalada recente de rancor e vingan�a por parte de Ruy Lemos Sampaio."
No e-mail enviado � Olga Pontes, chefe de compliance da Odebrecht, Marcelo afirma que o executivo, na qualidade de diretor presidente da empresa, se utiliza de informa��es protegidas e entregues no �mbito do compliance e dos comit�s de �tica, a que teve acesso na condi��o de conselheiro, para tomar a��es contra o denunciante. "Essa viola��o representa, por si, afronta definitiva ao C�digo de Conduta da Odebrecht e � sua governan�a", o que justificaria seu afastamento.
A briga entre Marcelo e Sampaio se intensificou com a troca de comando da Odebrecht, no in�cio da semana. Luciano Guidolin, que estava � frente do grupo desde maio de 2017, foi substitu�do por Ruy Sampaio, desafeto de Marcelo e homem de confian�a de Em�lio, o patriarca da fam�lia Odebrecht.
Na quinta-feira, o vazamento de uma s�rie de e-mail de Marcelo azedou ainda mais o clima com seu pai. Nas mensagens, ele afirmava que Em�lio era o respons�vel pela recupera��o judicial da empresa. No dia seguinte, Sampaio concedeu entrevista e afirmou que Marcelo havia feito chantagem com o grupo para assinar o acordo de dela��o com o Minist�rio P�blico Federal. Em troca, teria recebido R$ 240 milh�es.
Nos e-mails enviado ontem aos diretores de compliance, Marcelo afirma que sua minuta de peti��o havia vazado na m�dia e, por isso, protocolou a autodeclara��o na PGR. "Ontem (quinta-feira) passei o dia inteiro tentando apagar o fogo que espalharam na m�dia. Miss�o quase imposs�vel com tanto incendi�rio querendo prejudicar a empresa, proteger seus pr�prios interesses e explodir rela��es familiares."
No fim do dia, Marcelo voltou a escrever para os diretores inconformado com as declara��es da empresa de que sua demiss�o havia sido definida pelos monitores externos independentes do Minist�rio P�blico Federal e do Departamento de Justi�a dos Estados Unidos (DoJ). "Acabei de saber pela imprensa que a empresa est� se posicionando dizendo agora que minha demiss�o foi por conta dos monitores. O que obviamente n�o condiz com o comunicado enviado diretamente por Ruy Sampaio hoje (ontem) cedo."
Marcelo completa ainda que o tema estava suspenso at� que "se avaliasse com o DoJ a quest�o da manipula��o dos meus relatos que a pr�pria empresa confirmou em carta assinada por meu pai (Em�lio), Newton de Souza, Adriano Juc� e Mauricio Ferro".
Para completar, o empres�rio diz ainda que h� mais de quatro ano n�o tem nenhum poder de direito ou de fato dentro da empresa, estando completamente afastado das decis�es e com dificuldade de obter informa��es necess�rias para a efetividade de seu acordo. "Hoje, na pr�tica, s� posso fazer o que qualquer cidad�o pode: expressar minha opini�o. O que acho que no fundo amedronta, � que todos sabem que na qualidade de colaborador, tendo assumido meus erros e com toda minha vida tendo sido devassada, me expresso sem amarras, comprometido apenas com a verdade e na busca do que � o certo."
E termina: "Vou continuar nessa linha, e s� indo a empresa pontualmente quando demandado, como fiz at� agora, tendo ido a� pontualmente e em apenas 11 ocasi�es desde que pude sair de casa em setembro, ao contr�rio do que procuram propagar".
Em nota, a Odebrecht, por sua vez, informou que o Conselho de Administra��o da empresa acatou a recomenda��o dos monitores do MPF e do DOJ dos EUA. "A decis�o de demiss�o, portanto, foi do Conselho de Administra��o, composto por cinco membros, dos quais tr�s independentes", informou o grupo.
