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Estado de Minas POL�MICA DA QUARENTENA

Entre manter o isolamento e priorizar a economia, gripe espanhola d� li��es ao mundo

Estudo feito por pesquisadores do BC dos EUA mostra que boa parte das cidades onde a quarentena vigorou em 1918 tiveram recupera��o mais r�pida do emprego ap�s a pandemia


postado em 13/04/2020 04:00 / atualizado em 16/04/2020 19:20

(foto: Quinho)
(foto: Quinho)

Isolar-se ou n�o? Manter o com�rcio fechado ou reabrir as empresas? Poupar vidas ou empregos? Em meio �s incertezas geradas pela pandemia do novo coronav�rus, s�o esses grandes questionamentos ao redor do mundo. No Brasil, as duas vertentes t�m nome e sobrenome: Luiz Henrique Mandetta e Jair Bolsonaro. O ministro da Sa�de � defensor do isolamento horizontal; ou seja, aquele que ret�m pessoas de todas as faixas et�rias dentro de casa. Por outro lado, seu superior j� relatou v�rias vezes a preocupa��o com a economia, criticando as teses do subordinado.

 

No entanto, h� estudos com base em indicadores que acompanharam a hist�ria da evolu��o da economia que indicam qual � o caminho mais vantajoso. Pesquisa feita por integrantes do Banco Central dos Estados Unidos – o Federal Reserve (Fed) – e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) aponta que os estados e cidades norte-americanos que adotaram medidas de isolamento mais rapidamente durante a gripe espanhola, em 1918, conseguiram se recuperar, do ponto de vista das atividades econ�micas, antes daqueles territ�rios que retardaram as pr�ticas. O artigo “Pandemias deprimem a economia, interven��es em sa�de p�blica n�o: Evid�ncias da gripe de 1918”foi publicado inicialmente em 26 de mar�o.

 

Para chegar a essa conclus�o, os pesquisadores Sergio Correia, Stephan Luck e Emil Verner levaram em considera��o a evolu��o na mortalidade nas cidades e estados durante a pandemia de 1918. Assim, eles perceberam que boa parte dos territ�rios analisados que apresentaram as menores taxas de mortalidade na �poca tamb�m foram os que registraram os maiores aumentos no n�mero de empregos ap�s a pandemia. Al�m disso, eles notaram que as cidades e estados que mais conseguiram controlar os �bitos foram aquelas que adotaram, primeiro, medidas n�o farmac�uticas (NPIs, em ingl�s), de forma mais agressiva.
 

Os estudiosos consideram NPIs medidas como o fechamento de escolas, teatros e igrejas, al�m do banimento de aglomera��es. Tamb�m fazem parte da lista o isolamento de casos, fazendo com que a pandemia seja uma doen�a notific�vel, a higieniza��o de locais p�blicos e a determina��o de uso de m�scaras de prote��o. De acordo com a metodologia da pesquisa, os estudiosos definiram como velocidade da NPI o n�mero de dias entre o momento no qual a taxa de letalidade semanal excedeu duas vezes a m�dia geral de influenza e pneumonia e quando a NPI � ativada.

 

Logo no in�cio do estudo, os autores refor�am que � inevit�vel queda acentuada da economia em tempos de pandemia. Em 1918, segundo os especialistas, a estimativa � de que a gripe espanhola tenha reduzido a produ��o industrial dos Estados Unidos em 18%. Contudo, segundo o estudo, as cidades que reagiram 10 dias antes da chegada da pandemia registraram aumento de 5% no n�mero de empregos industriais at� 1923. Al�m disso, as cidades que tomaram medidas NPIs 50 dias antes, registraram eleva��o de 6,5%.

