
S�o Paulo – Os especialistas em empreendedorismo e em inova��o costumam dizer que uma das formas de chegar a um bom produto � procurar identificar as demandas n�o atendidas, ou seja, as dores dos potenciais consumidores.
No caso de Eduardo Carone, a ideia de criar a Atlas veio de uma necessidade pessoal. O empreendedor tem em seu curr�culo a participa��o em 23 conselhos de administra��o de grandes empresas. Em um deles aconteceu um problema grave: numa das reuni�es, foi aprovada a contrata��o do seguro de responsabilidade civil para os conselheiros. A decis�o constou em ata, mas seis meses depois houve um problema na companhia e um juiz decretou o bloqueio de R$ 500 mil das contas dos conselheiros. Foi preciso recorrer � Justi�a para reverter a situa��o.
O caso mostra que muitas vezes os conselheiros n�o acompanham se as decis�es foram implementadas. Carone decidiu investir em um software, batizado de Atlas Governance, que torna todos os assuntos e decis�es de diferentes tipos de conselho – como administra��o e fiscal – digitais.
Com a ferramenta, o conselheiro consegue acessar os conte�dos de qualquer dispositivo, em qualquer momento ou local, acompanhar as implementa��es das decis�es, monitorar o que n�o foi colocado em pr�tica e ser informado sobre o agendamento de reuni�es. “Na �poca em que a solu��o come�ou a ser desenvolvida, pensei que se n�o tivesse nenhum cliente ao menos ela serviria para mim”, recorda.
A automatiza��o da gest�o de conselhos e comit�s absorveu em um primeiro momento cerca de R$ 1,5 milh�o, aportados por Carone. Em uma nova rodada, um valor semelhante foi aportado por um grupo formado por 21 investidores. Entre eles, constam nomes como Leonardo Pereira (ex-presidente da Comiss�o de Valores Mobili�rios), Wilson Amaral (ex-CEO da Gafisa), Paulo Camargo (CEO do McDonald's Am�rica Latina), Diego Stark (executivo do fundo Southern Cross) e Julio Sergio Cardozo (ex-CEO da Ernest & Young).
A plataforma de governan�a corporativa foi fundada h� dois anos. Apesar do pouco tempo de mercado, j� � l�der no segmento em n�mero de empresas atendidas e em quantidade de conselheiros usu�rios. Em faturamento, no entanto, duas multinacionais aparecem na frente da Atlas. Entre os cerca de 100 clientes est�o Shopping Iguatemi, Riachuelo, CVC Turismo, CCR Rodovias, Cyrela, Even, Banco Carrefour, Usina BeloMonte e Gasoduto Brasil Bol�via.
A expans�o r�pida contou com uma ajuda importante. Enquanto os concorrentes t�m contratos em d�lar, a empresa de Carone cobra em moeda local. Segundo o empreendedor, o potencial � grande. S�o pelo menos 120 mil CNPJs que t�m caracter�sticas para usar esse tipo de servi�o.
Expans�o
Atualmente, a Atlas atende a 10% das empresas listadas em bolsa. Sua �rea de atua��o pode vir a incluir ainda cooperativas – s�o cerca de 8 mil no pa�s –, associa��es, sindicatos, ONGs e oscips. S� o total de organiza��es sem fins lucrativos com arrecada��o superior a R$ 25 milh�es por ano passa de 80 mil. Em 2019, as vendas da Atlas chegaram a R$ 3 milh�es e a expectativa para 2020 � ter vendas adicionais de R$ 10 milh�es. Carone avalia que outros fatores pesam no crescimento do mercado em que a Atlas atua.
“Quando se fala em governan�a e compliance, s�o mercados com tend�ncia crescente de aten��o por conta dos problemas de corrup��o e de desvio de recursos. Com a Lava- Jato, den�ncias envolvendo a Petrobras, por exemplo, todo o mercado avalia que precisa ter governan�a e compliance mais fortes”, explica.

