
S�o Paulo – Depois de subir 11,5% nos postos de combust�veis, maior aumento de pre�o desde 2015 – para a alegria dos empres�rios do setor –, o mercado brasileiro de etanol dever� registrar um crescimento importante da produ��o e da produtividade.
Pelos c�lculos da Uni�o da Agroind�stria Canavieira do Estado de S�o Paulo (Unica), que representa as usinas. a safra deste ano vai superar os 590 milh�es de toneladas, 3% acima dos 573,2 milh�es de 2018/2019. Detalhe: a produ��o ser� ampliada mesmo com uma �rea 2% menor – gra�as � melhor produtividade das lavouras, com a incorpora��o de novas tecnologias, e do clima favor�vel. Com isso, o ano deve quebrar um recorde hist�rico, com cerca de 35 bilh�es de litros, mais de 7% de crescimento – sendo aproximadamente 10 bilh�es de anidro e 25 bilh�es de litros de hidratado.
“A ind�stria sucroalcooleira vive um momento de grande oportunidade, com cen�rio positivo para investimento, demanda global crescente e aumento significativo do consumo interno”, afirma o economista Paulo Ven�ncio, especialista em biocombust�veis da Funda��o Getulio Vargas (FGV).
Biocombust�veis
Soma-se a esse cen�rio o RenovaBio, pol�tica de incentivo espec�fica para o mercado de biocombust�veis. Com ele, os produtores que adotarem as boas pr�ticas receber�o uma esp�cie de pagamento pelos servi�os ambientais.
De acordo com a Ag�ncia Nacional do Petr�leo (ANP), o RenovaBio vai gerar benef�cios e novos investimentos ao produtor e fomentar� o seu interesse em produzir mais. “O programa representa um grande marco para o setor sucroenerg�tico do pa�s”, afirma o economista Miguel Ivan Lacerda de Oliveira, diretor do Departamento de Biocombust�veis do Minist�rio de Minas e Energia (MME). “O RenovaBio surge como uma grande oportunidade de mais gera��o de renda nas regi�es produtoras.”
Segundo pesquisadores do Centro de Estudos Avan�ados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, o RenovaBio ser� o grande motor do desenvolvimento do setor neste ano. As principais companhias do setor, como Ra�zen, Cofco, Amaggi, S�o Martinho e Bonsucro, que certifica 4% da �rea de cana no mundo, est�o ampliando seis investimentos em produ��o de etanol, inclusive feita a partir do milho. O pa�s come�ou o ano com oito f�bricas em funcionamento e seis em constru��o, mas possui outras 10 f�bricas em fase de projetos.
Incentivo
Na avalia��o do economista Pl�nio Nastari, CEO da Datagro Consultoria e representante da sociedade civil no Conselho Nacional de Pol�tica Energ�tica no MME, a cria��o de uma pol�tica de incentivo ao setor, com foco em prote��o ambiental, dar� um grande impulso ao setor dentro e fora do pa�s. “Nas metas de descarboniza��o estar�o os ganhos do setor. Desde 1975, nunca houve uma refer�ncia que indicasse a dire��o da produ��o de biocombust�veis do Brasil. Agora temos”, afirma Nastari. “O RenovaBio � muito importante para o pa�s porque vai nortear os investimentos.”
Atualmente, o setor sucroenerg�tico brasileiro conta com 444 usinas, que respondem por um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 156 bilh�es, segundo o dado mais recente do Cepea. As cifras, no entanto, podem ser muito maiores. Existem 90 usinas em recupera��o judicial, afetadas por problemas de gest�o ou pela pol�tica de controle de pre�os da gasolina nos �ltimos 15 anos – que resultou, principalmente, na perda de competitividade do etanol e gerou endividamento excessivo das empresas.
Trilh�es
Para o MME, no entanto, h� um horizonte positivo para as empresas do setor e para o etanol. Com o RenovaBio, em 10 anos essa pol�tica pode adicionar cerca de R$ 1,2 trilh�o na economia do pa�s. “Para se ter uma ideia, o Pr�-Sal inteiro n�o vai gerar mais do que R$ 500 milh�es no PIB brasileiro”, diz Oliveira, do MME. Mais de 170 empresas produtoras j� se inscreveram para participar do RenovaBio. A meta � retirar cerca de 170 milh�es de toneladas de CO2 da atmosfera.