 

Velocidade d� o tom


A cidade que mais se destacou, com isolamento mais prolongado e, consequentemente, registrando menos mortes e mais empregos no final da pandemia, foi Seattle. A maior cidade do estado de Washington ficou cerca de 170 dias com as NPIs ativadas e registrou acr�scimo de aproximadamente 1,2% nos empregos no per�odo entre 1914 e 1919. Atr�s de Seattle, ficaram Oakland (127 dias e 1,1%), Portland (162 e 1%), Omaha (140 e 1%) e Los Angeles (154 dias e 0,7%). Essas cidades tamb�m s�o as que se destacam quanto � velocidade com que os governos tomaram as medidas de isolamento.

(foto: Divulgação/Bruno Medeiros)
(foto: Divulga��o/Bruno Medeiros)

 

Por outro lado, cidades que n�o ficaram com as NPIs ativadas por longo tempo n�o registraram aumento consider�vel no n�mero de empregos. A capital do estado de Minnesota, Saint Paul, ficou 28 dias isolada e teve um aumento de 0,15% na taxa de emprego. Al�m dela, Lowell ficou dois meses no isolamento e quase que n�o registrou aumento. Por fim, a Philadelphia ficou 51 dias com restri��es e registrou ligeira eleva��o de cerca de 0,1%.

 

H� tamb�m cidades que adotaram as medidas rapidamente, mas n�o obtiveram resultado positivo na taxa de empregabilidade, se comparada �s outras cidades. Nova Iorque, por exemplo, foi a cidade que teve maior agilidade na ado��o das NPIs, contudo, ficou somente cerca de 70 dias com as medidas ativadas. O resultado: a metr�pole mais famosa dos EUA ficou praticamente numa situa��o de estagna��o do emprego.

 

N�o h� receita m�gica

 

O professor de economia da Universidade de Zurique, Guilherme Lichand, avalia que a pesquisa do FED n�o pretende fixar a ideia de que o isolamento, necessariamente, acarretar� o aumento da produ��o industrial no futuro, mas serve como um alerta para as administra��es p�blicas. “Isso n�o � uma receita m�gica. � como se eu fizesse um bolo: no meu forno, se eu seguir a receita direitinho, colocar fermento, farinha e ovo vai sair o bolo sempre do mesmo jeito. Mas, no caso de pol�tica p�blica, � como se eu estivesse cozinhando no fog�o do outro; nunca sei direito como que �, o bolo pode queimar. Mas o que o estudo mostra � que se voc� n�o colocar fermento, o bolo n�o vai sair direito”, explica o professor.

 

''O grande valor desse estudo � mostrar que olhar s� para o curto prazo � enganoso. Voc� tem que pensar em tr�s anos''

Guilherme Lichand, professor de economia da Universidade de Zurique

Lichand considera que o estudo ainda pode influenciar as medidas financeiras sociais dos governos mundiais em meio � COVID-19. Isso, porque o levantamento hist�rico daria uma base para os administradores p�blicos, e os ajudariam a ficar menos receosos em criar fundos enormes para financiar os setores mais afetados pela pandemia.

 

“O grande valor desse estudo � mostrar que olhar s� para o curto prazo � enganoso. Voc� tem que pensar em tr�s anos. Isso � cr�tico porque cada medida que o governo fa�a agora para mitigar significa pegar dinheiro do futuro. Ent�o, para pegar dinheiro emprestado do futuro, precisa ter crescimento no futuro. O que a gente aprende com esse estudo � que, se formos firmes agora, o governo fica mais confiante para tomar medidas financeiras”, afirma.

 

Para o professor da Escola Brasileira de Administra��o P�blica e de Empresas da Funda��o Getulio Vargas (Ebape/FGV), Istv�n Kasznar, a conclus�o do estudo do FED e do MIT faz sentido e est� correta. “Quando a popula��o se isola, ela se salva. A base econ�mica vai se preservar e a economia pode voltar a se expandir depois. Quanto mais r�gido � o isolamento, mais r�pido se sai da crise”, argumenta.