''Lan�amos o software com determinadas caracter�sticas, mas a pr�pria demanda dos clientes o alimenta e leva a novas funcionalidades''
Eduardo Carone, fundador da Atlas
Transpar�ncia
No caso de situa��es como a trag�dia de Brumadinho (MG) em uma unidade da Vale, a percep��o nas empresas sobre o aumento dos cuidados com a governan�a � a mesma. “Sem essas ferramentas, a exposi��o � gigantesca, porque os conselheiros podem simplesmente n�o ter identificado e mitigado enormes riscos que as empresas correm”, explica o empres�rio. Em momentos como esses, segundo Carone, “as empresas olham para dentro e pensam que poderia ter acontecido com elas.”
Grande parte do crescimento dos �ltimos anos tem a ver com empresas que querem ter governan�a e transpar�ncia maiores com o mercado. Esse comportamento tem rela��o, na opini�o de Carone, com uma maturidade maior nos neg�cios.
Para atingir o crescimento nas vendas em 2020, Carone trabalha com a expectativa de iniciar a internacionaliza��o dos neg�cios na Am�rica Latina em mercados como M�xico, Col�mbia, Argentina e Chile. Para isso, a Atlas dever� passar por mais uma rodada de investimentos, com aporte estimado entre R$ 1 milh�o e R$ 2 milh�es, na metade do ano. A decis�o de expandir a opera��o surgiu da demanda de clientes que j� s�o atendidos no Brasil, mas t�m neg�cios na regi�o. Para 2022, o empreendedor espera chegar aos Estados Unidos.
Demanda
Algumas das solu��es que fazem parte do software da Atlas sugiram da demanda dos clientes. Por exemplo, a necessidade de restringir o acesso a algumas informa��es das empresas. � o caso de conselheiros que t�m participa��o em diferentes companhias e que podem estar em uma situa��o em que haja conflito de interesse.
“Por exemplo, um conselheiro da Vale indicado pela Bradespar n�o pode votar em uma mat�ria sobre quem vai fazer um financiamento”, exemplifica. Hoje em dia, recursos da ferramenta da Atlas possibilitam classificar uma pauta como restrita e impedir o acesso por esse ou aquele integrante do conselho. “Lan�amos o software com determinadas caracter�sticas, mas a pr�pria demanda dos clientes o alimenta e leva a novas funcionalidades.”
Atualmente, segundo Carone, a maior parte das empresas com pelo menos 100 funcion�rios tem ao menos um conselho consultivo. Mas a varia��o de conselhos vai al�m: fiscal, comit� de recursos humanos, comit� de auditoria, comit� financeiro, comit� de partes relacionadas e comit� estrat�gico.
Mas a ades�o grande aos conselhos n�o significa necessariamente que haja uma modernidade nos processos. H� empresas que ainda encadernam os livros das atas. Carone explica que em muitas delas essa parte do neg�cio � a �ltima etapa anal�gica a sobreviver. Al�m disso, a maior parte dos conselheiros � mais experiente. Portanto, menos acostumada a ferramentas tecnol�gicas. A idade m�dia desses profissionais � de 56 anos, segundo o presidente da Atlas, mas h� caso de centen�rios na ativa.
Seguran�a
Softwares usados pelas empresas em seus conselhos, como o da Atlas, podem n�o apenas criar calend�rios de eventos e fazer a gest�o de agendas, mas garantir a seguran�a das informa��es. Carone explica que hoje � poss�vel colocar marcas d’�gua nos documentos e saber quem baixou um arquivo, em que dia e hora. A ferramenta ‘dedo-duro’ permite rastrear alguma tentativa de vazamento de informa��es confidenciais e at� quem simplesmente n�o fez o dever de casa e deixou de consultar as informa��es do livro digital.
A digitaliza��o das tarefas garante ainda mais praticidade para os conselheiros. H� livros que chegam a ter 300 p�ginas que precisam ser lidas em um m�s. “Carregar as vers�es impressas n�o � nada pr�tico. Com o software, voc� l� tudo em um tablet e faz buscas como se fosse o Google, porque est� tudo indexado.”