Outro ponto que deve favorecer o esperado crescimento do mercado brasileiro de etanol � a possibilidade do uso de outras mat�rias-primas, al�m da cana-de-a��car, para a produ��o de etanol, como o milho. Nos c�lculos da Unica, o etanol de milho deve alcan�ar uma produ��o de 1,5 bilh�o de litros neste ano, um aumento de 90% acima dos quase 800 milh�es da safra anterior. Agentes do setor estimam aumento expressivo da produ��o de biocombust�vel a partir desse cereal, podendo ultrapassar de 10% do total nacional nos pr�ximos dois anos.
Pesquisadores do Cepea apontam que, em Mato Grosso, principal estado que produz etanol de milho, das 15 usinas existentes no estado, tr�s s�o flex (utilizam cana e milho na produ��o de etanol) e duas s�o dedicadas � produ��o de etanol do cereal. Em breve, algumas usinas mato-grossenses tamb�m devem passar a processar o milho, enquanto outras devem ser constru�das especialmente para o processamento desse cereal.
Competitividade
Tra�ado o cen�rio de aumento da produ��o, do consumo e dos investimentos, o pre�o do etanol deve continuar competitivo relativamente � gasolina nos estados que concentram a maior parte da produ��o e consumo nacional. Pesquisadores do Cepea afirmam que quando h� um aumento da renda, o consumo de combust�vel tende a subir pela maior aquisi��o de autom�veis e expans�o do uso da frota existente. Um exemplo disso � a alta das negocia��es de etanol hidratado em S�o Paulo na semana passada, segundo informa��es do Cepea. Algumas distribuidoras retomaram as compras, mas encontraram vendedores firmes, elevando as cota��es.
Entre 6 e 10 de janeiro, o Indicador Cepea/Esalq do etanol hidratado (pre�o ao produtor) fechou a R$ 2,0679/litro (sem ICMS e sem PIS/Cofins), eleva��o de 1,1% em rela��o ao da semana anterior. No caso do etanol anidro, o indicador foi de R$ 2,2563/litro (sem PIS/Cofins), alta de 1,55% no mesmo comparativo. “Obviamente, a an�lise sobre o consumo de etanol no primeiro trimestre de 2020 precisa ser ponderada pelas perspectivas para petr�leo e para o c�mbio brasileiro. Espera-se relativa estabilidade nas cota��es do petr�leo ao longo do per�odo analisado, ao passo que o c�mbio brasileiro trace tend�ncia de queda”, informou a consultoria INTL FCStone em relat�rio.
"Nas metas de descarboniza��o estar�o os ganhos do setor. Desde 1975, nunca houve uma refer�ncia que indicasse a dire��o da produ��o de biocombust�veis do Brasil. Agora temos. O RenovaBio � muito importante para o pa�s porque vai nortear os investimentos "
Pl�nio Nastari, CEO da Datagro Consultoria
Amea�a pode vir de fora
O �nico sinal de alerta para as empresas do setor tem sido uma poss�vel redu��o das exporta��es. A Ag�ncia de Prote��o Ambiental Americana (EPA, na sigla em ingl�s) reduziu sua proje��o de importa��o do biocombust�vel brasileiro produzido a partir da cana-de-a��car neste ano em raz�o da necessidade de uso de biocombust�veis mais avan�ados.
A proje��o atual � que apenas 60 milh�es de gal�es de etanol brasileiro sejam importados em 2020, o que corresponde a somente uma pequena parte do total de biocombust�vel avan�ado a ser utilizado (5,04 bilh�es de gal�es) pela frota americana.
A cota espec�fica para bicombust�veis celul�sicos deve crescer um pouco, passando de 420 milh�es de gal�es de 2019 para 540 milh�es de gal�es em 2020. Algumas usinas brasileiras, que produzem etanol a partir de baga�o, t�m a possibilidade de atender a parte dessa demanda.
Hoje, aproximadamente 85% do etanol no mundo � consumido pelos Estados Unidos, pela Uni�o Europeia e pelo Brasil – outros 60 pa�ses j� introduziram o etanol em sua matriz energ�tica.