 

Na avalia��o de Kasznar, al�m de preservar a sa�de das pessoas com o isolamento, � preciso dar aten��o especial �s micro e pequenas empresas, assegurando o cr�dito para esses empreendimentos. Segundo o professor, as empresas desse porte empregam a maior parte da popula��o brasileira. Por isso, a sobreviv�ncia delas t�m um forte impacto no consumo, que � um dos motores da recupera��o.


''Quanto mais r�gido � o isolamento, mais r�pido se sai da crise''

Istv�n Kasznar, professor da Escola Brasileira de Administra��o P�blica e de Empresas da Funda��o Get�lio Vargas


Sobre a oposi��o entre preservar a sa�de ou a renda das pessoas, que dominou as discuss�es pol�ticas no Brasil, o professor da FGV pensa que isso n�o faz sentido. “� uma fal�cia afirmar que h� isolamento total. Existem as necessidades vitais, que continuam funcionando, como a rede hospitalar, a rede el�trica, abastecimento de �gua, transportes”. No c�lculo de Kasznar, 32% do PIB brasileiro est�o em opera��o durante a crise. O restante � composto principalmente de servi�os, que apesar de importantes, podem ficar parados por um tempo, como a educa��o e o turismo.

 

Kasznar afirma que a economia brasileira vai assumir uma posi��o “defensiva”, produzindo o que � essencial, e por isso n�o vai crescer durante a crise. Ele avalia que a economia brasileira “vai sair dessa mas com a pior concentra��o de resultados dos �ltimos 100 anos”. Isso porque, na avalia��o do professor, alguns setores v�o ser muito prejudicados, como a ind�stria automobil�stica, empresas a�reas, de manufaturados e at� a agricultura, se os produtores n�o tiverem acesso a cr�dito. Por�m, ao mesmo tempo, outras atividades v�o sair da pandemia muito fortalecidas. � o caso das telecomunica��es, servi�os de venda on-line, supermercados, farm�cias e operadoras de planos de sa�de.

 
Sem paralelo

 

Quanto � atua��o da equipe econ�mica do governo federal para conter os efeitos do coronav�rus, Kasznar afirma que a dire��o est� correta, mas ainda � “t�mida”. Segundo o professor, o Minist�rio da Economia e o Banco Central j� anunciaram R$ 1,2 trilh�o em medidas de prote��o � economia, mas ele calcula que seria necess�rio o dobro desse valor: R$ 2,4 trilh�es. “Isso � assustador. Como o ministro Paulo Guedes pode chegar ao Congresso e falar que precisa gastar essa quantia? Ent�o � preciso paci�ncia com a equipe, j� que a COVID-19 n�o tem paralelo na hist�ria”, conclui.

 

O professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) especializado em hist�ria da economia, M�rio Rodarte, diz que o passado mostra que pandemias t�m o potencial de colapsar o sistema econ�mico vigente de uma �poca. Rodarte afirma que a peste negra, que teve seu pico em 1348 e provocou entre 75 e 200 milh�es de mortes, contribuiu para o fim do feudalismo, o sistema econ�mico da Europa durante a Idade M�dia. J� a gripe espanhola de 1918, na an�lise do professor, se somou � Primeira Guerra Mundial para tirar a Inglaterra da posi��o de pa�s hegem�nico da economia mundial.

 

Questionado se a pandemia atual de coronav�rus pode ter um impacto t�o grande na economia global do s�culo 21, M�rio Rodarte afirma que essa � uma quest�o que ainda est� para ser respondida. “� muito dif�cil aferir para que lado as coisas v�o, e se elas v�o mudar mesmo. Isso porque a pandemia pode acelerar processos que j� estavam em andamento e em outro sentido questionar a ordem econ�mica vigente”, diz. Segundo o professor, j� se discute poss�veis mudan�as provocadas pela COVID-19 na economia global. Uma delas seria a acelerar a consolida��o da China como maior economia do mundo, o que tiraria o posto dos Estados Unidos. 

* Estagi�rios sob a supervis�o da subeditora Marta Vieira


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